Publicação do Instituto Oswaldo Cruz/Fiocruz - Ano XIII - n0 8 - 24/04/2007

 

Emmanuel Dias (1908-1962)

Emmanuel Dias

 

 

Emmanuel Dias (27/07/1908 – 22/10/1962) foi um dos ícones da pesquisa sobre Trypanosoma cruzi e controle da doença de Chagas no Brasil. Considerado um dos mais brilhantes e autênticos integrantes da “segunda geração” do IOC, toda a vida científica de Emmanuel transcorreu e foi dedicada ao Instituto. O centenário de nascimento do pesquisador está próximo. Nascido em 1908, coincidentemente a mesma época em que Carlos Chagas descobria em Lassance o seu Schizotrypanum, Emmanuel era filho do primeiro assistente de Oswaldo Cruz em Manguinhos, Dr. Ezequiel Dias, e de D. Maria Cândida Fonseca Dias, cunhada do sanitarista.

Menino arguto e estudante exemplar, adorava o pai e o padrinho (Carlos Chagas), nunca lhe passando pela cabeça dedicar-se a qualquer outra coisa que não fosse a Medicina Experimental, em nenhum lugar que não fosse o Instituto. Cursou a Faculdade de Medicina na Universidade do Brasil, na Praia Vermelha, e ganhou experiência com os estágios voluntários que realizou no IOC, sob a orientação do padrinho e tendo como companheiros fraternais e inseparáveis os jovens Walter Oswaldo Cruz e Carlos Chagas Filho. Este conjunto de jovens ficou conhecido na faculdade como “os três mosqueteiros”.

Numa época em que a doença crônica tinha difícil caracterização e em que os casos agudos eram muito escassos, novas gerações de pesquisadores eram requeridas. Emmanuel, Julio Muniz, Hermann Lent e Evandro Chagas, entre outros, foram selecionados por Chagas, num paralelo com a geração argentina de pesquisadores, que despontava com Mazza, Romaña, Niño e Jörg. Emmanuel Dias vai muitas vezes a Lassance, contempla a doença no nascedouro, divisa-lhe as intrincadas determinantes biológicas e sociais, começa a entender as angústias de Chagas. Sua tese sobre o Schizotrypanum cruzi se faz marco memorável, ganhadora do prefácio de Chagas e dos prêmios Gunning e de Louvor. Pouco antes de sua morte, Chagas lhe dará o comando de seu laboratório, ao pé de uma das torres do legendário Hospital.

Começa a publicar em 1929, iniciando-se aí uma das mais profícuas seqüências da produção científica em doença de Chagas, até os dias atuais. Até sua morte, em 1962, Dias publicou mais de 160 trabalhos originais, a maioria dedicada a diversos aspectos da biologia, da clínica, do controle, do diagnóstico e da epidemiologia da doença de Chagas. 

Estimulado por Henrique Aragão, Emmanuel Dias funda, em Bambuí, um Centro de Estudos do IOC, em dezembro de 1943, até hoje em funcionamento, palco e gênese de fundamentais trabalhos sobre a esquizotripanose. Sem deixar sua base no Rio, Dias permanecerá em ininterruptas idas e vindas entre a sede e Bambuí, até sua morte. De seu trabalho se origina a maior casuística sobre forma aguda de transmissão vetorial no Brasil, assim como de sua colaboração com Laranja, Nóbrega e Miranda, do IOC, será definitivamente caracterizada a forma crônica cardíaca da doença.

Desde 1944 Dias combate os triatomíneos, associando-se com Szumlewics, Lent, Bustamante, Aragão e outros em sua descrição e controle. Em 1947, publica com Pellegrino o clássico texto sobre o emprego do Gammexane na luta antitriatomínica, ensejando aí a demarragem da lide continental contra a doença. Conclama políticos, intelectuais, sanitaristas, farmacêuticos e médicos para o reconhecimento da doença e para o seu controle. Estimula continuadamente a investigação, nunca desanimando, prenunciando a eliminação do Triatoma infestans. Desenha e prova estratégias e ferramentas de controle, sendo o principal protagonista da entrada da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) na cruzada contra a tripanossomíase. Emmanuel Dias permanece no Instituto até a sua prematura morte, em 1962, contribuindo incessantemente pelo aprimoramento da Casa, onde ocupou chefias de laboratório e de sessões técnicas, criou e dirigiu um posto avançado, aglutinou serviços e pesquisadores e foi diversas vezes indicado para Diretor e para missões de representação.

Hoje a doença de Chagas é amplamente conhecida, com sua transmissão eliminada em extensas regiões do continente, sendo regularmente controlada em vários países. Emmanuel Dias foi considerado pela OPAS e pelo governo brasileiro como o principal artífice desta vitória, em sessão solene no Ministério da Saúde, em junho de 2006. Tudo isto se passou com um servidor exemplar do IOC. No dizer de Chagas Filho, Emmanuel foi o mais prolífico e atuante dos seguidores diretos de seu pai, merecedor inconteste da admiração e do reconhecimento de seus pares e da população latino-americana.

 

 

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