Paleopatologia é tema de suplemento especial
das Memórias do Instituto Oswaldo Cruz

A paleopatologia – o estudo arqueológico de doenças de populações extintas – é tema de suplemento especial das Memórias do Instituto Oswaldo Cruz. O volume, organizado pelos pesquisadores Sheila Maria Ferraz Mendonça de Souza, Luiz Fernando Ferreira, Adauto Araújo e Karl Jan Reinhard, compila estudos que ajudam a compreender como doenças que representam importantes problemas de saúde pública até hoje – como tuberculose e sífilis, por exemplo – comportavam-se em épocas remotas.

Três artigos abordam a tuberculose: um discute a prevalência da doença na era Pré-colombiana e o uso de pesquisas biológicas e biomédicas em estudos paleopatológicos e arqueológicos e outros dois sugerem que lesões ósseas encontradas em esqueletos podem ser bons indicadores da presença da bactéria Mycobacterium tuberculosis , causadora da doença. Um estudo sobre a sífilis congênita também integra o volume, através de um artigo produzido em parceria pela Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca (Ensp) e a Universidade de Coimbra. A pesquisa descreve um provável caso da doença em um bebê de 18 meses cujo cadáver data do século XVIII.

O volume demonstra que o estudo de patologias remotas ajuda a entender também aspectos sociais e culturais das populações. Um exemplo é o estudo realizado pelo Departamento de Antropologia da Universidade do Estado da Flórida, Estados Unidos, que analisou 168 cadáveres bem-conservados oriundos de um antigo cemitério da Flórida e constatou que o estado de saúde de homens era, em geral, melhor que o de mulheres – o que pode ser associado às diferentes atividades designadas aos gêneros.

Importantes revelações sobre a ocorrência de parasitoses intestinais na Europa medieval são descritas em um trabalho que explorou sete diferentes estratos do solo de latrinas localizadas na Place d'Armes na cidade de Namur, Bélgica. A identificação de determinados parasitos permitiu deduzir hábitos alimentares, como o consumo de carne mal Cozida e de peixe fresco. Escavações realizadas em um cemitério datado do período de Tijuana (639-910 d.C.), no deserto de Atacama, Chile, revelaram a ocorrência de lesões na região do nariz em 10% dos esqueletos masculinos encontrados. A descoberta pode indicar atividades rituais envolvendo violência não letal – suspeita reforçada por registros etnográficos. 

O suplemento reúne 20 artigos, produzidos por 50 cientistas brasileiros, argentinos, franceses, húngaros, canadenses e norte-americanos. Acesse o conteúdo das Memórias do Instituto Oswaldo Cruz na íntegra em http://memorias.ioc.fiocruz.br/101(supII).html .

 


Bel Levy

27/12/06