Avanço no desenvolvimento de vacina recombinante para febre amarela e malária

A confirmação em testes realizados com primatas de que seria possível utilizar a vacina contra a febre amarela como base para a imunização de outras doenças, como a malária, é o principal resultado de estudo desenvolvido pelo Instituto Oswaldo Cruz (IOC). A novidade traz avanços importantes. Além da vacina desenvolvida para imunizar ao mesmo tempo contra a febre amarela e a malária ter mostrado bons  resultados quanto ao grau de atenuação viral, esta foi a primeira vez em que uma vacina deste tipo foi testada em primatas.

O estudo, desenvolvido no Laboratório de Biologia Molecular de Flavivírus do IOC, foi apresentado como artigo na revista científica Journal of Virology , considerada pela comunidade científica como a principal publicação na área. “A vacina da febre amarela possui ótimas características de proteção e durabilidade”, explica Myrna Bonaldo, chefe do Laboratório. “Quando combinada, verificamos que ela pode potencialmente servir como imunização para outras doenças, especialmente a dengue e a malária, que estão presentes na área endêmica.”


Técnica do Laboratório de Biologia Molecular de Flavivírus trabalha
na produção da vacina combinada para febre a marela e malária.

A vacina para a febre amarela é uma das poucas produzidas a partir do vírus causador da doença. Para a produção da vacina recombinante, obtida a partir da tecnologia de recombinação do DNA, foram inseridos no vírus da febre amarela pequenos blocos de proteínas da forma infectiva da malária. Neste processo, teve-se o cuidado de fazer uma combinação que não excedesse a composição viral da vacina para febre amarela, o que tornaria virulenta a nova vacina recombinante. Em seguida, foi realizado o teste de neurovirulência em primatas. Assim , foi possível verificar o efeito da inserção destas seqüências de malária sobre a atenuação dos vírus.

“A experimentação em macacos rhesus é um procedimento obrigatório para permitir não somente a liberação de lotes vacinais da vacina da febre amarela para imunização no homem, mas também para o uso destes vírus recombinantes em testes clínicos em humanos”, Myrna esclarece. “Esta é a primeira vez em que uma vacina combinada para febre amarela e malária é aplicada em testes com estes primatas”, a pesquisadora comemora, ressaltando o pioneirismo da experiência. A vacina demonstrou bons  resultados quanto ao grau de atenuação viral.

Tendo como objetivo final a criação de uma única vacina contra a febre amarela, dengue e malária, o estudo ganhou projeção mundial na comunidade científica através do artigo, que já é um dos mais procurados no portal Pubmed, um dos principais sites de busca de informações científicas. “A repercussão foi impressionante”, Myrna avalia. Sobre os próximos passos, a pesquisadora adianta que o estudo se concentrará na geração de novos vírus recombinantes para expressar proteínas inteiras do parasito da malária.

Por Renata Fontoura
12/01/06

 

 

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