Inauguração de novo espaço e abertura de exposição encerram
comemorações dos 106 anos do IOC e da Fiocruz

Os pesquisadores que criaram o Instituto Oswaldo Cruz (IOC) em 25 de maio de 1900, quando ainda era chamado de Instituto Soroterápico Federal, não poderiam imaginar que seu trabalho daria base para a estruturação da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), maior instituição de pesquisa biomédica da América Latina. Atenta a suas origens, a Fiocruz, fundada na década de 1970, adotou 25 de maio como data simbólica de seu aniversário. Nada melhor para traduzir a integração entre o Instituto e a Fundação do que as atividades que encerraram hoje as comemorações do aniversário de ambos. A inauguração das instalações do IOC no Pavilhão 108 deu início às atividades, que prosseguiram com o descerramento de placas de identificação para o Castelo Mourisco e espécies botânicas plantadas no campus. Por fim, foi aberta a exposição Fiocruz: patrimônio científico e cultural da saúde, uma parceria entre Casa de Oswaldo Cruz (COC), Centro de Informação Científica e Tecnológica (CICT) e IOC.

Com o Pavilhão 108, a possibilidade de modernizar espaços do IOC

Com uma cerimônia informal, o Pavilhão 108 foi inaugurado com a presença de representantes da presidência da Fiocruz, da diretoria do IOC e da Diretoria de Administração do Campus (DIRAC), futuros usuários e profissionais envolvidos nas obras de adaptação. “Estamos muito contentes por fazer esta inauguração, porque apesar do Pavilhão 108 ser um espaço provisório, é um espaço provisório com condições de trabalho dignas”, afirmou Tania Araújo-Jorge, diretora do IOC. “Não poderíamos mexer o quebra-cabeça complexo do IOC para a modernização de infra-estrutura sem este espaço alternativo para alocação. Assim, será possível abrigar os laboratórios e demais setores onde a realização de obras de modernização é fundamental.”

Gutemberg Brito
O Pavilhão 108 possui ambientes dedicados ao Ensino, à Coordenação de Programas Horizontais de Pesquisa, ao Serviço de Atendimento ao Diagnóstico de Hepatites e a laboratórios dos Departamentos de Imunologia, Entomologia, Protozoologia e Bacteriologia

O prédio foi reformado em 70 dias, contando exclusivamente com o trabalho de profissionais da DIRAC. “Só tenho a agradecer à equipe que participou desta empreitada em tempo recorde”, disse Fernando Carvalho, diretor da DIRAC. “Estou emocionado, porque esta é uma vitória da parceria com o IOC e da nova DIRAC que está surgindo”, completou.

O presidente da Fiocruz, Paulo Buss, reforçou que, com o novo espaço, será possível solucionar antigos problemas de infra-estrutura no IOC. “Este é um provisório com dignidade, como a Tania falou, e com ele será possível cumprir o compromisso de investir nas instalações do IOCassumido no primeiro quadriênio de mandato. Com a aquisição da nova fábrica em Jacarepaguá, o IOC passa a contar com os prédios de Far-Manguinhos, que serão adaptados para atender o Instituto”, sintetizou.

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Paulo Buss destacou que a adequação de espaços físicos do IOC integra um projeto global para atender todas as unidades da Fundação

“Sabemos que o IOC retribuirá com a qualidade e diversidade da sua investigação, que apóia o desenvolvimento tecnológico nesta fundação”, disse. O presidente aproveitou para anunciar que foi publicada hoje em Diário Oficial a licitação das obras no 4º andar do Pavilhão Carlos Chagas do IOC. Justamente para a realização destas intervenções, os laboratórios que passarão por reformas serão provisoriamente instalados no Pavilhão 108.

Placas de identificação destacam o patrimônio ambiental e histórico

Um oitizeiro plantado na lateral do Castelo Mourisco foi a primeira espécime botânica do campus de Manguinhos a receber uma placa de identificação, descerrada pelo presidente da Fundação. A iniciativa, adotada pela COC, é um antigo sonho de pesquisadores do IOC. “Este projeto surgiu quando plantamos 1700 mudas de árvores no campus da Fundação”, declarou a botânica Monika Barth, pesquisadora do Laboratório de Ultra-estrutura Viral do IOC, referindo-se ao episódio que aconteceu por volta de 1989, durante a gestão do sanitarista Sergio Arouca na presidência da Fiocruz.

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Os pesquisadores Monika Barth e José Jurberg, idealizadores do projeto que começa a ser implantado

“Infelizmente, por falta de orientação, muitas destas mudas foram cortadas durante a poda de jardins, mas eu e José Jurberg permanecemos com a idéia de transformar o campus em um ambiente mais agradável”, disse, referindo-se ao entomólogo que é pesquisador do Laboratório de Laboratório Nacional e Internacional de Referência em Taxonomia de Triatomíneos do IOC. “O foco é a qualidade de vida dos trabalhadores que atuam aqui. O campus da Fiocruz é um pulmão verde em plena Avenida Brasil ”, Monika comparou.

Em seguida, foi descerrada a placa de identificação do Castelo Mourisco. “Este é o passo inicial do projeto que vai identificar todo o patrimônio edificado do conjunto arquitetônico histórico da Fiocruz”, disse Nara Azevedo, diretora da COC. “Desta forma destacamos não só o caráter histórico, mas podemos resgatamos o papel dos arquitetos que contribuíram para a formação deste patrimônio.”

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Paulo Buss e Nara Azevedo apresentam ao público a nova placa de identificação do Castelo Mourisco, reconhecido pelo exotismo do estilo eclético que agrega elementos da estética árabe

“Assim torna-se mais fácil para o visitante interar-se da história e das condições de construção do Castelo”, acrescentou o presidente da Fiocruz. “Vamos dar toda a força para que esta iniciativa seja ampliada”, Paulo Buss completou.

Através do patrimônio, um retrato da Fiocruz como protagonista da história da saúde pública no país

Peças de coleções científicas do IOC, obras raras – incluindo uma edição holandesa de 1648 escrita em latim da História Natural Brasileira –, os microscópios usados por Oswaldo Cruz e Carlos Chagas, vídeos, fotografias e registros em áudio compõem a exposição Fiocruz: patrimônio científico e cultural da saúde, aberta ao público hoje na sala 307 do Castelo Mourisco. O desafio foi traduzir a contribuição científica da Fiocruz através do patrimônio material.

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Os microscópios usados por Oswaldo Cruz e Carlos Chagas são atração na exposição, que exibe também a mais antiga peça da Coleção Entomológica do IOC: um exemplar do mosquito Anopheles lutzi, transmissor da malária, depositada na por Oswaldo Cruz em 1901

“A idéia foi usar o patrimônio material, que geralmente é o substrato básico de qualquer exposição, como eixo central”, descreve Paulo Elian, vice-diretor da COC e coordenador geral da exposição. “Esta exposição concretiza um desejo antigo de colocar o visitante e a comunidade de Manguinhos em contato direto com o patrimônio da Fundação, despertando o compromisso com a proteção e a preservação.”

A exposição está dividida em quatro módulos. A seção sobre Coleções Científicas reúne acervos de destaque do IOC. O módulo sobre obras raras exibe volumes expressivos do acervo da Biblioteca de Manguinhos, que começou a ser constituído ainda no início do século XX, quando o IOC foi criado, e transferido à guarda do CICT no momento de sua fundação, na década de 80. A exposição conta, ainda, com módulos dedicados a documentos de arquivo – sobretudo textos, imagens, vídeos e gravações em áudio –, ao acervo museológico da COC e do Museu da Vida e ao patrimônio edificado representado pelos prédios históricos.

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A sala 307 do Castelo Mourisco, onde a exposição está sendo realizada, foi o primeiro espaço da Fiocruz a ganhar a função de museu, ainda na década de 30

Destacar o trabalho de preservação realizado pela COC também foi uma preocupação. “Os painéis que servem como fundo para cada módulo da exposição retratam a rotina dos profissionais da Casa de Oswaldo Cruz, que trabalham continuamente na preservação e restauração do patrimônio”, Paulo acrescenta. “E em breve teremos novidades”, antecipa. “Estamos articulando a produção de um esquete teatral que guiará o público através dos corredores do Castelo, que em si já é uma peça do patrimônio material da Fiocruz, até a sala que abriga a exposição.”

Para pensarmos a proteção ao patrimônio científico hoje, é preciso levar em consideração um aspecto fundamental, que transformou as estratégias de preservação: a tecnologia. Um panorama deste progresso também está presente na exposição. “O IOC participa ativamente da construção de acervos científicos desde sua origem, há 106 anos, e atualizou suas técnicas para acompanhar as modalidades mais atuais e eficazes de preservação”, resume o entomólogo Ricardo Lourenço, vice-diretor do IOC e curador do módulo de Coleções Científicas na exposição.

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Amostras da Coleção de Fungos estão entre as peças expostas, que incluem ainda exemplares das coleções Helmintológica, Entomológica, Malacológica, de Anatomia Patológica e de Culturas do Gênero Bacillus e Gêneros Correlatos

O papel de uma coleção científica é reunir espécimes importantes em determinado campo do conhecimento, o que viabiliza não apenas o propósito classificador da taxonomia, mas é condição para a realização de estudos que estruturam um determinado campo do saber. “O contato com as coleções científicas é uma forma de, através do patrimônio material, dimensionar o patrimônio imaterial constituído pela geração de conhecimento implícita nestes acervos. São desdobramentos incomensuráveis do ponto de vista da construção do conhecimento científico”, Ricardo avalia.

“As metodologias de preservação do patrimônio científico evoluíram muito em um século”, Ricardo destaca. “No início dos anos 1900, Oswaldo Cruz deu início à Coleção Entomológica do IOC, a mais antiga e completa da América Latina. Hoje, esta coleção, que usa a técnica de preservação dos espécimes em alfinete, convive com as estratégias de preservação contemporâneas que têm base na tecnologia do DNA”, diz, ressaltando que a exposição inclui um documentário de curta-metragem produzido junto ao Departamento de Bioquímica e Biologia Molecular (DBBM) do IOC, pioneiro no uso da tecnologia do DNA na América Latina, que traduz a ação do Instituto na preservação do patrimônio genético.

Atuaram na curadoria dos itens selecionados para compor o módulo dedicado às Coleções Científicas os pesquisadores Dely Noronha de Bragança Magalhães Pinto, Jane Costa, Marcelo Pelajo, Maria Inez Sarquis, Wladimir Lobato Paraense, Silvana Aparecida Thiengo, Leon Rabinovitch e Clara Cavados.

Por Raquel Aguiar
01/06/2006

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