Jornalismo científico na América Latina ganha panorama

A primeira tese da linha Comunicação, Ciência e Mídia do programa de pós-graduação em Ensino em Biociência e Saúde (PGEBS) do IOC é também o primeiro panorama realizado no país sobre o jornalismo científico na América Latina. Apresentado por Luís Henrique Amorim como conclusão de seu mestrado, o estudo usou técnicas quantitativas e qualitativas para observar a produção das editorias científicas de sete jornais em cinco países da América Latina – Brasil, Argentina, Chile, México e Equador.

“Coletamos 482 textos durante os 30 dias do mês de abril de 2004. Selecionamos jornais de destaque em seu contexto, que possuem versões online e que contam com editorias voltadas especificamente para temas científicos”, resume o pesquisador, que é jornalista e há cinco anos atua como repórter do Jornal da Ciência, veículo de comunicação da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). Dos jornais diários analisados, três eram brasileiros.

A média de reportagens publicadas a cada dia variou entre 0,8 e 3,6 reportagens diárias. Na comparação entre os países, o perfil dos temas abordados também varia, mas as principais áreas de cobertura envolvem saúde, meio ambiente, astronomia e tecnologia. Para avaliar aspectos qualitativos, os editores de cada jornal foram entrevistados com base em um questionário formulado a partir dos dados observados na análise quantitativa. “Nas entrevistas todos demonstraram estar cientes do papel democrático do jornalismo científico na difusão do conhecimento, seu caráter educativo e a contribuição para o fortalecimento da própria ciência”, Luís resume.

Nas respostas dos editores, foi consenso que a novidade define o que é notícia em ciência. Os entrevistados também foram unânimes em declarar que a participação dos cientistas é fundamental na elaboração das reportagens. Sobre a relação entre jornalistas e cientistas, a maioria comentou que tem havido uma aproximação. Quanto à rotina de trabalho, foram observadas dimensões variáveis de equipe, porém em todos os veículos estudados os repórteres cobriam diversas áreas da ciência. Em relação ao estereótipo do cientista na abordagem jornalística, o estudo aponta que apenas em 14 reportagens foram verificados estereótipos claros – nove deles mediante o uso do termo gênio . “Este quadro pode ser bastante diferente em outros veículos, que não o jornal impresso”, o pesquisador pondera.

Entre as principais conclusões do estudo está o baixo teor crítico das reportagens. “Das 482 matérias analisadas, apenas 29 expressam controvérsia de forma clara. Sabemos que a ciência está associada a avanços tecnológicos para a sociedade, mas é preciso mostrar que também existem incertezas e riscos”, Luís opina. Outro dado interessante é que um número reduzido de reportagens incluiu informações sobre fontes de financiamento. O pesquisador ressalta que este não pretendeu ser um estudo exaustivo, mas, por seu próprio caráter pioneiro, buscou ser um panorama inicial da cobertura científica na América Latina. “A idéia é que esta seja uma porta aberta para novas pesquisas, que permitam não só conhecer a prática do jornalismo científico, mas que forneçam subsídios para seu aperfeiçoamento”, completa.

Por Raquel Aguiar
13/04/2006

 

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