Debate sobre a resistência a drogas antifúngicas
e a alternativas ao uso de antibióticos encerram o evento

Professora da Universidade Federal do Espírito Santo, Mariceli Ribeiro palestrou sobre os parâmetros utilizados pelos testes de susceptibilidade a drogas antifúngicas e alertou para a distância existente entre as pesquisas sobre a resistência realizadas em laboratório e a evolução clínica dos pacientes no último dia do III Simpósio de Resistência aos Antimicrobianos - I Simpósio de Resistência a Drogas Quimioterápicas , organizado pelo Instituto Oswaldo Cruz (IOC) . “Não existe uma correlação entre os mecanismos de resistência e a área clínica e isso é preocupante, mesmo que a resistência no caso dos fungos seja menos alarmante do que a resistência das bactérias ao tratamento”, avaliou.

A resistência em espécies de fungos como candida e cryptococcus foram explorados em uma mesa redonda que reuniu Patrícia Silva Nascente, da Universidade de Pelotas, Arlete Cury, da Universidade de São Paulo, e Márcia Melhem, do Instituto Adolfo Lutz. Consultor da Organização PanAmericana de Saúde (OPAS), o médico Gabriel Schmunis apresentou um panorama sobre a resistência aos antibióticos nas Américas. O convidado expôs a situação da vigilância, hoje realizada por uma rede formada por 14 paises da América Latina. O médico chamou atenção para a responsabilidade dos laboratórios e profissionais de saúde na identificação e prevenção do aparecimento da resistência aos antibióticos. “Para que se faça um uso racional de antibióticos é fundamental que os profissionais de saúde conheçam os perfis de resistência desses medicamentos”, provocou.

As restrições e implicações para a saúde humana da utilização de drogas na criação de suínos, frangos, crustáceos e peixes foi tema de debate em uma mesa redonda composta por Ricardo Titze, da Universidade de Brasília, Bernardete Spisso, do Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde (Fiocruz), Luiz Carlos Bordin, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, Regine Fernandes Vieira, do Instituto de Ciências do Mar, e Douglas McIntosh, de Biomanguinhos (Fiocruz).

“Existem restrições ao uso de antimicrobianos na alimentação animal. Há limites máximos de resíduos permitidos e, quando a substância é proibida, a tolerância é zero”, sintetizou Bernardete Spisso, do INCQS. “Monitorar estes resíduos é imprescindível para garantir a segurança alimentar dos consumidores e atender as exigências de organismos como a União Européia”, finalizou.

As perspectivas na busca de alternativas ao uso de antibióticos foram o assunto da última mesa redonda do simpósio. O resultado de um estudo desenvolvido a partir do isolamento de um peptídeo de Rana Temporária , uma das espécies do gênero de anfíbios Rana , foi apresentado pelo pesquisador Salvatore de Simone, chefe do Laboratório de Bioquímica de Proteínas e Peptídeos do IOC. Segundo o pesquisador, o peptídeo em questão demonstrou atividade antimicrobiana e pode se transformar em uma alternativa de tratamento. “Ainda é necessário realizar o capsulamento do material para que possa ser utilizado”, o pesquisador poderou.

As vantagens e desvantagens da fagoterapia foram apresentadas pelo médico veterinário Marcos Gomes , da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Empregada em países como Polônia e Geórgia, o método utiliza bacteriófagos –vírus que se nutrem de bactérias e coexistem com elas em seu hábitat natural –, os chamados fagos, como opção aos medicamentos tradicionais. “Apesar de ter sido descoberta em 1917, a fagoterapia ainda não é muito usada porque faltam estudos. Para usar um fago, o veterinário, dentista ou médico precisa dar um diagnóstico preciso, identificando com precisão o agente causador da doença, e saber se o vírus é lítico, ou seja, se ele vai destruir aquela mostra de bactéria, diferentemente dos antimicrobianos, que funcionam para várias doenças”, alertou Gomes.

Marcelo Zuanaze, representante da empresa Biovet, apresentou as ferramentas uilizadas atualmente no Brasil em relação à vacinação na avicultura. Segundo ele, existem vacinas para praticamente todos os tipos de enfermidades bacterianas. “As aves são imunizadas contra cólera aviária, salmonela enteridis , micoplasma e coriza infecciosa. As vacinas são ferramentas eficazes no controle destas doenças em plantéis avícolas”, ressaltou. O último convidado da mesa redonda, José Procópio Senna, de Biomanguinhos (Fiocruz), expôs sobre a imunoterapia e bactérias multirresistentes. Segundo o pesquisador, a indução da resposta imunológica do próprio organismo pode servir como alternativa para conter uma infecção bacteriana. “Em 2001, foi realizada a primeira tentativa de utilização do método, que embora só atue em alvos expostos, poder ser uma opção interessante”, finalizou.

Na cerimônia que encerrou o evento foi realizada uma homenagem ao pesquisador Ernesto Hofer, um dos pesquisadores mais antigos do Departamento de Bacteriologia do IOC. “Neste momento, só posso agradecer e reforçar o tema deste evento tão importante: só os resistentes permanecem”, brincou Hofer ao receber uma placa de reconhecimento pelos profissionais por ele formados e pelos anos de trabalho dedicados à pesquisa.



01/11/2006