Publicação do Instituto Oswaldo Cruz/Fiocruz - Ano XII - n0 38- 26/10/2006

 

Oficinas e mostra científica movimentam
Semana Nacional de Ciência e Tecnologia no IOC

Com o tema Criatividade & Inovação, a 3ª Semana Nacional de Ciência e Tecnologia mobilizou atividades em todo o país de 16 a 23 de outubro. O Instituto Oswaldo Cruz (IOC) não ficou de fora: participou com oficinas de Ciência e Arte para educadores, realizadas no Castelo de Manguinhos, e com uma mostra do acervo da Coleção Entomológica.

Criatividade no foco da ciência e da arte

É possível desenvolver e treinar ferramentas mentais para incentivar a criatividade e a inovação? Quais as relações de ciência e arte com esse desafio? Essas foram as perguntas respondidas pelos participantes da Oficina Criatividade, Arte e Ciência, conduzida por Tania Araújo-Jorge, diretora do IOC, que coordena pesquisa sobre essa linha com financiamento do programa Papes-CNPq. Entre os participantes havia professores de ensino médio, estagiários de laboratórios de pesquisa e até mesmo docentes da Pós-Graduação em Ensino de Biociências e Saúde do Instituto.

Gutemberg Brito
A oficina Criatividade, Arte e Ciência instigou os participantes a observar imagens com diferentes olhares

O médico pediatra da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp), Pedro Jonathan, foi um dos participantes da oficina. “Já trabalho com cinema há algum tempo. É a primeira vez que encontro uma iniciativa como esta na Fiocruz. Não sabia que o IOC tinha pessoas que trabalhavam nesta área”, afirmou Pedro, que também é ator formado pela UNIRIO e trabalha com cinema na Universidade Federal Fluminense (UFF).

Gutemberg Brito
O pediatra Pedro Jonathan destacou as interfaces
entre cinema e ciência

Os participantes realizaram exercícios de reflexão sobre o perfil de artistas e cientistas e sobre as ferramentas por eles utilizadas para estimular a imaginação e a criatividade, como observar, evocar imagens, abstrair, reconhecer e formar padrões, estabelecer analogias, pensar com o corpo, ter empatia, pensar de modo dimensional, criar modelos, brincar, transformar e sintetizar.

Ciência numa linguagem inusitada

Histórias em Quadrinhos (HQs) sobre a Era dos Dinossauros são o pano de fundo para, em sala de aula, introduzir temas sobre a História da Arte, evolução e até mesmo biodiversidade. Esta é a conclusão de Claudia e Thiago, participantes da oficina Ciência, Tecnologia e Saúde nas Histórias em Quadrinhos , uma das atividades do ciclo de oficinas de ciência e Arte desenvolvido pelo IOC durante a 3ª Semana Nacional de Ciência e Tecnologia.

Sob coordenação de Claudia Kamel, mestre em Ensino em Biociências e Saúde pelo IOC, e Lucia de La Rocque , pesquisadora do Instituto, a oficina de HQs procurou incentivar a reflexão sobre o uso dos quadrinhos para discussões em aula sobre política, violência e gênero, entre outros temas. “As questões do ser humano não mudam. Passam anos, décadas, mas as questões centrais não mudam”, argumenta Claudia, exibindo revistas em quadrinhos de um mesmo autor datadas de anos distintos.

Gutemberg Brito
Durante a oficina, os participantes puderam perceber o potencial das histórias em quadrinhos para o ensino de ciências

Uma das atividades desta oficina, realizada no dia 18, promoveu a elaboração de finais distintos dos apresentados nas histórias em quadrinhos originais, permitindo que os participantes pudessem reelaborar os conceitos escolares de acordo com o conteúdo pedagógico a ser abordado. “As HQs podem ser utilizadas em qualquer segmento escolar, na elaboração de histórias e na sistematização de conceitos”, ressalta Claudia.

No final proposto por Elienai, uma das participantes da oficina, até mesmo o ponto de vista de uma bactéria ganha uma nova versão: a bactéria tenta se estabelecer em um humano, mas encontra muita resistência por parte dos outros vírus e bactérias lá presentes. A discussão entre os microorganismos gera um interessante debate sobre água, doenças e cuidados com a saúde.

Ateliê resgata confiança de pacientes

Os cuidados com a saúde – física e mental – também é tema no projeto Ateliê da Saúde, que durante a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia do IOC virou oficina. “Eu faço porque a gente se sente bem sabendo que não vai ao médico só para tomar injeção ou remédio”, confidencia Maria do Socorro, que vive com o HIV e está em tratamento há 14 anos no Instituto de Pesquisa Clínica Evandro Chagas (IPEC), na Fiocruz. “Estou desde o começo no projeto”, se orgulha.

Gutemberg Brito

O Ateliê da Saúde, desenvolvido pelo Ipec, virou oficina durante a Semana de Ciência e Tecnologia

O Ateliê da Saúde começou em 2001 e tem o que comemorar: 180 pessoas já participaram de oficinas como a desta semana e, cinco anos depois, gerou uma tese de mestrado em Ensino em Biociências e Saúde pelo IOC. A participação no projeto é voluntária e conta em grande parte com a ajuda de biólogos da Fiocruz e pacientes do IPEC. Ocorrendo inicialmente às quintas, o projeto pretende se estender para todos os dias.

Márcia Franco, coordenadora da oficina, mestre em Ensino em Biociências e Saúde pelo IOC e autora da tese Ateliê da Saúde: experiência de praxiterapia com clientes do Instituto de Pesquisa Clínica Evandro Chagas , contou nesta oficina com a participação dfa voluntária Glória, do Laboratório de Imunopatologia do Departamento de Bioquímica e Biologia Molecular do IOC, que ensinou em detalhes aos participantes como pintar e personalizar pequenas caixas, e Claudia Andreozzi, do Instituto Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz). O projeto Ateliê da Saúde é realizado com pacientes internados ou vinculados a tratamentos ambulatoriais e propõe atividades de artes plásticas para expressão de sentimentos relativos a expectativas e angústias sobre os quadros clínicos.

Coleção Entomológica expõe biodiversidade e populariza ciência

Na varanda do castelo Mourisco, a exposição da Coleção Entomológica, realizada em parceria pelo Laboratório da Coleção Entomológica do IOC e pelo Museu da Vida/Casa de Oswaldo Cruz (COC), exibiu alguns dos cerca de 5 milhões de exemplares que compõem o acervo da Coleção, encantando os visitantes ao mostrar que insetos – como borboletas – também podem ser bonitos.

Gutemberg Brito

A estrutura do bicho-pau dialoga com a aerodinâmica do
14 Bis de Santos Dummont, homenageado da
3ª Semana Nacional de Ciência e Tecnologia

“Achei a mostra surpreendente, não estou acostumada a ver insetos assim, com esses aspectos e proporções. Fiquei impressionada principalmente com a diversidade de besouros e baratas, para mim eram todos iguais”, revela Bárbara Andréa, estudante do SESI de Minas Gerais, que visitou a exposição. Sua colega, Danielle Oliveira, concorda: “Já tinha visto alguns desses insetos em livros, mas não tinha noção da existência de outros”.

A assistente de curadoria da exposição, Danielle Cerri, explica que a reação é comum aos visitantes: “O público se impressiona porque não tem acesso a essa variedade de insetos cotidianamente. Quando as pessoas vêem a Coleção pela primeira vez, custam a acreditar que alguns exemplares são insetos reais. O objetivo da exposição é justamente divulgar essa diversidade e ressaltar a necessidade de preservação da biodiversidade”.

Gutemberg Brito
Para Danielle (à esquerda), a mostra da coleção entomológica
foi uma oportunidade para entrar em contato com
uma natureza até então desconhecida

“A exposição é um exemplo de como o Laboratório da Coleção Entomológica desenvolve projetos para a popularização da ciência, além de pesquisas. Procuramos aproveitar da melhor maneira possível a aplicabilidade da Coleção e extrair todo seu potencial didático e educativo. Com o auxílio do Museu da Vida, que guia as visitas, conseguimos atingir o público jovem e despertar possíveis novos talentos para ciência”, completa Jane Costa, chefe-curadora do Laboratório da Coleção Entomológica. Além da exposição do acervo, o Laboratório da Coleção Entomológica divulga o conhecimento pelo viés da educação popular através de projetos desenvolvidos em colaboração ao programa de Pós-Graduação em Ensino em Biociências e Saúde do IOC.


Isabel Levy, Gustavo Barreto e Renata Fontoura


IOC - Ciência para a Saúde da População Brasileira