Publicação do Instituto Oswaldo Cruz/Fiocruz - Ano XIII - n0 30 - 27/09/2007

 

Alerta sobre o tratamento de esgoto hospitalar
24º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental premia parceria entre IOC e Ensp

Resultado de uma parceria entre o Instituto Oswaldo Cruz (IOC) e a Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp), ambos da Fiocruz, uma pesquisa que aponta a necessidade de adequação da rede de tratamento de esgoto hospitalar acaba de ser premiada como melhor pôster do 24º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental, realizado entre os dias 02 e 07 de setembro em Minas Gerais. O trabalho Perfil de bactérias resistentes a antibióticos em efluente de esgoto hospitalar, desenvolvido pela estudante Tatiana Prado no Laboratório de Enterobactérias do IOC durante o mestrado em Saúde Pública pela Ensp, analisou os efluentes da estação de tratamento de esgoto de um hospital do município do Rio de Janeiro com o objetivo de avaliar seu desempenho na remoção de agentes patogênicos. Os resultados indicaram uma alta prevalência da bactéria Klebsiella pneumoniae com padrões de multiresistência em todas as amostras analisadas.

Laboratório de Enterobactérias/IOC

A imagem exibe um antibiograma para o teste de sensibilidade de bactérias (espalhadas pela placa de petri) a diferentes antimicrobianos: os círculos vazios em volta dos medicamentos (pastilhas brancas) indicam a suscetibilidade dos microrganismos

A bactéria Klebsiella pneumoniae integra a flora natural do intestino humano, mas também pode ser agente etiológico causador de penumonia, uretrites e septicemia. Além disso, é um  dos microrganismos mais incidentes em infecção hospitalar, acometendo crianças e adultos hospitalizados. Para a autora do trabalho, os resultados são relevantes porque corroboram o fato de que as águas residuais provenientes de estabelecimentos de assistência à saúde têm grande potencial para disseminar agentes patogênicos e que o tratamento efetivo destes resíduos não pode ser negligenciado. “Analisamos o material coletado em três momentos: anteriormente ao tratamento, amostras retiradas dos filtros da estação de tratamento e o produto final, que deveria estar descontaminado. A contagem de microrganismos detectou bactérias multirresistentes em 100% do material analisado, incluindo amostras de lodo e de efluente tratado, o que pode resultar na disseminação dos genes de resistência no ambiente e provocar sérios impactos negativos à saúde pública, sobretudo em regiões que carecem de serviços de saneamento básico adequados”, Tatiana explica.

O ambiente hospitalar exerce uma pressão seletiva para que as bactérias desenvolvam resistência a antimicrobianos. Quando disseminadas no ambiente, estas bactérias podem transferir genes de resistência a outras bactérias patogênicas, até então suscetíveis aos medicamentos.O estudo comprova que o esgoto hospitalar é fonte de bactérias multirresistentes, podendo atuar como elemento  de disseminação destas bactérias no ambiente, e indica que o tratamento conferido ao esgoto hospitalar não foi suficiente para realizar a descontaminação do material. A situação se torna ainda mais grave se considerarmos que a maioria dos estabelecimentos de assistência à saúde do país não possui rede para o tratamento de esgoto hospitalar”, alerta a bacteriologista Marise Dutra Asensi, pesquisadora do Laboratório de Enterobactérias do IOC e co-orientadora de Tatiana no estudo.

Bel Levy

 

 

IOC - Ciência para a Saúde da População Brasileira