Publicação do Instituto Oswaldo Cruz/Fiocruz - 05/06/2006

 

Pesquisa com animais só é realizada quando não existem recursos alternativos

“O bem-estar dos animais é nossa maior preocupação”, afirma contundente Carlos Alberto Muller, coordenador do Centro de Experimentação Animal do Instituto Oswaldo Cruz (IOC). Veterinário, Muller foi designado para o cargo justamente por sua ilibada reputação como defensor do bem-estar dos animais. Em seu currículo, o pesquisador inclui a participação no planejamento da Comissão de Ética no Uso de Animais (CEUA) da Fundação Oswaldo Cruz, à qual o IOC está ligado.

“A dor é uma sensação desagradável. Nos procedimentos de pesquisa utilizamos sempre anestésicos e/ou analgésicos, conforme a necessidade de cada caso”, Muller afirma. “Obviamente existem protocolos diferentes de medicação para cada espécie de animal e para cada tipo de pesquisa, mas hoje existem protocolos de analgesia, que serve para eliminar a dor, e de anestesia, responsável por reduzir a consciência, adequados para vários tipos de procedimento e que não comprometem a credibilidade e a confiabilidade dos resultados obtidos. Hoje, nos 126 projetos de pesquisa realizados no âmbito do IOC e aprovados pela CEUA, não existe um animal sequer que não esteja controlado para o alívio da dor, quando ela é uma decorrência inevitável do procedimento necessário para o conhecimento científico que está sendo testado.”

Evitar a dor e o sofrimento físico é um dos preceitos fundamentais da CEUA, que licencia todos os experimentos que utilizam animais na Fiocruz. “Quando a Fiocruz criou a CEUA, em maio de 1999, nossa primeira iniciativa foi definir as diretrizes para o uso de animais”, Muller observa. “Estas orientações são integralmente aplicadas no IOC”, garante. Estes preceitos incluem que são inaceitáveis a dor e o sofrimento desnecessários ou evitáveis , e que deve ser utilizado o menor número possível de animais que permita a obtenção de resultados válidos.

“Uma pesquisa utilizando animais só é aprovada se houver relevância científica que a justifique e se não houver método alternativo conhecido e validado. Ou seja: se um projeto ganha certificado de licenciamento, isso significa que o pesquisador declarou que não existe ou não conhece método substitutivo, e assume toda a responsabilidade por essa declaração”, Muller sintetiza. “No entanto, a maioria dos métodos alternativos existentes e validados não é aplicável à pesquisa básica, atividade principal do IOC, mas ao controle de qualidade de vacinas e medicamentos. A utilização de animais em pesquisa está condicionada à adequação do método de estudo. Além disso, o pesquisador deve ser treinado para fazer experimentação em animais e é responsável pelo seu bom uso.”

O trabalho do Centro de Experimentação Animal do IOC é baseado nos chamados 3Rs, preconizados nacional e internacionalmente na experimentação animal: redução, refinamento e substituição. No original, em inglês, os preceitos referem-se a replacement , refinement e reduction . “O pesquisador deve refinar sua pesquisa ao máximo, de modo a utilizar o menor número de animais para obter um resultado válido e deve, sempre que possível, substituir a experimentação animal por outros métodos”, Muller sintetiza. “É justamente isso que fazemos no IOC: o projeto só é aprovado e só acontece se não houver substituição possível por método alternativo e, quando não existem métodos alternativos válidos, busca-se precisar de tal forma a pergunta científica a ser respondida de modo que este refinamento permite a redução máxima do número de animais utilizado.”

Por Raquel Aguiar

 

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