Publicação do Instituto Oswaldo Cruz/Fiocruz - Ano XV - n0 16 - 09/07/2009

 

Unidos contra a doença de Chagas

Este é um ano especial no combate à doença de Chagas. Em 1909, Carlos Chagas, grande cientista que deixou sua marca na Fiocruz e na ciência mundial, anunciava ao mundo uma tripla descoberta, feito único na história da medicina por incluir todo o ciclo da doença: agente etiológico causador, inseto vetor e infecção humana.

Para marcar este fato, a Fiocruz está realizando desde quarta-feira, dia 8, o Simpósio Internacional Comemorativo do Centenário da Descoberta da Doença de Chagas. O evento reúne especialistas de nove países e 14 estados brasileiros para discutir o desenvolvimento de vacinas, medicamentos e novas estratégias de combate à doença. Unidos pelo propósito de contribuir para a superação global da doença de Chagas, recebemos desde grandes catedráticos a jovens pesquisadores, num verdadeiro encontro de diferentes gerações de médicos, cientistas e historiadores. Uma saudável combinação de experiência e vigor, fundamental para o fortalecimento da frente de combate a esta enfermidade, que afeta cerca de 12 milhões de pessoas na América Latina e é a quarta causa de morte devido a doenças infecciosas no Brasil.

Os números impressionam, mas eles refletem ainda reverberações do passado. Na história recente desta doença, há muito o que comemorar. Conseguimos, com muito esforço e competência, alcançar o controle do vetor em nosso país. Em 2006, o Brasil foi certificado pela OMS por ter controlado a transmissão pelo Triatoma infestans, nosso barbeiro mais comum, em todos os estados do país. Além disso, passamos de uma estatística de 100 mil novos casos por ano a menos de 100 casos agudos por ano, no espaço de duas décadas. É um resultado e tanto em termos de vidas poupadas e de bem-estar dos pacientes.

Mas, claro, persistem desafios que instigam a ciência a seguir adiante. Precisamos dar sustentabilidade ao controle do vetor, prevenir a transmissão por outros mecanismos, como a via alimentar, redobrar a atenção sobre o impacto de instabilidades ambientais sobre o ciclo silvestre do vetor da doença, o que pode favorecer novas formas de transmissão, e garantir a atenção, a qualidade de vida e a dignidade aos mais de quatro milhões de pacientes agudos e crônicos que existem no país.

Estes desafios, com certeza, serão menores com uma maior união em relação ao tema. O Simpósio, unindo pesquisadores e especialistas, e a mobilização da sociedade civil, com a realização de um ato conjunto hoje, na Praia de Copacabana, das ONGs Médicos Sem Fronteiras (MSF) e Drugs for Neglected Diseases Initiative (DNDI), nos alertam indicando que estamos no caminho certo.

Temos um compromisso com Carlos Chagas. Há cem anos ele descobriu a doença que, como as evidências históricas comprovam, convive com a Humanidade há mais de nove mil anos. Com as possibilidades que a ciência atual nos abre, estamos cada vez mais perto de honrar nosso compromisso. Chagas fez a parte dele. Estamos fazendo a nossa, com o mesmo empenho, paixão e engajamento.

Tania Araújo-Jorge

 

IOC - Ciência para a Saúde da População Brasileira