Publicação do Instituto Oswaldo Cruz/Fiocruz - 05/06/2006

 

Animais geneticamente modificados: a biotecnologia a favor da experimentação animal

O uso de animais geneticamente modificados (ANGMs), iniciado na década de 80, é uma tendência cada vez mais utilizada em pesquisas científicas. A opção pelo uso destes animais, que apresentam algum caráter modificado através da biotecnologia, pode em diversos casos ampliar a segurança dos resultados obtidos e vem contribuindo, muitas vezes, para reduzir o número de animais utilizados em experimentos.

Segundo Wilson Savino, chefe do Laboratório de Pesquisas sobre o Timo do IOC e um dos pioneiros no uso de ANGMs no Instituto, o uso de animais geneticamente modificados, desde que selecionados de forma adequada, reduzirá em muito o número de animais a serem utilizados para responder a mesma pergunta biológica. “H oje, no mundo inteiro, o uso de animais de experimentação geneticamente modificados revolucionou a experimentação animal e permitiu diminuir muito o número de animais que vinham sendo sacrificados”, resume. Atualmente, o Laboratório desenvolve quatro projetos de pesquisa sobre migração linfocitária com base em ANGMs.

“Quando o animal de experimentação é muito adequado para responder uma determinada pergunta, é possível fazer a experimentação de forma mais direta. Podemos citar o exemplo de um estudo sobre a influência do hormônio do crescimento sobre o sistema imunológico”, Savino enumera. “Uma das possibilidades é usar animais não geneticamente modificados e injetar o hormônio do crescimento para obter o nível de circulação do hormônio desejado para a pesquisa. Isso implica a realização de uma interferência, de um procedimento. Outra possibilidade é utilizar um animal geneticamente modificado, que constitutivamente tem o nível de hormônio de crescimento alto. Assim, o animal não precisou ser manipulado para obtermos as condições necessárias para a pesquisa.”

O pesquisador destaca que, de maneira geral, os animais geneticamente modificados vêm permitindo responder, de forma muito mais apurada, uma série de perguntas relativas à fisiologia de órgãos e à fisiopatologia – ou seja: conhecer a resposta de um determinado órgão frente a uma determinada patologia. Segundo Savino, o planejamento do projeto de pesquisa é fundamental. “Existe uma série de perguntas cuja resposta é facilitada se for escolhido um animal geneticamente modificado adequado para responder aquela pergunta específica”, comenta. Neste momento, o planejamento do experimento é fundamental para que se selecione o animal adequado para que a pergunta possa ser respondida da melhor maneira possível.

Apesar dos benefícios, o pesquisador reconhece que o uso de ANGMs apresenta limitações. “ Nem toda pesquisa pode utilizar ANGMs, depende, mais uma vez, da pergunta que se deseja responder”, pondera. “Uma série de pesquisas que lidam com diversidade genética são melhor realizadas com animais que não são geneticamente modificados.” No caso de alguns tipos de animais de experimentação, o pesquisador esclarece que ainda não existem ANGMs disponíveis. “Os animais geneticamente modificados se revelam um instrumento vivo de muita importância, mas isso não quer dizer que é possível prescindir da diversidade animal existente no planeta”, resume.

Perguntado se seria possível utilizar ANGMs em qualquer experimentação científica, tendo em vista a possibilidade de redução do número de animais testados, Hugo Caire, coordenador da Comissão de Ética no Uso de Animais da Fiocruz (CEUA) e pesquisador do Laboratório do Imunofarmacologia do IOC, é cauteloso. “Muitas vezes é possível reduzir o número de animais de experimentação com esse tipo de abordagem – tanto no uso de animais geneticamente modificados quanto no uso de animais isogênicos, que têm o mesmo padrão genético. A variabilidade da resposta biológica vai diminuir, o que reduz a margem de erro e permite não ser necessário observar tantas amostras para identificar as diferenças”, diz. “O animal geneticamente modificado nasceu com a característica determinada que nós desejamos, obtida a partir da alteração de um ou mais genes. Mas é preciso considerar que os organismos são extremamente adaptáveis e podem compensar esta deficiência de uma forma que não foi prevista.”

O licenciamento para utilização de ANGMs em experimentação depende da aprovação do projeto pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio). O procedimento é o mesmo que deve ser seguido para qualquer ação envolvendo organismos geneticamente modificados (OGMs) em geral. “O pesquisador deve preencher um formulário na CIBio, apresentando cópia do projeto, currículo de toda a equipe envolvida no trabalho e layout das instalações físicas do laboratório em que o projeto será desenvolvido. Quando o pedido chega à Comissão Interna de Biossegurança do IOC é agendada uma visita ao laboratório para verificar se a infra-estrutura laboratorial e de biotérios atende aos requisitos legais. Somente então o pedido é remetido à CTNBio, que é ligada ao Ministério da Ciência e Tecnologia”, detalha Hermann Schatzmayr, presidente da Comissão Interna de Biossegurança do IOC ( CIBio/IOC) .

Desta forma, portanto, os projetos de pesquisa do IOC que utilizam ANGMs precisam em primeiro lugar ser aprovados pela CEUA, pela CIBio/IOC e, por fim, em âmbito federal, pela CTNBio. “A tendência é cada vez mais usar animais ANGMs, pois em muitos casos a resposta é mais clara em relação aos animais não modificados. Portanto, a médio prazo, é muito provável que o número total dos animais de experimentação venha a cair ao longo do tempo”, Schatzmayr esclarece.

O especialista comenta que, apesar da aprovação da nova Lei de Biossegurança, em 2005, ainda não foram promulgadas as Instruções relativas a temáticas específicas, como o uso de ANGMs em pesquisas científicas. “Tendo em vista que as instruções normativas ainda não foram publicadas, estabelecendo o protocolo de procedimentos, a CIBio/IOC atualmente trabalha atendendo as normativas que estavam vigentes até a publicação da Lei 111.05/05. Ou seja estamos utilizando os formulários e os procedimentos definidos pelas instruções anteriores”, Schatzmayr completa.

Por Raquel Aguiar

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