Fêmeas do mosquito Aedes aegypti
podem ter sobrevida maior em comunidades carentes


Estudo do Instituto Oswaldo Cruz (IOC) aponta que a sobrevivência e a dispersão de fêmeas do mosquito Aedes aegypti , vetor da dengue, podem ser influenciadas pelas diferentes condições urbanísticas e pela densidade humana de uma região. O tempo de vida do mosquito está diretamente ligado à sua capacidade de atuar como vetor da dengue: são necessários de 12 a 14 dias entre o momento em que o mosquito suga o sangue de uma pessoa infectada até que as partículas virais cheguem às glândulas salivares do inseto, tornando possível a inoculação do vírus em outra pessoa – o chamado período de incubação extrínseco do vírus no mosquito. Por isso, quanto menor a sobrevida do mosquito, menor a chance de uma fêmea do Aedes aegypti transmitir o vírus da dengue.

A pesquisa estudou duas áreas no Rio de Janeiro: Comunidade Amorim, localizada no Complexo de Manguinhos, e Tubiacanga, bairro da Ilha do Governador. Para calcular a taxa de sobrevivência e dispersão do mosquito em cada localidade, a equipe do Laboratório de Transmissores de Hematozoários do IOC utilizou experimentos de coleta, marcação, soltura e captura, autorizados pelo Comitê de Ética da Fiocruz. A marcação dos mosquitos foi feita com um pó fluorescente e a captura com o uso de aspiradores e armadilhas que possuem um atraente químico que simula o odor de substâncias presentes na pele humana, capazes de exercer eficiente atração sobre os mosquitos.

“Aplicamos dois modelos matemáticos já descritos na literatura, um exponencial e um não-linear, para chegarmos à taxa de sobrevivência diária de fêmeas de Aedes aegypti em cada área”, esclarece o entomólogo Rafael Maciel de Freitas, que apresentou os resultados como sua dissertação de mestrado orientado pelos pesquisadores Cláudia Codeço e Ricardo Lourenço. “Na Comunidade Amorim o fornecimento de água e a coleta de lixo são inadequados. As casas possuem geralmente um cômodo e não contam com ambiente peridomiciliar. A densidade humana é de 904 hb/ha”, o pesquisador observa. “Por outro lado, em Tubiacanga há saneamento básico e coleta de lixo adequados, as casas possuem de dois a três quartos e amplo espaço peridomiciliar, com uma densidade de cerca de 339 hab/ha.” Este foi o primeiro estudo a avaliar tanto a sobrevivência quanto a dispersão da espécie Aedes aegypti nas condições específicas do Rio de Janeiro, considerado um dos mais importantes pontos de disseminação de dengue no país.

Os resultados mostraram que a sobrevivência de Aedes aegypti é maior na Comunidade Amorim, enquanto maiores deslocamentos foram observados em Tubiacanga. Enquanto neste bairro a maioria das fêmeas se deslocou mais de 130m, com distância máxima percorrida de 363m, na Comunidade Amorim a média das distâncias percorridas pelos insetos foi entre 70m e 90m . “Possivelmente, por se tratar de uma área onde a população está melhor distribuída, com menor aglomeração de casas, os mosquitos dispersaram mais em Tubiacanga, em busca de sítios de oviposição e fontes sanguíneas, ao contrário da Comunidade Amorim”, o entomólogo avalia.

As taxas de sobrevivência diária dos mosquitos da Comunidade Amorim foram maiores que no bairro de Tubiacanga, sugerindo haver fêmeas mais longevas nas áreas de maior aglomeração humana e pior saneamento – fêmeas que, por serem mais longevas, estão teoricamente mais aptas a transmitir o vírus do dengue. “Por outro lado, ainda é preciso realizar o experimento em outras localidades para confirmar a hipótese de que as condições do ambiente urbano influenciam diretamente a sobrevivência das fêmeas do mosquito . Afinal, foram selecionadas apenas duas áreas para este estudo e cada localidade pode possuir características específicas, que em última análise, poderão influenciar a sobrevivência e a dispersão de fêmeas de Aedes aegypti localmente”, conclui.

 

Por Bel Levy
24/03/2006

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