Publicação do Instituto Oswaldo Cruz/Fiocruz - Ano XII - n0 38- 26/10/2006

 

I Encontro de Qualidade, Biossegurança e Ambiente
lançou bases para a construção do desenvolvimento institucional integrado

Nos dias 18 e 19 de outubro, o I Encontro da Qualidade, Biossegurança e Ambiente (QBA) do Instituto Oswaldo Cruz (IOC) reuniu estudantes, pesquisadores e gestores com o objetivo de informar e sensibilizar sobre a importância da integração destes três componentes fundamentais para o desenvolvimento institucional integrado. Para discutir os temas, foram recebidos especialistas de diversas entidades além da Fiocruz. Uma mostra fotográfica completou o clima integrador do encontro expondo imagens produzidas por funcionários da Fundação. O Encontro, organizado pelo Grupo de Trabalho  de Capacitação do QBA-IOC, foi acompanhado por 147 pessoas e transmitido pela Rede Fiocruz.

A necessidade de consolidar um Sistema de gestão da Qualidade, estruturado a partir da integração entre Qualidade, Biossegurança e Ambiente, foi consenso entre os integrantes da mesa de abertura do evento: Hermann Schatzmayr, presidente da Comissão Interna de Biossegurança (CIBio); Martha Barata , coordenadora da Comissão Interna de Gestão Ambiental (CIGAmb); Márcia Leite Baptista, coordenadora do Grupo de Trabalho da Qualidade; e Tania Araújo-Jorge, diretora do IOC; além de Ary Miranda, Vice-presidente de Serviços de Referência e Meio Ambiente da Fiocruz. O vice-presidente parabenizou o Instituto pelos esforços realizados para a estruturação e integração das três áreas, ressaltando que a iniciativa é importante não só para o cotidiano do IOC, mas também para o desenvolvimento estratégico do país, uma vez que a gestão da qualidade é uma exigência internacional cada vez mais rígida. “Nosso compromisso social é com a saúde pública”, concluiu.

Gutemberg Brito
Marlene Marchiori (à esquerda), Ary Miranda, Dália Maimon e
Alceu Castello Branco participaram da mesa-redonda
sobre cultura organizacional

Tania Araújo-Jorge situou o evento como uma estratégia de desenvolvimento institucional, baseada na visão de futuro construída durante o II Encontro do IOC, realizado em março deste ano. Na ocasião, foram estabelecidas metas para que até 2015 o Instituto se torne uma instituição de pesquisa de excelência, reconhecida pela "qualidade de sua ação de referência em diagnóstico, assistência e vigilância epidemiológica" – tanto pelo Ministério da Saúde quanto pela população. Para isso, Tania afirmou, é imprescindível a consolidação de um Sistema da Qualidade, o que exige uma mudança cultural, apenas alcançável através do compromisso coletivo dos laboratórios do Instituto.

Identificar desafios como oportunidades de crescimento

Na palestra QBA & Desenvolvimento Institucional: o retrato de hoje e as perspectivas futuras , o presidente da CIBio/IOC definiu a tríade como um processo irreversível de evolução, determinante da modernização das unidades da Fiocruz. Schatzmayr apresentou as atividades de Padronização de Materiais, Experimentação Animal, Capacitação Profissional, Editoração, Adequação Laboratorial e de Indicadores de Produtividade, que foram estruturados como base desse processo.

Entre as ações desenvolvidas pela CIBio/IOC, Hermann destacou o gerenciamento de organismos geneticamente modificados; o desenvolvimento de políticas para uso de equipamentos de proteção individual; a realização de obras em áreas de lavagem; a montagem de Grupos-Técnicos; a aquisição de 46 câmaras de segurança, de instrumentos para o trabalho com radioatividade e de autoclaves modernas; a capacitação de interlocutores e demais profissionais através de diversos cursos – sobre cargas perigosas, desenvolvimento e manutenção de áreas de nível 3 de biossegurança, biossegurança em laboratórios de pesquisa biomédica, gestão da qualidade laboratorial, boas práticas laboratoriais e gerenciamento de resíduos laboratoriais, entre outros.

Gutemberg Brito
Apesar do tema árido, Hermann Schatzmayr descontraiu a
platéia com o recurso a exemplos concretos sobre biossegurança

Como desafios, reconheceu os problemas sociais e ambientais no entorno do campus, a dificuldade de comunicação interna entre unidades da Fundação, o desenvolvimento de instrumentos eficientes para sistemas de documentação e a visão equivocada sobre as auditorias em laboratórios. O pesquisador também destacou a cultura de resistência a mudanças como um importante fator neste contexto. Para vencer esses obstáculos, depositou esperanças na responsabilidade de cada um e no trabalho de todos.

Cultura organizacional em debate

A primeira mesa-redonda do evento discutiu o tema Cultura Organizacional. A especialista Marlene Marchiori, da Universidade Estadual de Londrina, iniciou a exposição descrevendo o conceito de cultura organizacional e apontando caminhos para mudá-la. “A cultura organizacional é a essência de uma organização”, afirmou. “É constituída por seus sistemas, processos e expectativas comportamentais, construídas através do tempo, e que afetam todas as partes”, explicou.

Segundo Marlene, é necessário promover um ambiente interno que oportunize a satisfação, o aprendizado e o conhecimento. “O sucesso de uma organização depende não só da estrutura, mas da forma como nos comunicamos e relacionamos. Cultura organizacional e comunicação são recursos indissociáveis, já que a informação deve gerar uma ação”, ressaltou. Sobre a mudança de cultura, a especialista alerta que não só os funcionários, mas a organização como um todo deve participar do processo. “A mudança só acontece quando é incorporada pelo grupo.  É preciso haver um fortalecimento do diálogo entre as pessoas para alcançar o objetivo desejado”, finaliza.

Representante da Associação Brasileira das Instituições de Pesquisa Tecnológica (ABIPTI), Alceu Castelo Branco apresentou o tema A excelência na criação do valor. O especialista destacou que o respeito à diversidade de uma organização é fundamental para definir valores voltados para o resultado em instituições de ciência e tecnologia. “Fundamentos de excelência como visão de futuro e inovação estão presentes nas melhores empresas do mundo, que são aquelas que agem globalmente”.

Gutemberg Brito
Alceu Castelo Branco apresentou o Projeto Excelência
na Pesquisa Tecnológica da ABIPTI

O convidado apresentou os critérios utilizados no Projeto Excelência na Pesquisa Tecnológica, desenvolvido pela ABIPTI desde 1998 e que já conta com a adesão de 54 instituições de ciência e tecnologia, dentre as quais o IOC. “O Projeto Excelência tem como objetivo definir um conjunto de indicadores de desempenho para institutos de pesquisa tecnológica e avaliar suas práticas de gestão. O resultado tem sido surpreendente”, avalia. Para finalizar, Castelo Branco lembrou que, em se tratando da Fiocruz, a valorização das pessoas é um elemento fundamental. “O principal produto do Instituto é intelectual e, por isso, valorizar os profissionais é fundamental para que o resultado apareça”.

A responsabilidade ambiental e social nas organizações foi o tema explorado por Dália Maimon, da Universidade Federal do Rio de Janeiro. “A mudança na forma como as empresas e organizações passaram a se relacionar com seus públicos”, disse, “fez com que a responsabilidade social coorporativa emergisse. A multiplicidade de atores com quem as empresas se relacionam ganhou uma abrangência maior e fez com que o olhar não se limitasse apenas ao aspecto econômico”, avalia, ressaltando que o diálogo com a comunidade promove crescimento e traz credibilidade.


Experiências consolidadas ilustram temas de biossegurança

A mesa-redonda sobre Biossegurança, que encerrou as atividades do primeiro dia de encontro, recebeu Hamilton Coelho, responsável pela implantação da Comissão Interna de Biossegurança (CIBio) do Instituto Fernandes Figueira (IFF), da Fiocruz, em 1998. Coelho relatou sua experiência e os avanços da CIBio/IFF. Além de consultorias e palestras em todo o Brasil, um dos frutos mais importantes do trabalho desenvolvido foi a criação de uma página na internet (www.biossegurancahospitalar.com.br) que disponibiliza informações sobre biossegurança hospitalar e realiza de cursos online sobre o tema. “Atualmente o curso é gratuito e já formou sua primeira turma. A segunda edição acontecerá em breve. Além disso, estamos promovendo a nona edição do curso de atualização em biossegurança hospitalar, que inclui 19 temas sobre o assunto”, comemorou.

Gutemberg Brito
Hamilton Coelho apresentou a experiência do Instituto Fernandes Figueira na implantação da Comissão Interna de
Biossegurança, em 1998

A biossegurança em bancos de sangue foi tema da exposição de Silvia Maria de Carvalho, do Instituto Estadual de Hematologia Arthur de Siqueira Cavalcanti (Hemorio), que realiza cerca de três milhões de exames de laboratório e coleta cerca de 100 mil bolsas de sangue anualmente. O trabalho, Silvia descreve, envolve dois focos principais: a segurança do produto e a segurança do trabalhador. “Em relação ao produto, neste caso o sangue, medidas como o cuidado no descarte das bolsas positivas, a liberação e transferência adequada de bolsas negativas, e testes como o de HIV, sífilis e Chagas são fundamentais”, apontou. Já a segurança dos funcionários é garantida pela atuação de um comitê interno de biossegurança, por medidas educacionais – como treinamentos constantes – e por medidas médicas – como exames periódicos.

O último convidado do dia foi o advogado Marcelo Varella, que trouxe para o debate o impacto da nova legislação sobre as atividades das CIBios. De acordo com o advogado, a principal mudança definida pela nova legislação, que entrou em vigor em julho deste ano, está relacionada às responsabilidades das comissões. “A CIBio aprovada pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) passa a ser responsável pela fiscalização interna e pode até aplicar sanções se necessário. Além disso, cada laboratório deverá contar com um técnico responsável que responderá por assuntos relacionados a biossegurança”. Varella apresentou ainda as sanções administrativas e penais previstas em lei para o descumprimento das normas de biossegurança. “Entre as sanções administrativas estão multas que variam de R$ 2 mil até R$ 1,5 milhão, além da suspensão de registro do laboratório. Entre as sanções penais, estão incluídas a reclusão de até quatros anos entre outras, como as descritas nos artigos 60, 68 e 69 da Lei de Crimes Ambientais”, finaliza.


Gestão da Qualidade é tema de debates no segundo dia de evento

“A gestão da qualidade consiste em prever todas as possibilidades de forma a evitar o erro. É dizer o que faz, fazer o que diz e provar”, sintetizou Ana Beatriz Moraes da Silva, da Vice-Presidência de Serviços de Referência e Ambiente (VPSRA) da Fiocruz, durante a palestra Qualidade: Gestão da qualidade em laboratório de pesquisa biomédica, que iniciou as atividades do I Encontro QBA do IOC no dia 19 de outubro. “Somos humanos e podemos errar. No entanto, é preciso identificar o erro, tomar ações corretivas e avaliar constantemente as ações”. Ana citou como itens importantes a serem analisados a organização e gerenciamento, o processo contínuo de melhoria, auditorias internas, análise crítica pela gerência, registros de qualidade e técnicos, entre outros aspectos.

Gutemberg Brito
Ana Beatriz defendeu a necessidade de avaliação constante
das ações como forma de garantir a qualidade

Formada em engenharia química, Ana comentou as três principais normas dos sistemas de gestão da qualidade laboratorial: o INMETRO estabelece duas ( Boas Práticas de Laboratório e Gestão da Qualidade em Laboratórios Clínicos ), enquanto a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) publica a Gestão da Qualidade em Laboratório de Ensaios e Calibração . “Segundo as normas do INMETRO, os estudos em laboratório e no campo devem ser planejados, realizados, monitorados, registrados, relatados e arquivados”, explicou. “Dentro de um laboratório não vale nem papel nem rascunho. O que vale é o documento, que tem data, número da versão e assinatura”, exemplificou.

A palestrante alertou para a importância da organização dentro de um laboratório. “Em casa, podemos ser desorganizados. No entanto, se você não é organizado em laboratório, pode colocar a vida de outra pessoa em risco”. Ana procurou diferenciar os conceitos de reclamação e queixa , visto que muitos laboratórios não estão adequados aos Procedimentos Operacionais Padrões (POPs). “A queixa não existe, não tem registro”, disse. Já em relação à reclamação , citando o exemplo da própria VPPDT/Fiocruz, ela ressaltou que é necessário que a reclamação seja avaliada, tenha um caráter não-pessoal e que seja vista como uma oportunidade de melhoria.


Diferentes experiências em gestão foram confrontadas

A médica Margareth Portella, representante da Secretaria Estadual de Saúde (RJ) e gestora da Unidade Neonatal do Hospital Estadual Pedro II, em Santa Cruz; a bióloga Cássia Dias Pereira, da Vice-Presidência de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico (VPPDT) da Fiocruz, e Sonia Regina Magalhães Jou, também da VPPDT/Fiocruz, com formação em administração de empresas, foram as debatedoras da mesa redonda sobre Qualidade.

Gutemberg Brito
Margareth Portella discutiu os desafios da imlpantação da gestão
da qualidade na Unidade Neonatal do Hospital Estadual Pedro II

Margareth Portella traçou um histórico sobre os diversos problemas enfrentados pela Unidade Neonatal do Hospital Estadual Pedro II, um dos mais importantes hospitais públicos em Santa Cruz. O bairro tem uma população de 300 mil habitantes e o segundo pior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH, índice medido pela ONU) do Rio de Janeiro, atrás apenas de Acari. Segundo Margareth, o Hospital Pedro II sofreu resistências internas ao buscar excelência em atendimento e gestão em saúde.

Apesar do grande avanço realizado, foram muitos os desafios enfrentados pela equipe de Margareth durante o processo de mudança, incluindo as reações adversas às iniciativas que confrontam os paradigmas do serviço público, a ausência de políticas públicas incentivadores de gestão da qualidade (as iniciativas são isoladas) e as freqüentes trocas de gestores nos hospitais estaduais públicos. Ela ressaltou também que existe um forte desestímulo à criação de vínculos profissionais com a instituição e a inexistência de práticas modernas de gestão de pessoas, além das grandes perdas salariais e o desabastecimento rotineiro de insumos e medicamentos.

“Há uma grande dificuldade para manter a motivação e a sensibilização dos funcionários”, sintetizou. O processo de busca de uma cultura de excelência, que segundo Margareth sempre esteve presente na Unidade Neonatal, envolveu planejamento estratégico com definição e revisão das diretrizes, envolvimento de um grupo de trabalho transdisciplinar e a colaboração de consultores externos voluntários. “De 1999 para cá, reduzimos os óbitos de 30 a cada mil para 1,75 a cada mil por ano”, ressaltou.

A bióloga Cássia Dias Pereira, da Vice-Presidência de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico (VPPDT) da Fiocruz, abordou em sua palestra o tema Gestão da qualidade em laboratório privado. “Como passar pelo processo de implementação de um sistema da qualidade?”, indaga Cássia. Durante 13 anos, Cássia atuou em um laboratório de imunologia privado e conta que havia um grande desafio, que não poderia ser deixado de lado por determinação superior, de adequar o laboratório a um sistema de gestão da qualidade.

Gutemberg Brito
A bióloga Cássia Dias trouxe uma reflexão
sobre sua experiência no setor privado

As principais resistências enfrentadas à época, explicou, giravam em torno do excesso de burocracia e necessidade de continuar a rotina. “A qualidade do nosso produto já existia, mas faltava levar em conta o custo do nosso trabalho, prazos, satisfação do nosso cliente e avaliação da qualidade do produto”, observou, ressaltando que os POPs são um detalhe, porque a Gestão da Qualidade envolve também o treinamento de profissionais e o registro de dados, entre outros aspectos. “E a burocracia? Não tem jeito. Um sistema da qualidade precisa de registros e documentos”, admitiu.

Cássia acrescentou que as atividades de gestão da qualidade devem ser realizadas em paralelo à rotina do laboratório. “Com o tempo, observamos que esse tempo supostamente perdido acaba por eliminar parte das rotinas desnecessárias”, avaliou. Ela afirmou também que a gestão da qualidade precisa levar em conta as pessoas, por meio de processos de sensibilização, treinamento e valorização dos recursos humanos. “No entanto, na Imunologia, excesso de sensibilização causa processo alérgico. A pessoa acaba não querendo nem falar do tema”, brincou. Cássia argumentou que o processo de implementação da gestão da qualidade leva tempo, é difícil e tem de ser feito passo a passo. O mais importante, destacou, é começar.

A terceira palestrante, Sonia Regina Magalhães Jou, apresentou sua visão quanto à gestão da qualidade com foco em administração de empresas, sua área de formação. Sonia representou a Vice-Presidência de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico da Fiocruz e enfatizou o funcionamento do Programa de Desenvolvimento Tecnológico em Insumos para Saúde (PDTIS), abordando seus objetivos, estrutura e principais objetivos.

O PDTIS tem como meta estimular e dar ênfase às atividades de pesquisa aplicada e de desenvolvimento tecnológico na instituição, com vistas ao desenvolvimento de produtos e processos com impacto na área de saúde pública e no controle de doenças infecto-parasitárias. Segundo Sonia, os processos de gestão pretendidos pelo PDTIS estão focados em três aspectos: gestão da informação, gestão de recursos e gestão da medição, análise e melhoria. “O jeitinho e o improviso não funcionam para a gestão da qualidade”, resumiu.


Meio ambiente em pauta

Membro do Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima, Roberto Schaeffer, da Coordenação dos Programas de Pós-graduação de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), foi o palestrante convidado para iniciar as atividades da última tarde do encontro. Além dele, que expôs sobre as mudanças ambientais globais, uma mesa redonda, que explorou questões relacionadas ao meio ambiente e contou com quatro convidados especialistas em gestão ambiental empresarial, encerrou o evento.

Roberto citou que, segundo o IPPC, órgão criado em 1988 pela Organização Meteorológica Mundial (OMM) e pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), apenas 25 países são responsáveis por 83% das emissões mundiais de gases de efeito estufa. E, em conseqüência da emissão desses gases na atmosfera, as últimas cinco décadas foram as mais quentes em seis séculos – a partir de 1990 registraram-se os anos mais quentes dos últimos 150 anos. Segundo Schaeffer, as mudanças climáticas representam o mais perigoso e intratável problema ambiental da civilização. “Mais perigoso porque o clima é o envelope dentro do qual todas as outras condições e processo ambientais operam e mais intratável porque o motor do problema são as emissões de gás carbônico (CO2) decorrente de da combustão de combustíveis fósseis, de onde a civilização tira 80% de sua energia”, explicou.

Maria Castro
Roberto Schaeffer apresentou dados alarmantes
sobre o aquecimento global

“Em função da emissão de gases de efeito estufa na atmosfera, estima-se que nos próximos 100 anos a temperatura média do planeta aumente em 1,5ºC. Nos últimos 150 anos, este aumento foi de 0,8ºC”, comparou.  No Brasil, ao contrário dos demais países, um quarto da emissão de gases ocorre em função do uso da energia e os outros três quartos em função do desmatamento da Amazônia, que pode aumentar em 10 º C sua temperatura no próximo século. Além disso, o palestrante chamou atenção para o fato de que já existem os chamados refugiados ambientais. “Com a elevação dos níveis dos oceanos, já é possível prever o desaparecimento de algumas ilhas do pacífico e, com isso, os moradores estão sendo retirados e orientados a procurar outros lugares para viver”, enfatizou.

O especialista alertou que as mudanças climáticas afetarão de forma diferente cada região do mundo e causarão conseqüências mais intensas nos países em desenvolvimento. “O mundo é cada vez mais dependente de energia e será difícil viver sem ela”, argumentou, ressaltando que só as inovações tecnológicas não bastarão para amenizar o problema. “Mudanças profundas no padrão de consumo terão que acontecer e o imperativo, neste momento, é o engajamento das principais economias do planeta para estabelecer ações para curto prazo e objetivos de longo alcance. Precisamos reduzir em 60% da energia utilizada hoje para estabilizar as conseqüências que poderão surgir”, finalizou.

Convidada para apresentar a Agenda Ambiental na Administração Pública (A3P), a representante do Ministério do Meio Ambiente (MMA), Patrícia Grazinolli, apresentou o projeto criado em 1999 dando início à mesa redonda sobre Ambiente. Entre as ações propostas estão a reutilização do papel e a coleta seletiva do lixo em instituições públicas. Mas, segundo Patrícia, além do combate ao desperdício, a inclusão de critérios sócio-ambientais nas licitações e a sensibilização dos servidores são fundamentais para o sucesso do A3P. “A idéia é inserir a variável ambiental em nossas ações do dia-a-dia e não pensar só globalmente. Isto significa a adoção de novos procedimentos administrativos como a utilização racional de água e energia e a adequação de contratos públicos às concepções de consumo sustentável”, finalizou. Um manual foi lançado em 2001 e no site do MMA (www.mmagov.br/a3p) está disponível um vídeo de apresentação do projeto, incluído este ano como item do Plano Plurianual do MMA.

Gutemberg Brito
Patrícia Grazinolli (à esquerda), Débora Cynamon, Telma Malheiros, Márcia Droslhagen e Martha Barata participaram da mesa-redonda sobre meio ambiente

A ecoeficiência e a gestão de resíduos sólidos na Fiocruz foram tema da segunda apresentação da mesa redonda, feita por Débora Kligerman, da Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP). Eleita como prioridade, a gestão de resíduos sólidos foi instituído na Fundação em 2002, quando o volume total de resíduos chegava aproximadamente a 11 toneladas.  “Através de um grupo, foram definidos 15 critérios, indicadores e metas a serem alcançados por cada unidade da Fiocruz”, Débora descreveu. “Para que haja ecoeficiência no gerenciamento de resíduos na Fundação é necessário que exista uma equipe dedicada integralmente a este processo e que haja a sensibilização dos gestores de cada unidade, além de alocação de recursos e o desenvolvimento de um diagnóstico”, finaliza.

Em seguida, a consultora Márcia Droslhagen, integrante do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável, apresentou as dificuldades e benefícios do projeto Produção mais Limpa (www.pmaisl.com.br), desenvolvido em parceria com o Sebrae para micro e pequenas empresas. O projeto tem como objetivo implantar uma estratégia preventiva e integrada para aumentar a produtividade, melhorar o desempenho ambiental e consolidar a ecoeficiência nas empresas. “Geralmente, a causa de geração de resíduos são práticas operacionais inadequadas, falta de planejamento, tecnologias absoletas e desconhecimento”, resume Márcia. Com uma pequena adaptação para Pesquisa Mais Limpa, o Instituto Oswaldo Cruz já deu os primeiros passos para a implantação do projeto.

Para fechar a mesa redonda, a advogada Telma Malheiros, do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), expôs sobre as respostas de empresas à política ambiental. Segundo ela, o comportamento das empresas em relação às questões ambientais pode ser dividido em três categorias: as empresas reativas, que são aquelas que permanecem na ilegalidade; as adaptativas, que apenas cumprem a lei; e as pró-ativas, que são aquelas que, por conta própria, realizam mais do que o exigido por lei. “Não podemos comparar as empresas brasileiras com a dos países desenvolvidos já que lá o parafuso já está apertado; isto é, os requisitos de desempenho ambiental saudável são aplicados”, avalia Telma. “Por isso, no Brasil, são cada vez maiores os instrumentos repressivos e não de fomento como em países de primeiro mundo”, finaliza.

Renata Fontoura e Gustavo Barreto


IOC - Ciência para a Saúde da População Brasileira