Publicação do Instituto Oswaldo Cruz/Fiocruz - 02/03/2006

Ciência depois do carnaval: lidando com o caos

Esta quinta-feira foi literalmente de cinzas num importante Instituto de Pesquisa do Rio de Janeiro: um incêndio no Departamento de Ecologia da UFRJ destruiu laboratórios, equipamentos, animais experimentais, dados em registros eletrônicos e em papel, enfim, projetos de pesquisa e projetos de vida de estudantes e pesquisadores.

No IOC não tivemos incêndios neste carnaval, apesar disso já ter ocorrido em janeiro desse ano, com perdas de equipamentos e materiais. No entanto, tivemos outro tipo de catástrofe: os eternos picos de energia que danificaram geradores de emergência, e por conseqüência, freezers a -70º C, geladeiras e estufas. Em quatro dos 13 prédios do IOC.

Podemos encarar a situação pelo lado otimista: a maioria dos prédios suportou bem os problemas do final de semana prolongado. Mas os pesquisadores que perderam amostras e materiais com o degelo de seus freezers não serão consolados por esse olhar. Enquanto algum prédio do IOC permanecer em condições inadequadas de manutenção de sua infra-estrutura não podemos assumir tal otimismo. Pelo contrário, temos que nos manter alertas e reivindicativos junto à Presidência, uma vez que a infra-estrutura do campus é responsabilidade da Dirac, que promete melhoria de eficiência com sua nova gestão.

Num contexto de perdas e danos, freqüente no IOC após chuvas e feriados prolongados, que fazer? Já nos reunimos hoje com Reinaldo Guimarães e Paulo Gadelha para construir soluções e mediações, inclusive para reposição de equipamentos avariados, uma vez analisada a extensão dos danos. Mas e as perdas? Aquelas não remediáveis? Perdas de amostras? Somente com a construção de uma séria política de infra-estrutura e de valorização de nosso patrimônio poderemos nos preparar para elas. Precisamos estruturar sistemas múltiplos de registros de dados e de depósito de amostras em diferentes servidores e prédios centrais, para que no caso de incêndio, por exemplo, dados e amostras possam ser recuperados. Precisamos estruturar também sistemas de seguro para custeio de reposição de equipamentos e prédios perdidos. Isso sem falar nas Brigadas de Incêndio, também ainda inexistentes. Sistemas de alerta para identificação de problemas elétricos diversos, seja em esquemas de plantão ou em indicadores eletrônicos.

Enfim, a quinta-feira de cinzas nos remete a muito trabalho de modernização do IOC e da Fiocruz. Que os problemas registrados hoje nos dêem mais ânimo para que, no II Encontro do IOC, possamos definir corretamente nossas prioridades e rumos, e curtir então a quinta-feira sem recolher as cinzas do carnaval, mas com a alegria que a ocasião mereceria despertar em cada um de nós.

Tania Araújo-Jorge e Claude Pirmez