Publicação do Instituto Oswaldo Cruz/Fiocruz - Ano XIII - n0 8 - 24/04/2007

 

Ângelo Moreira da Costa Lima (1887-1964)
Costa Lima

Ângelo Moreira da Costa Lima foi o responsável por desvendar valiosos aspectos da entomologia médica, agrícola, veterinária e geral, além de ter sido um pesquisador único no desenvolvimento e na história da Entomologia. Sua paixão pelo conhecimento dos insetos e sua capacidade e dedicação ao trabalho foram os traços marcantes de sua trajetória profissional. Os resultados de suas pesquisas são consultados e reverenciados por pesquisadores, professores e estudantes, prestando indispensável e valioso suporte ao contínuo desenvolvimento do estudo do mais numeroso e diversificado grupo animal existente.

Nascido na cidade do Rio de Janeiro em 29 de junho de 1887, já em 1909 diplomava-se pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro. Ainda estudante, começou a trabalhar no Serviço de Profilaxia da Febre Amarela, onde exerceu o cargo de auxiliar acadêmico entre 1907 e 1910. De outubro de 1910 a julho de 1913 fez parte da “embaixada sanitária”, comissão de 87 pessoas chefiada por Oswaldo Cruz para a extinção da febre amarela no estado do Pará, atuando principalmente nas cidades de Belém, Óbidos e Santarém.

Ainda no Pará, estimulado por Jacques Huber, então diretor do Museu Goeldi iniciou seus estudos de entomologia que somente terminou quando sua vista não mais o permitia. De volta ao Rio de Janeiro, ainda em 1913, passou a freqüentar o Instituto Oswaldo Cruz (IOC), trabalhando inicialmente no gabinete do professor Adolpho Lutz, com mosquitos, além de outros insetos. Em 1914, fez o Curso de Aplicação do IOC. Nesse mesmo ano foi designado pelo ministro da agricultura Miguel Calmon para estudar a broca do café em São Paulo e elaborar um plano de combate à praga junto a Arthur Neiva e Edmundo Navarro de Andrade. Nessa ocasião ajudou também Arthur Neiva a organizar o Instituto Biológico de São Paulo. Ainda nesse período publicou seu primeiro trabalho (Contribuição para o estudo da biologia dos culicídeos: observação sobre a respiração das larvas).

A vida profissional de Costa Lima foi toda dedicada à Entomologia. Participou de campanhas sanitárias, chefiou serviços e laboratórios voltados para o estudo e combate de pragas agrícolas, mas foram o magistério e as pesquisas científicas realizadas em Manguinhos que nortearam seus passos. A carreira no magistério superior ocupou mais de quarenta anos de sua vida. Em abril de 1914, foi nomeado professor interino de Entomologia agrícola da Escola Superior de Agricultura e Medicina Veterinária. Com a extinção da escola, passou a lecionar na então Escola Nacional de Agricultura, atualmente Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, em 1916.

Recebeu os títulos de Doutor Honoris Causa em Agricultura e de Professor Emérito da Universidade Rural, tendo se aposentado em 1956. Em 1916, Costa Lima foi convidado pelo diretor do Museu Nacional, professor Bruno Lobo, para trabalhar com Carlos Moreira na Seção de Entomologia. Lá, criou e dirigiu a partir de 1918 o Serviço de Combate à Lagarta Rosada. Com a extinção do serviço, em 1920, e a criação do Instituto Biológico de Defesa Agrícola nesse mesmo ano, Costa Lima foi convocado pelo ministro da Agricultura para organizar o Serviço de Defesa Sanitária Vegetal do Ministério da Agricultura, onde permaneceu até 1926.

Em 1927, a convite de Carlos Chagas, então diretor do IOC, regressou a Manguinhos como chefe de laboratório, passando posteriormente a ocupar o cargo de biologista. Mais tarde, por volta de 1938, em virtude de lei da desacumulação de cargos criada no Estado Novo, optou pelo cargo de professor da Escola de Agronomia. Embora sem qualquer remuneração, continuou a desenvolver suas pesquisas no IOC onde, auxiliado por Orlando Vicente Ferreira, trabalhou em sua Coleção Entomológica e na elaboração de sua obra científica até depois de 1956, quando foi aposentado compulsoriamente. A coleção referência de sua obra encontra-se hoje preservada na Coleção Entomológica do IOC, sendo base para inúmeras teses de mestrado, doutorado e trabalhos de pesquisa.

Autor de mais de trezentos trabalhos científicos e fundador dos estudos em entomologia agrícola, Costa Lima trabalhou em quase todos os grandes grupos de insetos, com pesquisas sobre dípteros, coleópteros, himenópteros, lepidópteros, hemípteros, ortópteros, isópteros, psocópteros, sifonápteros, entre outros. Na entomologia médica classificou e estudou a biologia de anofelinos, flebótomos e triatomíneos. Sua obra Insetos do Brasil, composta por 12 volumes abrangendo mais de quatro mil páginas, foi a consagração máxima de sua carreira. Outro destaque são os dois volumes do Catálogo dos insetos que vivem nas plantas do Brasil.

Costa Lima foi agraciado com o prêmio Fundação Moinho Santista em 1956 e, em 1962, foi instituído em sua homenagem o prêmio Costa Lima na Academia Brasileira de Ciências, pela família Campos Seabra, destinado a pesquisadores brasileiros de destaque na área de entomologia. Várias espécies foram descritas para homenagear Costa Lima, como Lutzomyia costalimai (Mangabeira, 1942); Wyeomyia limai (Lane & Cerqueira , 1942); Simulium costalimai (Vargas & Martinez Palacios, 1946); e Triatoma costalimai (Verano & Galvão, 1959).

 

 

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