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Renato Sérgio Balão Cordeiro ingressou no IOC como estudante em 1967, atuando junto ao renomado pesquisador Haity Moussatché. Três anos depois, o Massacre de Manguinhos separou mestre e aluno, afastando ambos do IOC por mais de uma década. Com a reintegração dos cassados, Sergio Arouca e Moussatché trouxeram Renato de volta, para ajudar a reconstruir as pesquisas em farmacologia e famacodinâmica no Instituto, junto com uma nova safra de pesquisadores. Atual presidente do Conselho Nacional de Controle da Experimentação Animal (Concea), vinculado ao Ministério da Ciência e Tecnologia, Renato ocupou os cargos de vice-presidente de Pesquisa e Ensino da Fundação entre 1997 e 2001 e de Diretor do IOC de 2001 a 2005.

“A cassação de Haity Moussatché e de outros nove cientistas de Manguinhos, registrada no livro de Hermam Lent 'O Massacre de Manguinhos e a corajosa reintegração dos pesquisadores, em 1986, pelo saudoso Sergio Arouca, foram dois momentos de muita emoção e impacto para a instituição e para a comunidade científica brasileira. As duas datas serviram como marcos fundamentais da luta da ciência brasileira pela liberdade de expressão e da resistência contra o autoritarismo irracional.

Decreto do Regime Militar, publicado no Diário Oficial de 2 de abril de 1970, atingiu dez dos cientistas mais importantes da instituição: Haity Moussatché, Hermam Lent, Tito Cavalcanti, Fernando Ubatuba, Sebastião Oliveira, Augusto Perissé, Hugo de Souza Lopes, Moacyr Andrade, Massão Goto e Domingos Machado. Todos tiveram seus direitos cassados por dez anos, foram drasticamente aposentados, compulsoriamente obrigados a abandonar seus laboratórios e impedidos de exercer sua profissão.

Eu e os outros estudantes da Divisão de Fisiologia e Farmacodinâmica fomos imediatamente expulsos dos laboratórios. Vários pesquisadores e técnicos foram distribuídos por outras instituições, como os doutores Mario Vianna Dias, Charles Esberard, Ivan Caldas Marins, Junia Peixoto, José Lopes Quadra, Marise Jurberg e Chico Trombone. Muitas pesquisas foram drasticamente interrompidas, sonhos e carreiras foram destruídos. O Brasil sentiu o impacto de ver o Instituto Oswaldo Cruz, templo da ciência nacional, esfacelado pelo nepotismo.

Moussatché foi para a Venezuela, onde fez um extraordinário trabalho de investigação e de formação de recursos humanos na Universidade Centro Ocidental, em Barquisimeto. Indicado por ele, fui para a Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, trabalhar e fazer o Doutorado no departamento de farmacologia, chefiado por Maurício Rocha e Silva.

No dia 5 de agosto de 1986, houve o reencontro e o retorno à nossa instituição, com a belíssima e emocionante solenidade para reintegração dos cientistas cassados pela ditadura militar, promovida pelo presidente da Fiocruz, Sergio Arouca. Convidado por Arouca e Moussatché, retornei à Fiocruz com meu grupo, com a finalidade de ajudar a renascer das cinzas nossa “fênix”, o Departamento de Fisiologia e Farmacodinâmica. Trabalhei junto com Tito Cavalcanti, Chico Trombone, o discípulo venezuelano de Moussatché, Jonas Perales, os “netos científicos” de Haity, Marco Aurélio Martins, Patricia Machado Rodrigues e Silva, Maria das Graças Muller Oliveira Henriques, Marcia Coronha, Claudia Zuang Amorin, Hugo Caire Castro Faria Neto, Patricia Bozza e vários estudantes.

Moussatché continuou na bancada até os últimos dias de sua vida, publicando e orientando seus alunos e nos deixou no dia 24 de julho de 1998, aos 88 anos de idade.”

Fotos
Manuscrito

 

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