Comprovada incidência de norovírus e astrovírus em crianças hospitalizadas no Rio de Janeiro

Segundo dados do Ministério da Saúde, apenas em 2005 mais de 28 mil crianças com até cinco anos de idade foram internadas em hospitais do Sistema Único de Saúde (SUS) com desidratação causada por diarréia. O dado alarmante costuma ser associado ao rotavírus, considerado um dos principais agentes causadores de gastroenterites infantis e óbitos nesta faixa etária. No entanto, uma pesquisa do Instituto Oswaldo Cruz (IOC) aponta que outros agentes virais – o norovírus e o astrovírus –, que apresentam a mesma sintomatologia e forma de transmissão do rotavírus, também podem ter sua parcela de responsabilidade nestas estatísticas.

Com o objetivo de detectar a presença do norovírus e do astrovírus em crianças hospitalizadas com gastroenterite e desidratação em três hospitais públicos do Rio de Janeiro, o Laboratório de Virologia Comparada do IOC analisou 318 amostras fecais. “Encontramos 1/3 das amostras positivas para a soma de astrovírus e norovírus, 1/3 negativas para todos os vírus e 1/3 positiva para rotavírus”, afirma Matias Victoria Montero, que desenvolveu o estudo como tese de mestrado, orientado por José Paulo Gagliard Leite e Marize Pereira Miagostovich.

Como o pesquisador esclarece, o astrovírus e o norovírus só podem ser diagnosticados laboratorialmente. “Antes do estudo, não seria possível identificar a parcela de casos causados por estes dois vírus, já que eles provocam um quadro clínico muito similar ao do rotavírus e até ao de uma gastroenterite causada por bactéria. Usamos a técnica molecular, que nos permitiu ter a certeza da presença deles”, dispara. “O astrovírus e o norovírus não têm sua epidemiologia muito conhecida”, completa.

Outro aspecto importante explorado pela pesquisa foi a caracterização molecular do norovírus. “O norovírus é um vírus muito variável. Conseguimos, nesta primeira fase, classificar os genogrupos. Nosso próximo passo é saber quais são os grupos genéticos que circulam no Rio de Janeiro e o impacto desta variabilidade genética no futuro desenvolvimento de uma vacina anti-norovirus”, o pesquisador finaliza.

Sobre os sintomas e a transmissão

A principal forma de contágio neste grupo de vírus que inclui o rotavírus, o astrovírus, o norovírus, os adenovírus entéricos, o calicivírus e os vírus das hepatites A e E se dá através do contato com fezes contaminadas. Resistentes ao calor e outras adversidades, estes vírus se dispersam facilmente no ambiente. “Uma criança, quando infectada com norovírus, pode eliminá-lo em grande quantidade nas fezes por até 20 dias após a recuperação clínica e o vírus pode permanecer no ambiente por até um mês com seu potencial infeccioso preservado”, o pesquisador alerta.

Como acontece com o rotavírus, a higiene e o saneamento são as principais formas de prevenção do astrovírus e do norovírus. O principal sintoma causado por este grupo de vírus é a diarréia aguda, mais branda nos casos de astrovírus e norovírus.

Por Renata Fontoura
04/05/2006

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