Publicação do Instituto Oswaldo Cruz/Fiocruz - 23/08/2006

Cooperação com o Tocantins – expandindo o projeto IOC na Amazônia

A ciência e o ensino médico foi o tema de que tratei na aula inaugural do curso de Medicina da Universidade Federal do Tocantins (UFT). Para os 40 novos alunos – dois em cota indígena – eu estava apenas propondo uma introdução à pesquisa, sua filosofia, métodos, perguntas e sentido social, refletindo sobre a formação médica e as necessidades brasileiras. Para mim, era o início de um irrecusável compromisso de estreitar e expandir os laços de cooperação com o animado grupo de recém-doutores que estava se propondo a uma tarefa tão relevante: criar o primeiro curso de Medicina público e gratuito no jovem estado do Tocantins, nucleando a pesquisa nas áreas relevantes no estado e com ela os próximos cursos da área da saúde. Jacenir Mallet, que havia detalhado para mim as atividades de pesquisa, ensino e referência que seis laboratórios do IOC mantinham em nove cidades do Tocantins, já tinha me alertado: “As idéias surgiam de todos os lados. Foi muito emocionante. Ficaram tão empolgados que estão providenciando para que todos os alunos participem, inclusive nas áreas rurais”.

Pois foi impressionada com a empolgação da equipe que me recebeu no Tocantins que assumi pelo IOC e pela Fiocruz a defesa da proposta de realizar um Fórum de Cooperação Fiocruz-UFT em Saúde, gerada nos encontros com os docentes de lá. Todos estão com enorme expectativa, desde o Prof. Alan Barbiero, reitor da UFT, que não mediu esforços para nos receber bem (o Prof. Luiz Anastácio Alves também esteve presente) e propor ampliação das colaborações com a Fiocruz, passando pelo coordenador do curso, Dr. Neilton Araújo, prestes a defender seu doutorado no IOC, até os demais 20 docentes que se reuniram conosco para identificar temas de pesquisa que alinhassem interesses da Fiocruz e da UFT. Criada há apenas cinco anos, a UFT já tem mais de 30 cursos de graduação e 10 mil alunos. O curso de Medicina está totalmente integrado com as necessidades da região e com os serviços do SUS. Ao invés de um único Hospital Universitário, todo o sistema de saúde da cidade e do estado se transformaram em espaços de ensino-aprendizagem nesse curso inovador, elogiado publicamente pela Associação Brasileira de Educação Médica. Desde o ingresso os alunos já participam de serviços de atenção básica à saúde e estudam antropologia em paralelo a Histologia, Bioquímica e Anatomia.

Tocantins, esse belíssimo estado do sul da Amazônia legal, com uma das maiores biodiversidades do planeta por conter cinco diferentes biodemas e as transições (ecótonos) floresta-cerrado-caatinga, soube motivar os doutores de todo o país que para lá estão migrando. Não conheci o típico “tocantinense”, mas uma variedade de pessoas com sotaques de diferentes regiões, atraídos por vagas nos sucessivos concursos: no curso médico já são 13 doutores e 2 mestres. E foi esse grupo que delineou as quatro principais propostas de cooperação com o IOC: Pesquisa em 1) Doenças infecto-parasitárias, com destaque para Toxoplasmose, Leishmanioses, Hanseníase e doença de Chagas; 2) Bioprodutos da Amazônia e do cerrado para saúde e ambiente; 3) Nutrição e imunidade; 4) Ensino, com a constituição de um Doutorado Inter-institucional (Dinter) num consórcio dos 4 cursos de doutorado do IOC (Medicina Tropical, Biologia Parasitária, Biologia Celular e Molecular, Ensino de Biociências e Saúde), ampliando parcerias com nossos colegas do Pará, Mato Grosso do Sul e Manaus.

Para quem embarcou para Palmas no dia 8 de agosto apenas com uma missão relativamente simples de dar uma aula inaugural e conhecer a universidade, o desafio de consolidar essa cooperação Fiocruz-UFT, tão interessante para o IOC, passa a se inserir dentre as prioridades, abrindo caminhos e desvelando oportunidades impensadas. 

 

Tania Araújo-Jorge

 


IOC - Ciência para a Saúde da População Brasileira