Documentário homenageia pesquisador do IOC reconhecido como um dos principais malacologistas do mundo

Reconhecido como um dos mais importantes malacologistas, responsável pela identificação dos caramujos vetores da esquistossomose, doença que atinge mais de 200 milhões de pessoas no mundo, o pesquisador do Instituto Oswaldo Cruz (IOC) Wladimir Lobato Paraense percorreu o Brasil e quase todo o continente americano em pesquisas de campo. Como se não bastasse, descobriu o ciclo exoeritrocitário da malária. Em reconhecimento a esta trajetória científica brilhante, a carreira do pesquisador foi escolhida como tema para o segundo volume da série de documentários Cientistas Fluminenses , produzida pela Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj). O filme foi lançado durante o Centro de Estudos do IOC desta sexta-feira, 24 de março, tradicional fórum de debate científico realizado semanalmente pelo Instituto, que apresentou palestra do secretário de Ciência e Tecnologia do governo do Estado, Wanderley de Souza. Participaram o presidente da Fiocruz, Paulo Buss; o vice-presidente de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico da Fiocruz, Reinaldo Guimarães; e a diretora do IOC, Tania Araújo-Jorge.

Lobato começou a cursar medicina em 1931 em Belém do Pará, sua cidade natal – como o sobrenome, por coincidência, denuncia. Em busca de oportunidades para o crescimento profissional, aos 21 anos partiu rumo à Faculdade de Medicina do Recife. Concluiu os estudos na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, formando-se patologista. Convidado pelo pesquisador Evandro Chagas, ingressou no IOC em 1940 estudando inicialmente a leishmaniose visceral. Quatro anos mais tarde foi aprovado em concurso público, sendo efetivado como pesquisador.

Genilton Vieira

Descobriu em 1943 a existência do ciclo exoeritrocitário da malária. Tratava-se da primeira comprovação da existência do ciclo de vida dos parasitas do gênero Plasmodium, causadores da doença, antes do ingresso na corrente sangüínea. O pesquisador chegou a esta conclusão através de uma abordagem inovadora, usando experiências com plasmódio de ave, e não de humanos. Na década de 1950 iniciou as pesquisas sobre caramujos que o consagrariam definitivamente no panorama científico nacional e internacional. Lobato identificou as espécies do gênero Biomphalaria, responsável no Brasil pela transmissão do parasita Schistosoma mansoni, causador da esquistossomose. A convite da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) percorreu o continente americano em trabalho de campo para coletar caramujos de diferentes localidades. Fruto desta verdadeira peregrinação, identificou dez novas espécies. Lobato aposentou-se no cargo de pesquisador, mas não se afastou das bancadas científicas. Aos 91 anos trabalha diariamente no Departamento de Malacologia do IOC, como chefe de laboratório.

Bem-humorado, ao final da exibição do documentário Lobato declarou ao público em tom de confidência: “um monte de mentiras”. Wanderley de Souza, secretário de ciência e tecnologia do governo do estado do Rio de Janeiro, ao qual a Faperj é vinculada, comentou que a série Cientistas Fluminenses conta não apenas com vídeos-documentários, mas também com uma série de livros que serão distribuídos em todas as escolas de ensino médio do estado, além de algumas instituições de ensino particulares. “A série vai homenagear 30 cientistas de diversas áreas, não necessariamente nascidos no estado do Rio, mas que aqui fizeram importantes trajetórias científicas”, completou. Em palestra, anteriormente à exibição do documentário, Wanderley de Souza apresentou as ações da secretaria de Ciência e Tecnologia para 2006 e convocou a comunidade científica a participar dos editais de fomento a serem abertos nos próximas semanas.

Tania Araújo-Jorge, diretora do IOC, lembra que o segundo volume da série é também a segunda homenagem a um pesquisador do IOC. “Lobato Paraense é o homenageado do segundo filme da série Cientistas Fluminenses, que foi inaugurada com Carlos Chagas Filho”, destaca. O presidente da Fiocruz, Paulo Buss, afirmou que Lobato é um exemplo para os estudantes. “Filmes como este são fundamentais para incentivar os jovens pesquisadores”, avalia. “É importante que eles vejam que é possível se tornarem cientistas do porte do Lobato.”

Por Raquel Aguiar
27/03/2006

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