Publicação do Instituto Oswaldo Cruz/Fiocruz - Ano XII - n0 44- 30/11/2006

 

Exposições da Coleção Entomológica divulgam conhecimento
sobre biodiversidade de insetos e história da ciência

A diversidade de insetos da fauna brasileira e a importância desses espécimes para a história da ciência são o foco das exposições Insetos: a explosão estética da biodiversidade e Conhecendo a história da ciência através de insetos , realizadas em parceria pelo Instituto Oswaldo Cruz (IOC) e a Casa de Oswaldo Cruz (COC). Na varanda do 2º andar, o público encontra o acervo da mostra Insetos: a explosão estética da biodiversidade , composto por material coletado desde as primeiras expedições científicas realizadas por pesquisadores do IOC pelo Brasil no início do século 20. Na sala 307, onde está abrigada a mostra Conhecendo a história da ciência através dos insetos , os visitantes são apresentados às 12 Coleções Históricas do IOC, que homenageiam pesquisadores eméritos do Instituto que contribuíram para a composição do acervo da Coleção Entomológica. Entre eles, estão os entomólogos Herman Lent, Hugo de Souza Lopes e Sebastião José de Oliveira , cassados durante o Regime Militar, no episódio histórico conhecido como Massacre de Manguinhos.

“As exposições fazem parte de uma iniciativa para a divulgação da Coleção Entomológica que está apenas começando. Esse acervo faz parte da história da ciência e da história do Brasil e é nosso dever colocá-lo à disposição da população”, apresenta Jane Costa, chefe do Laboratório da Coleção Entomológica do IOC. Integrando a estratégia de divulgação científica das coleções, o evento contou com uma cerimônia de abertura, na terça-feira, 28, em que foram apresentadas as palestras Coleção Entomológica & Biodiversidade e Coleção Enotmológica & História da Ciência , seguidas de debates.

“O objetivo das exposições é divulgar a história da ciência, mostrando a diversidade de insetos que existe no Brasil. Muitos ficam surpresos com a variedade de espécie, algumas muito belas, e passam a se interessar mais pela ciência”, comenta Danielle Cerri, da equipe de curadores das mostras.

Gutemberg Brito
No primeiro dia de visitação, os estudantes se surpreenderam ao conhecer espécies inusitadas de insetos

A professora Sebastiana Rosa da Silva, do Instituto de Educação Rangel Pestana, escola pública de Nova Iguaçu que atende crianças com deficiência auditiva, trouxe 26 alunos para visitar a exposição. “Mesmo que não faça parte do dia-a-dia das crianças, é muito importante que elas saibam que existem trabalhos como estes”, a professora avaliou. Para Renan Aprígio, de 13 anos, um dos estudantes do grupo, a visita foi um momento de aprendizado. “Gostei muito. Achei interessante porque os insetos vieram das matas”.

As exposições estão em cartaz até o dia 15 de dezembro e as visitas guiadas pelo Museu da Vida para turmas escolares, podem ser agendadas pelo telefone (21) 2590-6747 ou pelo e-mail recepcaomv@coc.fiocruz.br .

Debates deram início à mostra

A importância da biodiversidade e sua representatividade nas coleções entomológicas foram os temas abordados pelas palestras realizadas durante abertura das exposições da Coleção Entomológica do IOC na última terça-feira (28). O debate foi mediado por Elizabeth Rangel, chefe do Departamento de Entomologia do IOC, que introduziu o tema e destacou a valor do evento: “A Coleção Entomológica é um patrimônio institucional que nos dá muito orgulho. É nosso dever colocá-la à disposição de todos”, sintetizou.

O debate teve início com a palestra Coleção Entomológica & Biodiversidade , proferida pelo pesquisador Márcio Félix, do Laboratório da Coleção Entomológica do IOC, que apresentou um amplo panorama sobre a fauna e flora brasileiras e ressaltou a importância da biodiversidade para a manutenção do equilíbrio de ecossistemas. “O Brasil concentra de 15% a 20% das espécies do planeta, contendo 17% da fauna e 22% da flora mundiais. Temos por isso o grande desafio de preservar esta biodiversidade. Com um acervo de 5 milhões de insetos, a Coleção Entomológica do IOC forma um catálogo organizado da biodiversidade brasileira, que além de constituir uma fonte de dados para pesquisas científicas é um patrimônio nacional e internacional de incalculável valor histórico e cultural”, Félix considerou. 

Gabriel Mejdalane, pesquisador do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) que há 20 anos trabalha com coleções, complementou a palestra com dados sobre a situação atual da taxonomia de espécies e ressaltou a necessidade de formação de colaborações e redes internacionais para o estudo da biodiversidade. “A estimativa [10 a 100 milhões de espécies] é muito imprecisa. Seria necessário um esforço muito grande para descrever as espécies e aumentar nosso limitado conhecimento e para isso é fundamental uma ação conjunta entre países, pois grande parte das nossas espécies está em coleções no exterior”, alertou.

O debate científico teve continuidade com o pesquisador Márcio Rangel, do Departamento de Museus do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), que apresentou a pesquisa Um entomólogo chamado Costa Lima – a construção de um saber e a consolidação de um patrimônio científico , dedicada a Ângelo Moreira da Costa Lima , pesquisador emérito da Fiocruz.

A palestra foi comentada pelo professor Luiz Fernando Ferreira, da Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca (Ensp), e pela pesquisadora Danielle Grynszpan , do Laboratório de Educação em Ambiente e Saúde do IOC, que relataram suas experiências relativas às coleções. Luiz Fernando Ferreira, que conheceu Costa Lima pessoalmente, contou como as histórias de Julio Verne influenciaram sua formação e apresentou um pouco de seu trabalho como paleoparasitologista; Danielle Grynszpan, que estudou no Museu de História Natural em Paris, tratou da relação entre a História Natural e as artes.


Bel Levy, Gustavo Barreto e Renata Fontoura


IOC - Ciência para a Saúde da População Brasileira