Alegria dá a receita para promoção da saúde entre população de rua

Uma iniciativa inusitada está levando informação e conhecimento sobre saúde à população de rua no Rio de Janeiro. Sociólogo, mestre em Saúde Pública pela Unicamp, Marcus Vinícius Campos criou o personagem do Palhaço Matraca, encarnado por ele mesmo, para levar cidadania e educação à população de rua, em um trabalho de promoção da saúde que une arte e pesquisa acadêmica. A atividade foi retratada no documentário Matraca e o povo invisível , que teve sua primeira exibição ontem, quarta-feira, encerrando o projeto Todo O Mundo da Rua no SESC Niterói. O filme faz parte do projeto de doutorado em Ensino em Biociências e Saúde desenvolvido por Marcus Vinícius no Instituto Oswaldo Cruz (IOC) e é a conclusão de um trabalho de campo iniciado há três anos.

“Eu sempre gostei de palhaço e sempre vivi a dicotomia entre arte e ciência. Consegui encontrar na educação não-formal um nicho ainda pequeno, porém em crescimento, que acaba com essa dicotomia e integra essas duas vertentes do conhecimento”, o pesquisador relata. “Quando fui para campo como palhaço, percebi o potencial absurdo de linguagens que existe entre moradores de rua, profissionais do sexo e o cidadão comum e o quão distante a academia está dessa realidade”. No documentário, a integração entre o conhecimento acadêmico e a realidade das ruas é feita pela sobreposição de diferentes discursos, expostos pelo depoimento de moradores e ex-moradores de rua, profissionais do sexo, deputados, educadores e profissionais de saúde.

As doenças sexualmente transmissíveis
são um dos temas abordados pelo sociólogo
em seu trabalho de campo

A experiência como palhaço de rua mostrou ao pesquisador como a alegria é fundamental para a promoção da saúde. “O objetivo da minha tese de doutorado é investigar o uso da arte do palhaço como estratégia para divulgar e promover saúde em população de rua, através do conceito Alegria para Saúde”, apresenta. “Por estar também à margem da sociedade, o palhaço consegue uma aproximação maior com a população de rua. Através de brincadeiras lúdicas é capaz de multiplicar informações sobre saúde e educação e promover a cidadania”, conclui.

Por Renata Fontoura e Bel Levy
30/03/2006

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