Publicação do Instituto Oswaldo Cruz/Fiocruz - Ano XII - n0 36- 05/10/2006

 

Encontro sobre febre maculosa reuniu 200 profissionais de saúde no IOC
para discutir diagnóstico e tratamento

Cerca de 200 participantes estiveram hoje, dia 5, na Reunião Técnica sobre Febre Maculosa Brasileira no Estado do Rio de Janeiro . O evento, organizado pelo Laboratório de Hantaviroses e Rickettsioses do IOC (Laboratório de Referência Nacional para Rickettsioses), com apoio da Secretaria Estadual de Saúde do Rio de Janeiro, da Vice-Presidência de Desenvolvimento Institucional e Gestão do Trabalho e da Vice-Presidência de Serviços de Referência e Ambiente da Fiocruz, abordará temas como aspectos epidemiológicos, transmissão, diagnóstico e tratamento.

Gutemberg Brito
Wendel, Brenda e Endéa, jovens músicos da comunidade Parque União, encantaram a platéia com a performance Os Três Irmãos

O objetivo principal do encontro foi a conscientização sobre a necessidade do diagnóstico precoce da febre maculosa, doença infecciosa causada pela bactéria Rickettsia rickettsii e transmitida basicamente pelo carrapato-estrela. Em casos em que não há tratamento ou existe demora para iniciá-lo, a letalidade da doença pode variar de 40 a 90%. “Nossa maior arma é a informação. É fundamental o mínimo de conhecimento porque se trata de uma doença condicionada à informação e ao diagnóstico precoce para sua prevenção e tratamento”, afirmou Elba Lemos, chefe do Laboratório de Hantaviroses e Rickettsioses (Referência Nacional em Rickttioses) do IOC.

O Vice-presidente de Serviços de Referência e Meio Ambiente da Fiocruz, Ary Miranda, a Vice-diretora de Gestão e Recursos Humanos do IOC, Claude Pirmez e o representante da Secretaria Estadual de Saúde, Aloysio Araújo, que integraram a mesa de abertura, destacaram a importância do tema. “Este evento é importante para discutir e enfrentar o desafio que a febre maculosa apresenta e evidencia a rápida resposta do serviço de referência do IOC ao sistema de saúde pública”, o Vice-presidente apontou. Em seguida, Wendel, Brenda e Endéa, jovens músicos da comunidade Parque União, brindaram a platéia com a performance de MPB e música erudita Os Três Irmãos. A trajetória de vida comovente sensibilizou os presentes.

Os aspectos epidemiológicos da doença foram apresentados pelo representante da Assessoria de Doenças Transmitidas por Vetores e Zoonoses da Secretaria Estadual de Saúde, Gualberto dos Santos. Segundo ele, os números reforçam a necessidade de um rápido diagnóstico e um tratamento imediato, mesmo que os antimicrobianos indicados não sejam os utilizados habitualmente. “É necessário um diagnóstico de inclusão. Não se pode esperar a confirmação da suspeita para que o tratamento seja iniciado”, ponderou. Dados do Ministério da Saúde registraram 386 casos na última década, com 107 óbitos. O Estado do Rio de Janeiro é o terceiro do país com maior incidência da doença.

Gutemberg Brito
Mais de 200 profissionais de saúde participaram do encontro

Além do ciclo da febre maculosa, Elba Lemos palestrou sobre o diagnóstico clínico e laboratorial e o tratamento da doença. Para ela, o homem é apenas mais um elemento no ciclo da febre maculosa. A pesquisadora alertou que a evidência sorológica já foi encontrada não só em animais silvestres, mas em animais como cachorros, coelhos e gambás. "O homem é um hospedeiro acidental e precisamos levar em conta as diferenças, o nível de interação do homem com o ambiente”, avaliou.

Em relação ao diagnóstico clínico e laboratorial e ao tratamento da doença, a especialista comprovou na apresentação dos resultados de pesquisas que é possível reverter o quadro da infecção se a classe médica for sensibilizada e o tratamento for iniciado imediatamente em seguida à detecção dos sintomas, antes mesmo da confirmação do diagnóstico. “De nada adiantará o implemento de técnicas avançadas como o PCR em tempo real e himunohistoquímica para uma doença que, somando, não chega a um total de 400 casos no Brasil nos últimos 10 anos. O que precisamos é estar informados”.

Para Shirlei Aguiar, do Laboratório Central Noel Nuttels (LCNN), a reunião é uma oportunidade única para que haja uma atuação em conjunto das secretarias municipais. “O papel de cada um é muito importante neste contexto”, avalia Shirlei, que apresentou os procedimentos e fluxos de recebimento e encaminhamento de material biológico ao LCNN.

Ângela Spera, do Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde (INCQS) , encerrou a reunião falando sobre o fluxo de material biológico dentro da Fundação. Para gerenciar com maior eficiência as amostras recebidas pelos Laboratórios de Referência, foi criada a Central de Recebimentos de Amostras da Fiocruz. Uma espécie de porta de entrada das amostras, a Central funciona em uma sala do INCQS. Atualmente em estágio piloto, está recebendo somente amostras humanas e de carrapatos vetores da febre maculosa.

Os representantes das secretarias municipais de saúde receberam um kit com fichas epidemiológicas e informações sobre o encaminhamento de amostras. “Foi um evento de extrema relevância. Esclareci minhas dúvidas e achei muito importante a ênfase dada ao diagnóstico precoce”, avaliou a sanitarista Maria Helena Menezes, da Secretaria Municipal de Saúde de Teresópolis.

Renata Fontoura

 

IOC - Ciência para a Saúde da População Brasileira