Inovação em tecnologia e gestão orienta debates no II Encontro

O presidente da Fiocruz, Paulo Buss, deu início às atividades do II Encontro do IOC na manhã desta segunda-feira enfatizando a necessidade de concentrar esforços sobre o desdobramento da pesquisa em desenvolvimento tecnológico. O mesmo tema – a inovação – foi o foco da palestra de Paulo Figueiredo, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), especialista em aprendizagem organizacional para a inovação em paises em desenvolvimento, que fez uma exposição provocadora. A diretoria do IOC apresentou a realidade do Instituto hoje e as expectativas para mudança. Na parte da tarde, os Grupos de Trabalho (GTs) tiveram início, consolidando ao final do dia relatórios com opiniões sobre o IOC de hoje e perspectivas para o futuro do Instituto.

“Estamos reunidos em uma verdadeira pajelança de pesquisadores para pensar o futuro do IOC. Portanto, aqui está sendo pensado também o futuro da Fiocruz e o futuro do país”, afirmou Paulo Buss no início de sua apresentação. O presidente da Fundação observou que, conforme cresce a complexidade epidemiológica no país, crescem as demandas para a Fiocruz – sem, no entanto, que haja um afastamento em relação a suas missões fundamentais. “Pesquisa, ensino e desenvolvimento tecnológico compõem a tríade de missões fundamentais da Fiocruz e do IOC, tríade com a qual começamos e com a qual completaremos 106 anos em 2006”, Buss sintetiza.

“O que nos desafia na pesquisa é o desenvolvimento: é transladar o conhecimento para o uso da população”, completa. “A comunidade do IOC tem que se centrar na Lei de Inovação porque, se queremos ser atores importantes no cenário da Ciência e Tecnologia, precisamos traduzir na Fiocruz a Lei de Inovação.” E conclui: “A população espera muito do IOC. Se o IOC for bem sucedido, a Fiocruz também será.”

Representando a diretoria do IOC, Tania Araújo-Jorge expôs a realidade do Instituto frente aos objetivos do II Encontro: a elaboração do Plano Diretor de ações até 2009 e a atualização da estrutura oganizacional. “A marca deste encontro é pensar o futuro do IOC como instituto de ciência para a saúde da população brasileira”, avalia. Tania destacou o desempenho do Instituto no contexto da Fiocruz: o IOC é responsável por 77,9% da produção científica internacional da Fiocruz – indexada no ISI –, por 56% das patentes, 51% dos serviços de referência e 31% das teses de mestrado e doutorado. “No II Encontro estamos consolidando nossa visão de futuro, uma visão prospectiva. Para isso, precisamos estar atentos ao contexto nacional, levando em conta a política nacional de fomento a desenvolvimento tecnológico e inovação, além das leis de biossegurança e de inovação.”

A diretora ressaltou, ainda, que este é um momento de discussão no âmbito da Fiocruz sobre a revisão de sua estrutura. “O II Encontro é uma oportunidade para pensarmos uma matriz estrutural para o IOC que sirva como suporte para o enfrentamento de desafios atuais e futuros. Para orientar este debate, que será realizado nos Grupos de Trabalho, preparamos um documento inédito que lista cada projeto do IOC quanto ao alinhamento às metas do Plano Plurianual (PPA) do Ministério da Saúde. Não trouxemos uma proposta pronta”, completa. “Queremos que este Encontro seja um fórum de debate. Para mudar a estrutura do IOC precisamos entrar em consenso quanto às nossas metas e diretrizes.”

Tania resgatou a história do Instituto para abordar o tema da inovação. “Cada vez mais nós vemos que as barreiras entre ciência básica e aplicada estão se rompendo. E este é um binômio presente na nossa trajetória. Segundo a historiadora Nancy Stepan, o IOC foi bem sucedido porque agregou pesquisa, aplicação, treinamento e atividade empresarial. A inovação no IOC não é uma abstração, é um dado concreto do nosso trabalho. Já fazemos inovação em saúde ao dotarmos a pesquisa de valor social quando desenvolvemos vacinas ou estratégias educativas, por exemplo. O que precisamos é avançar na identificação de potencialidades para a inovação e em uma compreensão mais visceral de que a inovação se dá em uma cadeia, que começa na pesquisa.”


Paulo Figueredo é PhD em Gestão da Tecnologia e da Inovação
pelo Science and Technology Policy Research, da
University of Sussex (Reino Unido)

O especialista em gestão da tecnologia e da inovação da FGV Paulo Figueiredo esclareceu que é preciso inovar também na gestão. “O debate sobre inovação surgiu há cerca de 30 anos, mas apenas de cinco anos para cá o tema da inovação se tornou central dentro das instituições; ou seja: voltou-se para a inovação da própria estrutura das instituições”, inicia. “Existem diferentes graus de inovação – desde aquelas instituições que são capazes de se apropriar de tecnologias, usá-las apenas ou também adaptá-las a sua necessidade; até as instituições com máxima capacidade inovadora, que atuam na fronteira do conhecimento a nível internacional”, pondera. “Sem esquecermos que a fronteira tecnológica internacional é um alvo que se move. O segredo, então, está na velocidade com que uma instituição se move para a inovação, se essa for sua opção estratégica.”

Paulo Figueiredo introduziu, então, o conceito de inovação como opção estratégica. “Uma instituição pode optar por permanecer como usuária de tecnologia. Ou pode ter uma ambição maior: pode optar por ser líder na sua área. Isso não é possível sem inovação.” O especialista acrescenta que a inovação é alcançada através de um esforço embutido em cada ação diária. Depende de um processo complexo de gestão dentro das instituições, que depende não só de sua capacidade tecnológica, mas está ligada também ao tipo de liderança existente e aos valores e crenças corporativos, sem contar os fatores externos.

O especialista ressalta que o principal fator para que as instituições tenham capacidade tecnológica para inovar é o fator intra-organizacional. “É fundamental observar o impacto da inovação no âmbito da própria organização das instituições”, sintetiza, ressaltando, no entanto, o possível lado negativo da capacidade tecnológica. “A capacidade de inovar pode se tornar uma limitação, porque os gestores correm o risco de acreditar que qualificações anteriores, que serviram no passado da organização, seriam suficientes para o futuro. É preciso questionar os processos existentes, colocar as rotinas de gestão em xeque”, resume.


Cada um dos sete Grupo de trabalho elaborarou
propostas para o futuro do IOC

Na parte da tarde, os Grupos de Trabalho formularam propostas sobre a visão de futuro desejada para o IOC, com base em perguntas como: Como queremos que o IOC seja em 2015? Como queremos que a Fiocruz, a sociedade e os pares científicos nos vejam? Em quais temas e atividades gostaríamos de realizar dentro de dez anos?

Por Raquel Aguiar
14/03/06