Estudo epidemiológico produz panorama da hepatite A no Brasil

CUm amplo estudo epidemiológico da hepatite A realizado pelo Instituto Oswaldo Cruz (IOC), que analisou a ocorrência da doença no Brasil entre 1980 e 2002 e constituiu um panorama geral da infecção no país, foi uma etapa importante para o Projeto de Inovação Tecnológica de Vacinas na Fiocruz: a produção nacional de vacinas prioritárias para a saúde pública brasileira – uma parceria entre o Instituto Oswaldo Cruz (IOC) e Bio-Manguinhos que prevê o desenvolvimento e a implementação de estudos pré-clínicos e a preparação de estudos clínicos da vacina contra hepatite A. O estudo apontou a queda da mortalidade e o deslocamento da infecção para faixas etárias mais elevadas.

CDC
O mapeamento da ocorrência do vírus da hepatite A (acima) no país poderá auxiliar no desenvolvimento de vacinas

O estudo, publicado sob a forma de um artigo de revisão na revista Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, foi realizado pelo Laboratório de Desenvolvimento Tecnológico do IOC, que identificou a necessidade de rastrear os dados epidemiológicos disponíveis na literatura sobre a hepatite A no país. Para isso, foi fundamental a cooperação com o Núcleo de Doenças Infecciosas e Tropicais da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT). “As pesquisas epidemiológicas sobre hepatite A são muito restritas, o que dificulta o controle da doença. O objetivo do estudo foi produzir uma coletânea de dados epidemiológicos, através de um retrospecto de 23 anos que uniu a experiência em surtos do IOC aos registros sobre a doença pesquisados pela UFMT junto ao banco de dados do MS e a informações produzidas por diversas outras pesquisas”, apresenta a bióloga Cláudia Vitral, principal autora do estudo.

A pesquisa indicou a queda progressiva da mortalidade por hepatite A desde 1980 em todo o Brasil – mesmo na região Norte, onde a morbidade da doença é cinco vezes maior que no resto do país – e indicou o deslocamento da infecção para faixas etárias mais elevadas. “Por sua forma de transmissão, através de água e alimentos contaminados por fezes de indivíduos infectados, o vírus da hepatite A afeta sobretudo crianças, que desenvolvem uma infecção normalmente subclínica, isto é, se infectam mas não ficam doentes, sendo por este motivo os principais reservatórios da infecção. Em países em desenvolvimento, observa-se que a maioria dos adultos já é imune à doença. As melhorias de infra-estrutura em saneamento básico, porém, aumentam as barreiras para a contaminação infantil, verificando-se sob estas condições um deslocamento da infecção pelo vírus para grupos etários mais elevados, quando a infecção normalmente é acompanhada de sintomas – uma conseqüência indesejável do progresso", Cláudia explica. A solução seria unir vacinação e saneamento básico. No entanto, a vacina é ainda muito cara e não disponível no sistema público de saúde, daí a necessidade de fabricação nacional de imunobiológicos contra a hepatite A.

“A realização de estudos epidemiológicos é uma das atividades relacionadas ao projeto e para finalizá-la estabeleceremos duas parcerias: uma com a UFMT, que já está em andamento; outra com o Centro de Pesquisas Leônidas e Maria Deane, unidade da Fiocruz em Manaus, que terá como foco a investigação da prevalência da hepatite A em escolares (0-15 anos). Pretendemos também utilizar métodos de coleta não invasivos para a verificação da imunidade para a doença, como a coleta de amostras de saliva, metodologia já validada por outro estudo do Laboratório”, conclui.

Bel Levy
17/08/2006


 

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