Aluna do IOC ganha Prêmio Jovem Cientista


Foi com um trabalho experimental desenvolvido no Laboratório de Patologia do Instituto Oswaldo Cruz (IOC) que Mariana Rietmann, de 17 anos, ganhou o segundo lugar do Prêmio Jovem Cientista 2005, na categoria Ensino Médio. A estudante observou em camundongos o comportamento das células de medula óssea após serem submetidos à irradiação, técnica amplamente usada em tratamentos, inclusive para o câncer. Com os resultados, será possível aprofundar o conhecimento sobre os efeitos da radioterapia sobre a medula óssea e as células responsáveis pela produção de sangue.

“A intenção era descobrir como a medula e as células responsáveis pela hematopoese, que é o processo de produção do sangue, se comportam quando submetidas a diferentes níveis de radiação”, Mariana descreve. “Para isso usamos o teste em camundongos para acompanhar estas alterações”, completa. Desde 2003 Mariana participa do trabalho desenvolvido no Laboratório de Patologia do IOC, através do Programa de Vocação Científica (Provoc) da Fiocruz. Ela recebeu o prêmio das mãos do presidente Lula nesta segunda-feira, dia 12, na companhia de seu orientador, Marcelo Pelajo Machado, e da diretora do Instituto Oswaldo Cruz, Tania Araújo-Jorge.


O presidente Lula posa com os jovens vencedores do prêmio durante a cerimônia de entrega

“O Prêmio foi uma surpresa muito agradável, afinal é uma seleção feita entre trabalhos do país inteiro”, avalia Pelajo, chefe do Departamento de Patologia do IOC. “É importante mencionar que eu e Jacklyne Ayres, co-orientadora do  trabalho da Mariana, também fomos alunos do Provoc”, o hematologista observa, ressaltando a relevância dos programas de iniciação científica para a formação profissional.

O estudo dos efeitos da irradiação sobre a medula óssea é um passo importante na direção de aprimorar os atuais métodos de radioterapia disponíveis. “Por vezes, pacientes com câncer precisam receber doses altas de radiação que têm como efeito colateral destruir as células que estão se dividindo, sejam elas do tumor ou células saudáveis, como as da medula óssea”, Pelajo explica. “Por isso, o protocolo médico indica que após esse tipo de procedimento, o paciente receba um transplante de medula, que é rica em células capazes de promover a hematopoese, repondo assim as células destruídas com a irradiação e que são fundamentais para a produção de sangue.”

O transplante de medula consiste na injeção de células da medula óssea na corrente sangüínea do paciente. Conforme cada caso, o material usado no transplante pode ser oriundo de doação ou retirado do próprio indivíduo e armazenado antes da radioterapia. “O transplante de medula óssea é realizado desde a década de 1950, mas ainda falta preencher muitas lacunas sobre o mecanismo de migração das células que são transplantadas até a medula”, o pesquisador observa. “Para saber qual o procedimento de transplante de medula mais eficaz a ser usado após a radioterapia ablativa é preciso primeiro desvendar como a medula se comporta sob a irradiação, por exemplo, identificando qual tipo e quantidade de células morrem sob diversos níveis de exposição à radiação e quanto tempo isto leva.”

É neste ponto que entra o trabalho de Mariana. “Na verdade esta pesquisa foi sugerida pelo Marcelo e contou com a participação de todos no Laboratório”, ela pondera. “Nós testamos em camundongos três doses de radiação, realizadas segundo três protocolos diferentes”, descreve. “Então nós observamos através de exames histológicos em microscópio as lesões causadas pela irradiação em cada grupo, em diversos espaços de tempo. Isso vai permitir delimitar qual é o grau de lesão encontrado em cada protocolo e em cada momento pós-irradiação.”

Atualmente os dados obtidos na análise experimental estão sendo reunidos para compor uma perspectiva comparativa dos graus de lesão medular causados por diferentes níveis de radiação. A próxima etapa da pesquisa consiste em usar a radiação seguida pelo transplante de medula, o que vai permitir avaliar o grau de efetividade do transplante pós-radioterápico segundo diferentes protocolos.

Apesar da vocação inegável para o trabalho na bancada de laboratório, Mariana presta este ano vestibular para o curso de história. Mas é uma escolha que com certeza não vai afastá-la da ciência biomédica. “Pretendo estudar história da saúde”, a estudante conta. “Com certeza a experiência no Laboratório de Patologia foi decisiva para esta opção. Todos me tratam como a irmã mais nova, me ensinaram coisas que eu não tinha idéia de como fazer antes de entrar aqui. Sem a ajuda deles eu não teria conseguido concorrer ao prêmio.”

Considerado pela comunidade científica um dos mais importantes do gênero na América Latina, o Prêmio Jovem Cientista foi instituído em 1981 com o objetivo de incentivar a pesquisa entre alunos dos cursos técnico e superior com menos de 30 anos e entre os já graduados com menos de 40. Neste ano, o tema foi Sangue: Fluido da Vida

Por Raquel Aguiar
08/12/05

 

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