Estudo investiga predominância no Brasil de um subtipo do vírus da Hepatite B

Segundo dados da Organização Mundial de Saúde, aproximadamente 30% da população mundial já foi infectada com o vírus da hepatite B (VHB) e cerca de 350 milhões de indivíduos são portadores crônicos da doença. O VHB é divido em oito genótipos (A, B, C, D, E, F, G e H), que circulam em áreas geográficas distintas no mundo. O Instituto Oswaldo Cruz (IOC), pioneiro em estabelecer os genótipos do vírus que circulam no Brasil, identificou que cerca de 60% dos vírus que circulam no país são do genótipo A, subtipo africano. Atualmente, os pesquisadores investigam os motivos para esta predominância. Parte integrante deste estudo, o projeto de doutorado Soroepidemiologia Molecular da infecção pelo vírus da hepatite B em remanescentes de Quilombos de Mato Grosso do Sul será apresentado amanhã, dia 8, às 14 horas, no auditório do Pavilhão de Cursos, por Ana Rita Coimbra Motta Castro, estudante do curso de pós-graduação em Biologia Parasitária do IOC orientada pelas pesquisadoras Selma de Andrade Gomes e Regina Maria Bringel Martins.

Gutemberg Brito
A pesquisadora angolana Fátima (à esquerda), Selma e Ana Rita observam resultados do PCR em tempo real

“Refletindo a nossa diversidade étnica, os genótipos A, D e F são os que circulam preferencialmente no Brasil. O genótipo A é espalhado pelo mundo todo e o A que circula no país não é o mesmo que circula nos Estados Unidos, por exemplo. Descobrimos que cerca de 60% dos vírus de hepatite B que circulam aqui correspondem ao genótipo A, subtipo africano”, explica Selma de Andrade Gomes, chefe do Laboratório de Virologia Molecular, que conduz o estudo. A hepatite é uma doença transmitida através de contato sexual desprotegido, transfusão sangüínea e compartilhamento de agulhas. Os pacientes podem passar décadas sem saber que estão infectados e ao longo dos anos desenvolver um quadro mais grave - como cirrose e carcinoma.

Agora, já com a primeira etapa finalizada, o Laboratório de Virologia Molecular do IOC investiga a variabilidade genômica do vírus da hepatite B em comunidades de origem africana no Brasil. O objetivo é comprovar a possível ligação entre a predominância do genótipo A africano no país e a introdução dos negros africanos no Brasil pelo comércio escravo. “O estudo inclui comunidades de descendentes de escravos no Estado de Mato Grosso do Sul, onde são chamados de Quilombolas, e no Estado de Goiás, onde são chamados de Calungas. Como têm contato restrito com o restante da população, desenvolvemos um trabalho de descoberta da evolução molecular, ou filogenia molecular, dos genótipos do vírus da hepatite B que circulam entre estas comunidades”, Selma afirma, ressaltando que as cepas encontradas nas comunidades são muito parecidas com as que circulam no resto do país. “Mesmo em andamento, a pesquisa já evidencia o que suspeitávamos. O subtipo africano foi o que mais se espalhou pelo Brasil”.

Em um primeiro momento, todas as comunidades negras destas regiões foram mapeadas e caracterizadas e a continuidade da pesquisa inclui o estudo da infecção oculta e do genoma do vírus da hepatite B que circula nestas comunidades. Além disso, o grupo de pesquisadores ganhou a oportunidade de ir à África para aprofundar o estudo, através de um convênio firmado entre Fiocruz e Angola. “Estamos indo para a África em janeiro e não sabemos o que vamos encontrar por lá, já que existem poucos trabalhos sobre o tema. Muitos sobre a África do Sul, mas sobre a África negra mesmo, quase nada”, a pesquisadora antecipa. Os pesquisadores coletarão amostras de soro para posterior análise no Brasil.


Renata Fontoura

08/11/06