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O papel de crianças na transmissão do novo coronavírus

Estudo realizado em famílias de Manguinhos aponta que os pequenos de zero a 13 anos são mais frequentemente infectados por adultos do que atuam como transmissores
Por Jornalismo IOC12/05/2021 - Atualizado em 01/10/2021

Um estudo liderado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) traz novos dados sobre o papel das crianças nas dinâmicas de transmissão do novo coronavírus. Após acompanhar moradores do bairro de Manguinhos, no Rio de Janeiro, por cinco meses, pesquisadores identificaram que as crianças não parecem ser fonte de infecção nas famílias, sendo mais frequentemente infectadas pelos adultos.

De acordo com os cientistas, os achados sugerem que, em localidades com condições semelhantes, creches e escolas podem ser reabertas com segurança, se forem adotadas medidas adequadas para mitigar a transmissão da Covid-19 e a equipe estiver devidamente imunizada. "Em ambientes com poucos recursos, isso é crítico porque o acesso às aulas online permanece muito limitado”, afirmam os pesquisadores na conclusão do estudo.

pesquisa foi publicada na revista científica internacional ‘Pediatrics’.Coordenado pelo Laboratório de Pesquisa Clínica em Doenças Febris Agudas do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI/Fiocruz), o estudo contou com a colaboração do Laboratório de Vírus Respiratórios e do Sarampo do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, e London School of Hygiene and Tropical Medicine, no Reino Unido.

Resultados do trabalho
Desenvolvida entre maio e setembro de 2020, a pesquisa realizou uma série de testes para identificar a infecção pelo coronavírus em crianças e seus contatos domiciliares. Ao todo, foram acompanhados 667 participantes em 259 domicílios do bairro de Manguinhos. Destes, 323 eram crianças (de 0 a 13 anos), 54 adolescentes (14 a 19 anos) e 290 adultos.

Foram realizados exames de RT-PCR, que detectam a presença do genoma do vírus nas amostras dos pacientes, e de sorologia, que apontam a presença de anticorpos produzidos pelo organismo em resposta à infecção. O estudo identificou que todas as crianças com RT-PCR positivo haviam tido contato com pelo menos um adulto ou adolescente com sinais recentes de Covid-19. A relação foi reforçada com a análise dos exames sorológicos. Foi observado que os picos de prevalência de anticorpos para SARS-CoV-2 em crianças ocorreram após os períodos de pico entre adultos e adolescentes.

“A menos que essas crianças tivessem o SARS-CoV-2 por um longo período, os resultados são compatíveis com a hipótese de que as crianças foram infectadas depois ou ao mesmo tempo que seus contatos domiciliares, majoritariamente seus pais”, avaliam os cientistas no artigo.

Menos sintomas e exposição
De acordo com os pesquisadores, dois fatores podem contribuir para o papel menor das crianças na transmissão da Covid-19 observada em Manguinhos. Na maioria dos casos, os pequenos apresentam menos sintomas da doença e, portanto, podem dispersar menos gotículas e aerossóis com vírus no ambiente. Além disso, considerando a situação socioeconômica das famílias, a exposição das crianças ao coronavírus pode ter sido menor do que a dos adultos no período pesquisado.

“Os adultos podem ser propagadores mais importantes porque continuaram a trabalhar fora de casa, enquanto as escolas foram fechadas no início do curso da pandemia e permaneceram fechadas durante o estudo”, declaram os autores do trabalho, lembrando que com o relaxamento das medidas restritivas no Rio de Janeiro, a maior parte dos negócios reabriu e o transporte público voltou a circular lotado.

Considerando que as crianças podem ser infectadas e transmitir o coronavírus, os pesquisadores destacam a necessidade de estudos que avaliem possibilidades de vacinação para essa população. “Se os adultos forem imunizados e as crianças não, elas podem continuar a perpetuar a epidemia”, afirmam os cientistas, lembrando que 85% dos indivíduos suscetíveis precisam ser imunizados para conter a pandemia de Covid-19 em países de alta incidência. “Esse nível de proteção só pode ser alcançado com a inclusão de crianças em programas de imunização, principalmente no Brasil, onde 25% da população têm menos de 18 anos”, enfatizam.

É importante lembrar ainda que, assim como pessoas de todas as idades, as crianças com sintomas de Covid-19 – como febre, tosse seca e cansaço – devem ser avaliadas por profissionais de saúde para cuidados adequados e orientações à família.

Colaboração científica
A colaboração entre pesquisadores do Instituto Oswaldo Cruz e do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas é antiga. De acordo com a chefe do Laboratório de Vírus Respiratórios e do Sarampo do IOC, Marilda Siqueira, a parceria com o Laboratório de Pesquisa Clínica em Doenças Febris Agudas do INI, por meio da pesquisadora Patrícia Brasil, foi estabelecida desde antes da pandemia. “Nossos laboratórios trabalham em cooperação há alguns anos, em outros projetos sobre infecções respiratórias agudas. É muito importante que haja esse tipo de cooperação que envolve diferentes áreas de conhecimentos”, destaca Marilda.

Para a pesquisadora, a união de especialistas em momentos de emergência como o da pandemia de SARS-CoV-2 é fundamental para agilizar resultados. “As parcerias entre pesquisadores de diversas instituições, tanto no Brasil, quanto no exterior, têm sido essenciais para o avanço do conhecimento científico sobre este novo vírus. Em um curto espaço de tempo, tivemos resultados incríveis, não apenas sobre a biologia do novo coronavírus, como também no desenvolvimento de vacinas e testes de diagnóstico. É natural que ainda faltem informações, ainda temos muito para descobrir e por isso, continuamos pesquisando”, ressalta a virologista

Estudo realizado em famílias de Manguinhos aponta que os pequenos de zero a 13 anos são mais frequentemente infectados por adultos do que atuam como transmissores
Por: 
jornalismo

Um estudo liderado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) traz novos dados sobre o papel das crianças nas dinâmicas de transmissão do novo coronavírus. Após acompanhar moradores do bairro de Manguinhos, no Rio de Janeiro, por cinco meses, pesquisadores identificaram que as crianças não parecem ser fonte de infecção nas famílias, sendo mais frequentemente infectadas pelos adultos.

De acordo com os cientistas, os achados sugerem que, em localidades com condições semelhantes, creches e escolas podem ser reabertas com segurança, se forem adotadas medidas adequadas para mitigar a transmissão da Covid-19 e a equipe estiver devidamente imunizada. "Em ambientes com poucos recursos, isso é crítico porque o acesso às aulas online permanece muito limitado”, afirmam os pesquisadores na conclusão do estudo.

pesquisa foi publicada na revista científica internacional ‘Pediatrics’.Coordenado pelo Laboratório de Pesquisa Clínica em Doenças Febris Agudas do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI/Fiocruz), o estudo contou com a colaboração do Laboratório de Vírus Respiratórios e do Sarampo do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, e London School of Hygiene and Tropical Medicine, no Reino Unido.

Resultados do trabalho
Desenvolvida entre maio e setembro de 2020, a pesquisa realizou uma série de testes para identificar a infecção pelo coronavírus em crianças e seus contatos domiciliares. Ao todo, foram acompanhados 667 participantes em 259 domicílios do bairro de Manguinhos. Destes, 323 eram crianças (de 0 a 13 anos), 54 adolescentes (14 a 19 anos) e 290 adultos.

Foram realizados exames de RT-PCR, que detectam a presença do genoma do vírus nas amostras dos pacientes, e de sorologia, que apontam a presença de anticorpos produzidos pelo organismo em resposta à infecção. O estudo identificou que todas as crianças com RT-PCR positivo haviam tido contato com pelo menos um adulto ou adolescente com sinais recentes de Covid-19. A relação foi reforçada com a análise dos exames sorológicos. Foi observado que os picos de prevalência de anticorpos para SARS-CoV-2 em crianças ocorreram após os períodos de pico entre adultos e adolescentes.

“A menos que essas crianças tivessem o SARS-CoV-2 por um longo período, os resultados são compatíveis com a hipótese de que as crianças foram infectadas depois ou ao mesmo tempo que seus contatos domiciliares, majoritariamente seus pais”, avaliam os cientistas no artigo.

Menos sintomas e exposição
De acordo com os pesquisadores, dois fatores podem contribuir para o papel menor das crianças na transmissão da Covid-19 observada em Manguinhos. Na maioria dos casos, os pequenos apresentam menos sintomas da doença e, portanto, podem dispersar menos gotículas e aerossóis com vírus no ambiente. Além disso, considerando a situação socioeconômica das famílias, a exposição das crianças ao coronavírus pode ter sido menor do que a dos adultos no período pesquisado.

“Os adultos podem ser propagadores mais importantes porque continuaram a trabalhar fora de casa, enquanto as escolas foram fechadas no início do curso da pandemia e permaneceram fechadas durante o estudo”, declaram os autores do trabalho, lembrando que com o relaxamento das medidas restritivas no Rio de Janeiro, a maior parte dos negócios reabriu e o transporte público voltou a circular lotado.

Considerando que as crianças podem ser infectadas e transmitir o coronavírus, os pesquisadores destacam a necessidade de estudos que avaliem possibilidades de vacinação para essa população. “Se os adultos forem imunizados e as crianças não, elas podem continuar a perpetuar a epidemia”, afirmam os cientistas, lembrando que 85% dos indivíduos suscetíveis precisam ser imunizados para conter a pandemia de Covid-19 em países de alta incidência. “Esse nível de proteção só pode ser alcançado com a inclusão de crianças em programas de imunização, principalmente no Brasil, onde 25% da população têm menos de 18 anos”, enfatizam.

É importante lembrar ainda que, assim como pessoas de todas as idades, as crianças com sintomas de Covid-19 – como febre, tosse seca e cansaço – devem ser avaliadas por profissionais de saúde para cuidados adequados e orientações à família.

Colaboração científica
A colaboração entre pesquisadores do Instituto Oswaldo Cruz e do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas é antiga. De acordo com a chefe do Laboratório de Vírus Respiratórios e do Sarampo do IOC, Marilda Siqueira, a parceria com o Laboratório de Pesquisa Clínica em Doenças Febris Agudas do INI, por meio da pesquisadora Patrícia Brasil, foi estabelecida desde antes da pandemia. “Nossos laboratórios trabalham em cooperação há alguns anos, em outros projetos sobre infecções respiratórias agudas. É muito importante que haja esse tipo de cooperação que envolve diferentes áreas de conhecimentos”, destaca Marilda.

Para a pesquisadora, a união de especialistas em momentos de emergência como o da pandemia de SARS-CoV-2 é fundamental para agilizar resultados. “As parcerias entre pesquisadores de diversas instituições, tanto no Brasil, quanto no exterior, têm sido essenciais para o avanço do conhecimento científico sobre este novo vírus. Em um curto espaço de tempo, tivemos resultados incríveis, não apenas sobre a biologia do novo coronavírus, como também no desenvolvimento de vacinas e testes de diagnóstico. É natural que ainda faltem informações, ainda temos muito para descobrir e por isso, continuamos pesquisando”, ressalta a virologista

Permitida a reprodução sem fins lucrativos do texto desde que citada a fonte (Comunicação / Instituto Oswaldo Cruz)

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