Publicação do Instituto Oswaldo Cruz/Fiocruz - Ano XIII - n0 18- 05/07/2007

Fiocruz e IOC integram esforço global da OMS para eliminação da doença de Chagas

Em 2009 completaremos 100 anos do inédito feito de Carlos Chagas no Instituto Oswaldo Cruz (IOC): a descoberta da doença de Chagas, seu agente causal, seu transmissor, seus reservatórios e suas características clínicas e patológicas. Desde já, comemoram-se os recentes sucessos no controle da transmissão vetorial e transfusional, indicativos do acerto de decisões políticas tomadas após pressão da comunidade científica envolvida com o problema, e permanente propositora de soluções técnicas comprovadamente eficazes.

Os desafios de sustentabilidade dos avanços obtidos nas Américas, os riscos locais e nos países não endêmicos, para onde migram portadores da infecção levando à globalização da doença de Chagas, e as diferentes estratégias necessárias ao enfrentamento desses novos cenários são hoje o foco da reunião histórica realizada na Organização Mundial da Saúde (OMS): Revisiting Chagas disease: From a Latin American Health perspective to a Global Health perspective. Pela primeira vez uma reunião sobre doença de Chagas ocupa o salão central da OMS em Genebra por três dias, com 135 convidados dentre especialistas e responsáveis ministeriais por programas de controle, para pautar a meta de sua eliminação na agenda mundial, como responsabilidade global. Representando a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), na dupla responsabilidade de direção do IOC e de coordenação do Programa Integrado de Doença de Chagas (PIDC-Fiocruz), estou participando do evento, em companhiade Dr. Coura e Dr. Pedro Albajar (especialistas do Laboratório de Doenças Parasitárias do IOC), e do Dr. João Carlos Pinto Dias, do Instituto René Rachou/Fiocruz.

O principal objetivo da OMS com o evento é criar uma Rede Global para a Eliminação da Doença de Chagas, coordenando em todo o mundo esforços e ações para seu tratamento e controle. As principais ações previstas incluem o fortalecimento da vigilância epidemiológica e a prevenção da transmissão através de transfusão sangüínea e da transmissão vertical (de mãe infectada para filho). Pela OMS, Jean Jannin, coordenador do programa de inovação e intensificação de gestão de doenças tropicais negligenciadas, definiu os próximos passos: criar o momento político, colocar Chagas na agenda global, mobilizar recursos e estabelecer um consenso global para estratégias. O Brasil se apresenta na reunião com a base criada pela sua comunidade científica e pela Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, sistematizada no Consenso Brasileiro em doença de Chagas, e nas ações em curso no país, com destaque para a articulação de redes colaborativas entre laboratórios de pesquisa e serviços de saúde, tais como o PIDC-Fiocruz.

Em sua conferência inaugural, o Dr. Briceño-Leon reconstruiu o conceito de sustentabilidade e exaltou a necessidade imperiosa de adaptação à nova situação, superando a repetição de políticas exitosas para um momento mas não necessariamente adequadas ou suficientes para um novo momento. Lembrou que o enfrentamento de doenças negligenciadas da pobreza requer respostas em três componentes: a negligência, com uma clara política de atenção à saúde; a pobreza, com uma clara política de desenvolvimento econômico para superar os problemas da pobreza; e a doença, com uma clara política de promoção à saúde. Eliminar a doença e garantir a sustentabilidade dessa eliminação são pré-condições para o desenvolvimento econômico e social das populações atingidas e para a conquista de sua liberdade em sentido lato, liberdade da pobreza e da doença. Para isso é essencial a articulação de ciência e política, e de suas respectivas éticas: a ética da ciência em seu compromisso com a verdade, e a ética da política, em seu compromisso com a responsabilidade. O tom da reunião e sua dimensão histórica, política e filosófica fica claro na mensagem final do Dr. Briceño-Leon: “Sejamos realistas: busquemos o impossível”.  A área de pesquisa em Chagas do IOC terá muito a fazer e a propor.

 

                                                                       Tania C. de Araújo-Jorge