Cooperação foi tema do primeiro dia de comemorações dos 106 anos do IOC

Hoje, 25 de maio, o Instituto Oswaldo Cruz (IOC) completa 106 anos de uma história dedicada à saúde pública e à ciência. A data foi marcada pela mesa-redonda Cooperação para a Integração Institucional , pela assinatura do termo de compromisso de cooperação com as unidades da Fiocruz e pela criação da Coordenação de Cooperação Institucional. As comemorações continuam amanhã, com edição especial do Centro de Estudos.

Debate sobre cooperação com unidades da Fiocruz aponta caminhos para o futuro

A mesa-redonda Cooperação para a Integração Institucional discutiu na manhã desta quinta-feira a parceria do IOC com outras unidades da Fiocruz. Reinaldo Guimarães, vice-presidente de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico da Fiocruz, apresentou o tema Política de cooperação institucional em pesquisa da Fiocruz ; Tania Araújo-Jorge, diretora do IOC, discutiu As diversas dimensões da cooperação no Instituto Oswaldo Cruz ; e Carlos Morel, coordenador do Centro de Desenvolvimento Tecnológico em Saúde (CDTS) da Fiocruz, apresentou a palestra O CDTS como instrumento de integração institucional para o desenvolvimento tecnológico.

Reinaldo Guimarães abordou o tema da cooperação através de uma aproximação com a estrutura política de federação. “Na federação, cada uma das partes abdica parcialmente de sua soberania para que o conjunto funcione”, apresenta. “É a partir desta aproximação que visualizo a Fundação Oswaldo Cruz.” O vice-presidente cita que a Fiocruz foi fundada em 1970, incluindo originalmente na sua composição o IOC, o Instituto de Recursos Humanos para a Saúde, o Instituto Fernandes Figueira, o Instituto de Leprologia, o Instituto Evandro Chagas, em Belém, e algumas unidades do Instituto Nacional de Endemias Rurais (INERu). “Hoje a nossa federação cresceu muito: são 15 unidades técnico-científicas, além de uma diretoria regional em Brasília”, o vice-presidente enumera. “Quando vemos este resultado, a sensação é de orgulho.”

Gutemberg Brito
Reinaldo Guimarães destacou o posicionamento da Fiocruz em um momento de substituição de paradigmas

Segundo Reinaldo, é preciso olhar para os momentos de baixa da Fundação para compreender a transformação em curso. “O Massacre de Manguinhos, com a cassação de importantes pesquisadores, aconteceu justamente em 1970, no ano de criação da Fundação, e costuma ser citado como motivo desta crise. No entanto, apesar da enorme lacuna deixada pela ausência destes cientistas, o processo de decadência do IOC teve raízes na década de 50”, sintetiza. “Esta crise se deu na medida em que o modelo presente no Instituto entrou em profunda crise, enquanto sobreveio o modelo acadêmico universitário. Foi esta mudança de paradigma institucional que conduziu Manguinhos à decadência”, resume. “O ponto de inflexão neste processo geralmente é colocado como o processo de redemocratização, a partir de 1985. Desde momento até 2000, a Fiocruz passou por um período de reorganização.”

O vice-presidente aposta na hipótese de que o ciclo de mudanças que alterou o paradigma das instituições de pesquisa para o paradigma universitário pode estar chegando ao fim. “Hoje, temos um conjunto de embasamentos legais que poderá abrir caminho para o papel das instituições de pesquisa no país”, observa, citando a criação dos Fundos Setoriais, a Lei de Inovação e a Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior. Segundo o palestrante, estes elementos apontam para o reforço do componente da inovação, o fortalecimento dos instrumentos indutores de pesquisas e estabelece a empresa como lugar central do desenvolvimento tecnológico e da inovação.

“Neste contexto”, Reinaldo afirma, “os institutos de pesquisa se posicionam melhor que as universidades. Isto porque têm um sentido de missão institucional e porque a verticalização da cadeia do conhecimento é mais forte. E a Fiocruz tem tudo isso, além da dispersão geográfica no território, que é uma vantagem competitiva importante. A sinergia entre a atual política de CT&I do Brasil e a Fiocruz é imensa. Mas estas são janelas de oportunidade, que exigem um planejamento estratégico para serem aproveitadas. Neste sentido, a cooperação entre unidades é fundamental. O CDTS é uma ferramenta importante neste processo”, completa.

A diretora do IOC apresentou o tema da cooperação institucional sob os contrapontos da visão micro e da visão macro. “Meu objetivo é apresentar um retrato atual das cooperações estabelecidas pelo Instituto”, diz. Tania deu início à exposição comentando o significado da palavra cooperação. “Cooperar é ajudar, auxiliar, trabalhar em comum. No aspecto micro, temos a cooperação entre os laboratórios do IOC: 20% das publicações são realizadas em cooperação entre dois ou mais laboratórios do próprio Instituto. No aspecto mais amplo da ação internacional, entre 2004 e 2005 temos registrados 168 afastamentos do país, referentes a 65 pesquisadores. Este montante representa 39% dos pesquisadores que compõem o quadro de servidores.” Deste total, 62% dos afastamentos foram motivados por missões institucionais, 22% para a participação em eventos científicos e 30% para a colaboração em pesquisas.

Gutemberg Brito
A diretora do IOC destacou as parcerias em âmbito nacional e internacional, além das cooperações dentro da Fiocruz.

As ações no exterior abrangem 35 países. “A cooperação é muito intensa com Estados Unidos e França, mas as relações com o hemisfério sul ainda são muito tímidas. Estrategicamente, temos que investir nestas parcerias”, avalia. Das relações internacionais mapeadas, 54% estão concentradas nas Américas, 39% na Europa, 4% na Ásia e 3% na África. “Vale acrescentar”, a diretora completa, “que a cooperação internacional é um objetivo do Plano Plurianual do governo federal.”

No plano nacional as colaborações também estão presentes. “Segundo dados de 2004, temos interações com 22 instituições de ensino superior e com nove agências de fomento em C&T, apenas para citar alguns exemplos. No entanto, a maior parte das cooperações, como é espontânea, fica invisível nos levantamentos de dados”, descreve.

“Com outras unidades da Fiocruz a cooperação é intensa”, Tania prossegue. “Temos 54 projetos de desenvolvimento institucional em comum, além de 36 projetos em parceria integrados a projetos institucionais da Fiocruz, como o PDTIS e PDTSP. Entre 2000 e 2005, o IOC publicou em co-autoria com outras unidades 219 artigos científicos em periódicos indexados, segundo dados do ISI. Além disso, os quatro programas de pós-graduação do IOC contam com a participação de docentes de outras unidades.” A diretora destaca, ainda, a importância da integração com as unidades técnico-administrativas da Fiocruz. “Nossa expectativa é que o CDTS viabilize ainda mais a interação horizontal, que é muito poderosa para a integração”, completa.

Carlos Morel contextualizou sua apresentação comentando a principal diferença entre países desenvolvidos e industrializados nas áreas de ciência, tecnologia e produção. “Nos países industrializados, as áreas de ciência, tecnologia e produção atuam praticamente em fusão. Já nos países em desenvolvimento, a relação é estanque, cada setor funciona como em mundos separados. Quando analisamos a produção de ciência e tecnologia de Taiwan e Coréia, por exemplo, usando como indicadores o número de papers produzidos e o número de patentes, notamos que estas áreas se desenvolvem juntas. No Brasil, existe uma lacuna muito grande entre estes dois indicadores. Esta é uma demonstração da falha do modelo universitário, que o Reinaldo comentou”, avalia Morel, que entre 1978 e 1998 foi pesquisador do IOC.

Gutemberg Brito
Carlos Morel foi diretor do Programa de Pesqusias em Doenças Tropicais da Organização Mundial da Saúde durante cinco anos e presidente da Fiocruz entre 1992 e 1997.

"Neste momento, estamos como numa cobrança de pênalti sem goleiro”, compara. “Os novos aparatos jurídicos nos dão oportunidades inéditas. Desta vez são os institutos de pesquisa, como a Fiocruz, que estão na linha de frente, e não os institutos de ensino superior.” Segundo Morel, o sistema de inovação em saúde é muito complexo. Inclui não apenas o desenvolvimento de produtos, mas estruturas de regulação e sistemas de proteção à produção intelectual, por exemplo. A pesquisa é apenas um componente neste grande sistema de inovação em saúde”, resume.

O coordenador do CDTS critica o modelo em que os pesquisadores são cada vez mais cobrados por fazer a pesquisa chegar à instância de produção. “Este modelo está fadado ao fracasso. Para contorná-lo, temos que pensar estrategicamente em como nos inserir no panorama de Ciência e Tecnologia do país.”

Morel comenta o desempenho da Fiocruz no quadro da produção científica nacional. “Entre 2000 e 2005, a Fiocruz teve 3.324 artigos científicos publicados, um desempenho invejável. No entanto, temos um calcanhar de Aquiles: temos apenas 43 patentes neste período. A relação é de cerca de 77 artigos para cada patente. Nos países desenvolvidos, são cerca de quatro a 12 artigos para cada patente. Estamos produzindo um conhecimento que fica na estante ou que está disponível, de graça, para os outros. Falta um sistema com estrutura e política para inovação. A Fiocruz já avançou muito neste sentido. Uma das principais decisões é o CDTS”, resume. “A Fiocruz nasceu assim, contemplando desde a pesquisa básica até a produção. Afinados às tendências mundiais, estamos retomando este formato original. Estamos promovendo um resgate da história institucional em um novo contexto, que inclui um arcabouço legal contemporâneo”, completa.

Gutemberg Brito
Ilma Noronha, diretora do CICT, assina o termo de compromisso observada por Nara Azevedo, diretora da COC,
e Antônio Ivo de Carvalho, diretor da Ensp.

Acordo com unidades e criação de coordenação interna estimulam a cooperação

A assinatura de termos de cooperação com diretores de unidades simbolizou o compromisso de consolidar e ampliar as ações em parceria. Todos os diretores de unidades da Fiocruz foram convidados para a cerimônia, mas alguns não puderam comparecer por incompatibilidade de agenda.

“Cumprimentamos o corpo de pesquisadores e funcionários do IOC”, saúda Antônio Ivo de Carvalho, diretor da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp). “Que esta iniciativa marque o aprofundamento da caminhada que a Ensp e o IOC vêm traçando juntos”, declara.

“Quero parabenizar o IOC nesta ocasião”, afirma Nara Azevedo, diretora da Casa de Oswaldo Cruz (COC). “A COC completa 20 anos e aproveito para convidar todos para a Semana de Patrimônio, que é mais uma demonstração desta cooperação natural com o IOC”.

“Gostaria de lembrar que a origem do CICT está no IOC”, resume Ilma Noronha, diretora do Centro de Informação Científica e Tecnológica. “Oswaldo Cruz, logo que deu início ao Instituto, foi pioneiro em criar um acervo científico. Além disso, o primeiro diretor do CICT foi um pesquisador do IOC.”

“A Escola Politécnica não existiria sem as parcerias com outras unidades, entre elas o IOC”, disse André Malhão, diretor da Escola Politécnica em Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV). “Desde o início existe uma colaboração intensa, por exemplo, no Programa de Vocação Científica”, destaca.

“O IBMP teve origem em um grupo de pesquisadores de um departamento do IOC”, declara Samuel Goldenberg, diretor do Instituto de Biologia Molecular do Paraná (IBMP). “Por isso, quando parabenizo o IOC, me sinto também parabenizado, porque uma parte de nós está aqui.”

“Trabalhamos de perto com o IOC, que é o nosso principal usuário”, resume Antenor Andrade, diretor do Centro de Criação de Animais de Laboratório (Cecal). “Esperamos que a parceria, que já é próxima, se estreite ainda mais.”

Maria do Carmo Leal , vice-presidente de Ensino e Comunicação da Fiocruz, presente à cerimônia, acrescentou: “Meus parabéns a esta que é a instituição fundadora da Fiocruz”, diz. “E parabéns por escolherem a cooperação como tema para este evento. Este é um compromisso em que precisamos, cada vez mais, investir.”

“Para tornar mais consistentes e planejadas as ações do IOC em cooperações institucionais com unidades parceiras da Fiocruz, estamos criando hoje a Coordenação de Cooperação Institucional”, Tania apresentou, introduzindo que a coordenação será exercida por Claude Pirmez, vice-diretora de Recursos Humanos, e a vice-coordenação por Octávio Fernandes, pesquisador do Laboratório de Doenças Parasitárias.

“Nossa intenção é mapear, gerir e conduzir as colaborações”, Claude anuncia. “Pretendemos ir além da tarefa burocrática e atuar como identificadores de potencialidades e como facilitadores de cooperações”, Octávio resume.

 

Por Raquel Aguiar
25/05/2006

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