Publicação do Instituto Oswaldo Cruz/Fiocruz - Ano XIII - n0 9 - 26/04/2007

 

Técnica brasileira para diagnóstico da doença de Chagas integra esforço internacional para desenvolvimento de medicamentos

Pioneiro na utilização da técnica PCR, ferramenta molecular de análise de DNA amplamente utilizada para o diagnóstico preciso de doenças infecciosas através da identificação e quantificação de parasitos, o Instituto Oswaldo Cruz (IOC) vai colaborar nos próximos dias junto à Organização Mundial da Saúde (OMS) para difundir a utilização da técnica no diagnóstico da doença de Chagas. De 23 a 25 de abril, a bióloga Constança Britto, chefe do Laboratório de Biologia Molecular e Doenças Endêmicas do IOC, participa da Reunião de Consulta Técnica sobre Aspectos Operacionais e Estratégicos para o Desenvolvimento Clínico de Drogas Tripanocidas para a Doença de Chagas, realizada em Buenos Aires pela OMS. A especialista apresentará a utilização da técnica não apenas para o diagnóstico da doença de Chagas, mas também para a avaliação da segurança e eficácia de drogas candidatas ao tratamento da infecção. 

Gutemberg Brito
Constança
Pioneira no uso da técnica PCR, Constança Britto apresenta a especialistas da OMS como a metodologia pode contrubuir para o estudo do diagnóstico e da terapêutica da doença de Chagas

 

Especialista no uso de PCR, Constança desenvolveu na década de 1990, durante seu doutorado, um estudo inédito sobre a utilização da técnica como método diagnóstico da doença de Chagas crônica. A partir daí, tornou-se autoridade no assunto e presta consultoria a diferentes grupos de pesquisa – nacionais e estrangeiros – que utilizam a PCR em seus projetos. “A PCR é uma técnica bastante sensível, excelente para a identificação da presença de escassos parasitos, através da detecção de seu material genético, e para a quantificação da carga parasitária de um paciente. Por ainda ser considerado um ensaio de recente aplicação na doença de Chagas, a técnica ainda não possui um protocolo definido, padronizado, o que resulta na aplicação de diferentes metodologias por vários grupos e conseqüentemente em resultados diversos”, a pesquisadora explica. “Por isso, o objetivo dessa reunião é estabelecer um consenso para a estratégia de desenvolvimento clínico e aperfeiçoar as ferramentas disponíveis para garantir a eficácia e a segurança de potenciais drogas candidatas ao tratamento da doença de Chagas. Meu papel é apresentar as possíveis contribuições e limitações da PCR para o projeto”, apresenta. 

O convite para a reunião da OMS surgiu a partir da participação de Constança no projeto The Benefit Trial (sigla em inglês para Avaliação da Interrupção de Tripanossomíase por Benznidazole), uma aliança inaugurada em 2005 para a avaliação a longo prazo do uso de benzonidazol, droga clássica para o tratamento da doença de Chagas, em pacientes chagásicos cardíacos crônicos. “Sabemos que a administração de benzonidazol não significa a cura completa do paciente crônico, mas a droga de fato reduz a carga parasitária e parece retardar a evolução da doença – daí o interesse de avaliar a efetividade do tratamento, a partir da comparação da evolução da parasitemia nas amostras de sangue de pacientes que serão analisadas por PCR no período pré-tratamento e em diferentes momentos da quimioterapia. Além de avaliar a efetividade da droga, através da comparação da carga parasitária registrada antes e depois do tratamento, o estudo pretende relacionar o índice parasitológico do paciente à patogênese da doença, mostrando como a quantidade de parasitos pode influenciar na evolução do quadro clínico”, Constança descreve. 

Com objetivo semelhante, a reunião da OMS pretende padronizar a metodologia da técnica PCR para utilizá-la como ferramenta para avaliação do efeito de substâncias candidatas ao desenvolvimento clínico de uma droga para o tratamento da doença de Chagas. Como resultado, o encontro produzirá um manual técnico com a descrição da estratégia de desenvolvimento clínico, o critério de seleção de pacientes e a definição da segurança e da eficácia do tratamento, realizada através das análises por PCR e testes sorológicos.  

“É muito gratificante ter o resultado de um trabalho desenvolvido há mais de dez anos reconhecido ainda hoje e ter a certeza de que a minha tese de doutorado não está arquivada em um armário, como acontece com muitos trabalhos, mas que contribui de fato para o desenvolvimento da ciência”, Constança comemora.

Bel Levy


IOC - Ciência para a Saúde da População Brasileira