Publicação do Instituto Oswaldo Cruz/Fiocruz - 20/04/2006

 

Qualidade, Biossegurança e Ambiente: receita para a excelência

Empresas e instituições de destaque no Brasil e no mundo vêm apostando cada vez mais – com sucesso – na fórmula qualidade, biossegurança e ambiente. A tríade está tão consagrada que responde por uma sigla: QBA. O Instituto Oswaldo Cruz (IOC), na crista desta tendência que supera o modismo passageiro e se firma como novo paradigma de gestão, está investindo nesta opção como estratégia para o desenvolvimento institucional. A I Reunião de Qualidade, Biossegurança e Ambiente do IOC, realizada nos dias 4 e 6 de abril, foi o primeiro fórum a reunir oficialmente estas instâncias, que já vinham se articulando de forma espontânea.

“No IOC, o diálogo entre estas áreas já acontecia, motivado justamente pela natureza comum de suas esferas de atuação”, avalia o vice-diretor de Desenvolvimento Institucional do IOC, Christian Niel. “Esta reunião sinaliza o esforço de criação de uma macro-área QBA, que não é paralela ou vertical em relação à estrutura do Instituto, mas que a atravessa e perpassa em todos os momentos.”

Durante o encontro, foram discutidas e delineadas propostas de ação articuladas entre as três esferas, a serem desenvolvidas por grupos de trabalho definidos durante o evento. “Este foi um dos aspectos mais positivos deste marco de partida: a proposta nasce com caráter participativo e democrático”, avalia Tania Araújo-Jorge, diretora do IOC. “A diretoria está assumindo o compromisso de garantir o respaldo e o incentivo para que as iniciativas em qualidade, biossegurança e ambiente se tornem uma marca fundamental da produção científica do Instituto.”

Atenção à biossegurança consolidada

A Comissão Interna de Biossegurança (CIBio) é a estrutura mais consolidada da tríade QBA no IOC. Criada em 1999, recebeu o prêmio Experiência de Sucesso no Seminário Intenacional de Biossegurança em Saúde, concedido pela Opas e o Ministério da Saúde em agosto de 2005. Reconhecida na Fiocruz por seu caráter propositivo e empreendedor, é responsável por iniciativas como o estabelecimento dos protocolos de transporte de material biológico na Fundação e teve importante papel na elaboração das propostas para a área no Plano Quadrienal da Fiocruz.

“Neste ano, a adequação das salas de lavagem e esterilização, a ação portas fechadas e a continuidade do programa de capacitação profissional estão entre nossas prioridades fundamentais”, avalia Hermann Schatzmayr, presidente da CIBio. “A adequação das salas de lavagem será realizada nos departamentos de Medicina Tropical, Micobacterioses, Helmintologia, Fisiologia e Farmacodinâmica e Malacologia e atenderá os laboratórios do departamento de Virologia localizados no Pavilhão Cardoso Fontes. Neste ano, as obras serão complementadas com a instalação de autoclaves e sistema de tratamento de água.”

O projeto portas fechadas, que busca reduzir a circulação de pessoas estranhas nos laboratórios do Instituto, atendeu em 2005 todos os laboratórios do Pavilhão Leônidas Deane e, em 2006, será implementado nos departamentos de Helmintologia e de Fisiologia e Farmacodinâmica. O projeto de transporte de material biológico e o programa de uso equipamentos de proteção serão ampliados. “A meta para este ano é eliminar a presença de botijões de gás nos laboratórios e reduzir o uso de bico de Bunsen, que serão substituídos por placas aquecedoras e incineradores”, o presidente da comissão apresenta.

Outra iniciativa importante está sendo desenvolvida na área de capacitação profissional. “Pela primeira vez o IOC está oferecendo o Curso de Biossegurança em Laboratórios de Pesquisa Biomédica, idealizado para atender as necessidades específicas da realidade da pesquisa no Instituto”, Schatzmayr avalia. O curso, iniciado em março, atende 69 alunos. Ainda em 2006, a CIBio desenvolverá o primeiro curso de Carga Perigosa da Fiocruz.

O ambiente saudável como meta

Em uma trajetória de poucos meses, a Comissão Interna de Gestão Ambiental dedica-se ao estudo das estratégias para a implementação no IOC da gestão ambiental ecoeficiente – concepção que preconiza a produção limpa, mediante o compromisso de reduzir o uso de recursos naturais e de minimizar a geração de resíduos nas atividades de pesquisa, contribuindo para a qualidade da produção científica. “Nossa intenção é que as atividades do IOC contribuam para um ambiente saudável”, sintetizam as coordenadoras da comissão, Martha Barata e Ana Luzia Filgueiras.

“Os objetivos”, prosseguem, “consistem em definir as diretrizes a serem obedecidas nos espaços laboratoriais do Instituto, com base nos requisitos de qualidade ambiental legal e institucional; definir a melhor alocação possível dos recursos financeiros, tecnológicos e humanos; e avaliar os riscos ambientais provenientes das atividades desenvolvidas no IOC. Para isso, estamos investindo na disseminação da cultura de ambiente saudável no IOC através da redução do uso dos recursos naturais e da prevenção da geração de resíduos.”

Outro aspecto importante do trabalho, acrescentam, é fornecer subsídios legais no tema para dar suporte aos pesquisadores que desenvolvem trabalhos em local externo ao campus de Manguinhos. “Uma das nossas primeiras atuações é a implementação da Agenda Ambiental na Administração Pública (A3P). Estabelecida pelo Ministério do Meio Ambiente, a A3P tem a proposta de inserir os critérios ambientais nas diversas áreas do governo federal, buscando minimizar e, quando possível, eliminar os impactos ao meio ambiente e ainda reduzir a pressão sobre a exploração de recursos naturais.”

Na etapa inicial do trabalho de sensibilização para o tema do ambiente, a comissão conta com a colaboração da Coordenação de Administração do IOC (CoAd). “A CoAd vem sendo nosso piloto em um projeto estratégico para a redução do consumo de materiais de escritório, sobretudo papel e envelope. Além disso, estamos finalizando a preparação de uma ampla campanha para reciclagem de papel que abarcará todo o IOC”, as coordenadoras resumem.

Ontem, dia 19, representantes do Centro de Tecnologia Ambiental da FIRJAN e da Coordenação de Meio Ambiente do SEBRAE apresentaram no IOC, durante edição do Seminário de Entomologia, o programa Produção Mais Limpa , que já funciona e gera bons resultados em entidades de pequeno, médio e grande porte de todo o país. Adaptado para a realidade do Instituto, o programa começará a ser implantado no IOC ainda em 2006, inicialmente nos pavilhões Carlos Chagas e Lauro Travassos. Aqui, ganhará o nome Pesquisa mais Limpa .

Ainda em 2006, a comissão passará a oferecer a disciplina Saúde Ambiental no programa de pós-graduação em Ensino de Biociência e Saúde. Em 2007, participará do Curso de Biossegurança em Laboratórios de Pesquisa Biomédica, desenvolvido pela CIBio, através da coordenação do módulo de Gestão Ambiental.

Qualidade, condição básica para a credibilidade

O Grupo de Trabalho (GT) Qualidade vem inaugurando no IOC uma nova cultura, que tem nos preceitos da qualidade uma condição para o próprio desenvolvimento de atividades científicas. A exemplo da estrutura já definida para biossegurança e para ambiente, está sendo gestada a criação de uma Comissão Interna de Qualidade no IOC, que responderá por iniciativas para a adequação dos laboratórios do Instituto aos protocolos nacionais que regem a área.

“A demanda por qualidade na pesquisa científica é uma exigência premente do Ministério da Saúde”, esclarece a coordenadora do GT Qualidade, Márcia Leite Baptista. A Portaria nº 70 da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, de dezembro de 2004, definiu os critérios e procedimentos para a habilitação de laboratórios de referência nacional e regional junto às Redes Nacionais de Laboratórios de Vigilância Epidemiológica e Ambiental em Saúde. “A Portaria 70 define a implantação de um sistema de Gestão da Qualidade como critério para a habilitação de laboratórios na rede de referência federal”, a coordenadora esclarece. “Nosso objetivo é implantar o sistema de gestão da qualidade não apenas nos laboratórios de referência, mas em todos os 69 laboratórios de pesquisa do IOC.”

Entre os principais benefícios da implantação de uma política da qualidade, ela destaca a credibilidade e respeito da comunidade científica e de seus pares em relação às atividades desenvolvidas, a aceitação de resultados, estudos, ensaios e testes – o que favorece publicações em revistas científicas e a captação de recursos em agência de fomento –, sem mencionar a economia de recursos em função da redução de erros e repetições de trabalho. “A adoção da qualidade como cultura institucional”, a coordenadora sintetiza, “tem como benefícios a otimização do tempo, a confiabilidade e a rastreabilidade de dados”.

As primeiras ações para a capacitação no tema da gestão da qualidade serão realizadas através de Cursos de Gestão da Qualidade Laboratorial, ministrados pela especialista Ana Beatriz Moraes, da vice-presidência de Serviços de Referência e Ambiente (VPSRA) da Fiocruz. Os cursos acontecem em junho e setembro. Em parceria com as Comissões Internas de Biossegurança e Ambiente, o GT Qualidade participará das visitas técnicas aos laboratórios do IOC, previstas para as próximas semanas, oportunidade em que serão identificadas as deficiências dos laboratórios em relação ao Programa da Qualidade.

 

Por Raquel Aguiar