Especialistas do IOC recebem título de pesquisadores eméritos da Fiocruz durante posse de mil novos servidores da Fundação

A maioria não conseguia esconder a alegria daquele momento. Familiares se revezavam entre fotos, abraços e a contemplação do Castelo Mourisco. Foi nesse clima que mil servidores públicos tomaram posse na Fundação Oswaldo Cruz, na última segunda-feira, 11 de dezembro. Neste burburinho, dois pesquisadores destacavam-se da maioria dos presentes pelas décadas dedicadas à pesquisa na Fiocruz – em especial no Instituto Oswaldo Cruz (IOC): o malacologista Wladimir Lobato Paraense e o tropicalista José Rodrigues Coura recebeiam, naquele momento, o título de Pesquisadores Eméritos da Fiocruz. A emoção com que compartilharam a ocasião, no entanto, era a mesma dos novatos.

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Cerimônia realizada nas escadarias do Castelo Mourisco recebeu os mil novos servidores públicos da Fiocruz

 

Valorização da história em destaque

Reconhecido como um dos mais importantes malacologistas do mundo, responsável pela identificação dos caramujos vetores da esquistossomose, o pesquisador Wladimir Lobato Paraense ingressou no IOC em 1940 e percorreu o Brasil e quase todo o continente americano a convite da Organização Pan-Americana da Saúde em pesquisas de campo. Durante esta peregrinação, identificou dez novas espécies de caramujos. Cabe a ele, também, a descoberta do ciclo exoeritrocitário da malária – primeira comprovação da existência do ciclo de vida dos parasitos do gênero Plasmodium, causadores da doença, antes do ingresso na corrente sangüínea.

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Considerado um dos maiores malacologistas do mundo, o pesquisador Wladimir Lobato Paraense, que ingressou no IOC em 1940, torna-se pesquisador emérito da Fiocruz

Ao agradecer a homenagem durante a cerimônia, Lobato foi sucinto: “Eu gostaria de contar uma história sobre a minha vinda para cá há 60 anos, mas por causa da emoção, para evitar um mau comportamento, eu vou dizer apenas muitíssimo obrigado”, discursou. Lobato aposentou-se no cargo de pesquisador, mas não se afastou das bancadas científicas. Aos 92 anos, trabalha diariamente no Laboratório de Malacologia do IOC.

Especialista em doenças infecciosas e parasitárias, o tropicalista José Rodrigues Coura, chefe do Departamento de Medicina Tropical do IOC, acumula inúmeras iniciativas para o controle de importantes problemas de saúde pública brasileiros, como a ocorrência de malária, esquistossomose e doença de Chagas em áreas endêmicas do país. O pesquisador, que ingressou no IOC em 1979, é também editor da revista de divulgação científica mais antiga da América Latina, Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, periódico que ajudou a recuperar nos anos 70.

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Pesquisador do IOC desde 1979 e autoridade científica em malária, esquistossomose e doença e Chagas, o tropicalista José Rodrigues Coura tornou-se pesquisador emérito da Fiocruz

Sua contribuição para o avanço da pesquisa biomédica no país é reconhecida por uma série prêmios, como a medalha de honra ao mérito Roched Abib Seba, oferecida ao pesquisador pela Academia Fluminense de Medicina no dia 7 de dezembro, e por sua trajetória como médico e humanista. Ainda este ano, Coura tornou-se professor emérito da Universidade Federal do Rio de Janeiro, onde formou-se em medicina em 1957, e recebeu o segundo lugar do Prêmio Jabuti de literatura, na categoria Melhor Livro de Ciências Naturais e Ciências da Saúde, com a obra Dinâmica das Doenças Infecciosas e Parasitárias. Durante o evento desta segunda-feira, Coura pontuou alguns momentos da sua vida como pesquisador e também falou sobre sua infância, lembrando que migrou para o Rio de Janeiro aos seis anos. “Pesquisar e publicar. Este é o nosso poder”, sintetizou.

Evolução da Fiocruz reafirmada

Paulo Gadelha, vice-presidente de Desenvolvimento Institucional e Gestão do Trabalho da Fiocruz, comemorou o momento lembrando um pensamento de Carlos Chagas, dito em 1928: “Não vai demorar que passemos adiante uma grande e bela ciência, que faz arte em defesa da vida”. Ressaltou que mais de 35 mil pessoas se inscreveram para o concurso e que mais de 800 funcionários participaram do processo de realização. “É uma instituição que não só acredita no papel do servidor público, como também quer fazê-los tão antigos e tão comprometidos quanto os que estão na Fundação há mais de duas décadas”, afirmou. Oswaldo Cruz, Gadelha argumentou, falava no “sonho quase realizado” por conta da própria natureza do sonho, que se realiza e se atualiza por meio das novas gerações.

O presidente da Fundação, Paulo Buss, destacou que o concurso público foi o maior da instituição e um dos maiores realizados por instituições científicas nacionais. “É com imensa honra, prazer e emoção que estamos hoje na frente deste imponente Castelo de Manguinhos, palco de tão memoráveis momentos da nossa já longa trajetória institucional de 106 anos, para comemorar um feito significativo desta parte recente da nossa história”, afirmou.


Gustavo Barreto

14/11/06