História do Rio de Janeiro e de Manguinhos
é resgatada nas comemorações dos 106 anos do IOC

Parte da programação especial que comemora os 106 anos do Instituto Oswaldo Cruz (IOC), completados no último dia 25, o Centro de Estudos desta sexta-feira, 26 de maio, foi uma verdadeira aula de história sobre a ocupação do município do Rio de Janeiro e da região de Manguinhos. Incluído nas atividades da Semana do Patrimônio da Fiocruz, o evento trouxe para o auditório do Pavilhão Arthur Neiva, em edição da série Ciência, Cultura e Arte, o historiador Joaquim Justino, da Universidade Gama Filho, e o arquiteto Renato da Gama Rosa, do Departamento de Patrimônio Histórico da Casa de Oswaldo Cruz (COC).

Gutemberg Brito
O arquiteto Renato da Gama Rosa (esq), o vice-diretor do IOC Ricardo Lourenço e o historiador Joaquim Justino

O historiador apresentou a palestra Contribuição ao estudo da história do subúrbio do Rio de Janeiro: as freguesias de Inhaúma e Irajá e analisou como as mudanças sócio-econômicas do município influenciaram a formação do subúrbio carioca, com ênfase nas freguesias – mais tarde bairros – de Inhaúma e Irajá. Em uma sucessão de slides , Justino expôs a evolução espacial do centro do Rio de Janeiro em diferentes momentos históricos e a expansão da cidade para áreas então ocupadas por fazendas e engenhos. “No final do século XIX, a consolidação do Rio de Janeiro como um grande centro exportador resultou em mudanças estruturais e organizacionais que transformaram o perfil das regiões até então rurais e deram início à forma de vida urbana que caracteriza a formação do subúrbio carioca”.

 

Gutemberg Brito
O historiador Joaquim Justino traçou um panorama da ocupação do Rio de Janeiro do século XVII aos dias atuais

A transformação de engenhos decadentes em celeiros de abastecimento da cidade através da concentração no cultivo de gêneros de subsistência, o advento do transporte coletivo, o fim da escravidão e a conseqüente falta de habitação para os recém-libertos e os imigrantes foram apontados pelo historiador como alguns dos principais fatores para o crescimento desordenado da região. “A ausência de indústrias locais fez com que o subúrbio se tornasse uma área residencial proletária, como aconteceu com Inhaúma, que no início do século apresentou o maior crescimento predial do município”, Justino finaliza.

A segunda palestra, A formação do campus da Fiocruz em Manguinhos: 1900 – 2000 , apresentou os resultados de um estudo iniciado em 1998, que teve como ponto de partida o levantamento das construções da região de Manguinhos. A projeção de mapas e fotografias recuperou um século de história e mudanças, resgatando a época de uma Fiocruz sem carros, em que o acesso à Fundação era feito somente por trem ou barco. A seqüência de imagens mostrou a ocupação do campus década a década e datou a construção das principais unidades.

arquivo/COC e Gutemberg Brito
Instalações da fazenda desapropriada(esq) onde tiveram início as atividades do Instituto Soroterápico Federal, que em 1908 ganharia o nome de Instituto Oswaldo Cruz. Em 1905 teve início a construção do castelo, que hoje é sede e símbolo do IOC .

“Embora a história do campus tenha início em 1892, com a desapropriação da fazenda de Alexandrina Rosa de Freitas, o terreno só foi oficializado em 1948. Durante esse período, outras instituições do Ministério da Saúde se instalaram aqui, como a Fundação Rockfeller, que, projetada e construída por americanos, atribuiu em 1937 uma nova linguagem arquitetônica ao campus”, Renato dispara. Em 1940, o início da pavimentação da Avenida Brasil resultou em importantes mudanças na estrutura do campus, como a demolição do Aquário, cuja alimentação dependia da ligação direta com o mar, que foi cortada.

 

Gutemberg Brito
Renato Gama Rosa conta que, inicialmente, o acesso ao IOC era feito através de trem ou por via marítima

O arquiteto revelou também algumas curiosidades, com destaque para o episódio em que o Castelo Mourisco viu-se ameaçado pela proximidade ao Aeroclube de Manguinhos. “Houve uma solicitação para que fosse removida uma das torres do Castelo, sob alegação de que atrapalhavam o pouso e a decolagem dos aviões do Aeroclube vizinho. Para a nossa sorte, o Aeroclube fechou e o Castelo permaneceu”, Renato brinca. Em outra lembrança divertida, o palestrante contou à platéia a reivindicação de Carlos Chagas, já em 1928, pela manutenção do campo de futebol.

Ao final das apresentações, os palestrantes concluíram ser fundamental pensar no campus de Manguinhos sob a atual perspectiva do município do Rio de Janeiro. “O crescimento desordenado de Manguinhos resultou na ocupação também desorganizada do campus. Por isso, o planejamento é imprescindível”, Renato aponta. “A história é uma ferramenta importante para o desenvolvimento de políticas públicas eficientes. Todo lugar tem sua memória e estudá-la é fundamental para compreender sua identidade”, Justino completa.

 

Por Bel Levy, Gustavo Barreto e Renata Fontoura
26/05/2006

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