Anunciado genoma completo da vacina
BCG Moreau-Rio de Janeiro

Pesquisadores do Instituto Oswaldo Cruz (IOC) apresentaram hoje os resultados do Projeto Genoma BCG Moreau-Rio de Janeiro, que realizou o seqüenciamento genético completo do DNA da vacina BCG utilizada para a prevenção da tuberculose no Brasil. Fruto de uma parceria entre a Fiocruz e a Fundação Ataulpho de Paiva (FAP), o Projeto contribuirá para o aperfeiçoamento da vacina e para o desenvolvimento de testes mais rígidos para o controle da qualidade de produção do imunizante.

Gutemberg Brito
Leila Mendonça Lima expôs a metodologia utilizada para o seqüenciamento completo do genoma da vacina BCG Moreau-Rio de Janeiro

“O seqüenciamento foi realizado em três anos, tempo reduzido em comparação a experiências semelhantes. Podemos adiantar que em curto prazo será possível produzir kits mais eficientes para o controle da qualidade de produção da vacina, o que é fundamental para o sucesso de programas de controle da tuberculose”, expôs Leila Mendonça Lima, chefe do Departamento de Bioquímica e Biologia Molecular do IOC e integrante do projeto, durante a cerimônia de lançamento realizada em 23 de novembro.

A importância da vacina BCG – e do conhecimento detalhado de seu DNA – para a saúde pública vai além da tuberculose: a cepa também é utilizada para regular a resposta imune de pacientes com hanseníase e câncer de bexiga e tem propriedade anti-asmática reconhecida por diversos estudos. “A longo prazo, o projeto abre perspectivas para a produção de veículos vacinais recombinantes, que podem ser utilizados contra outros patógenos – o que só é possível a partir do seqüenciamento genético completo da cepa, que permite a identificação e seleção, através de técnicas de engenharia genética, de proteínas e moléculas RNA específicas”, a pesquisadora adiantou.

Gutemberg Brito
Castello Branco apresentou as estratégias adotadas
para o desenvolvimento de novas vacinas

Para Luiz Roberto Castello Branco, chefe do Laboratório de Imunologia Clínica do IOC, que também integra a iniciativa, e diretor científico da FAP, o projeto coloca o Brasil em uma posição de destaque na comunidade científica. “O Grupo BCG da Organização Mundial de Saúde decidiu redefinir os padrões para a realização de testes de controle de qualidade da produção de imunizantes, com base nos genomas das cepas vacinais. Estamos um passo à frente nessa área do conhecimento, pois a BCG Moreau-Rio de Janeiro é a única cepa no mundo com seqüenciamento genético completo”, comemorou. “Outra vantagem é que ela é a única vacina BCG administrada via oral, o que será um agente facilitador para a aplicação futura de vacinas polivalentes, sobretudo em crianças." Também foram apresentados os projetos de pesquisa que pretendem desenvolver compostos multivacinais a partir da BCG Moreau-Rio de Janeiro para doenças como o tétano e as leishmanioses.

Gutemberg Brito
Paulo Buss (esquerda) e Germano Gerhardt Filho, presidentes da Fiocruz e da FAP, assinam convênio que oficializa parceria entre as instituições. À direita, Reinaldo Guimarães, vice-presidente de Pesquisa e Desenvolvimento. Tecnológico da Fiocruz.

Uma mesa-redonda apresentou temas como a eficácia da BCG, a situação atual da tuberculose no Brasil e as estratégias para o desenvolvimento de novas vacinas. Entre os convidados estavam Miguel Hijjar, diretor do Centro de Referência  Professor Hélio Fraga da UFRJ, e Maurício Lima Barreto , do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia, além de Leila Mendonça e Luiz Roberto Castelo Branco.

O presidente da Fiocruz, Paulo Buss, e o presidente da FAP, Germano Gerhardt Filho, formalizaram a cooperação entre as duas instituições através da assinatura de um convênio. “Apesar de sermos responsáveis por 5% da produção da vacina BCG no mundo, nossa instituição é pequena perto da Fiocruz. Seríamos uma pequena ilha no Oceano Pacífico ameaçada pelo aquecimento global se não fosse o abrigo de instituições como a Fiocruz”, brincou Germano, ressaltando a importância da parceria.Para Paulo Buss, o projeto significa uma conquista para a ciência brasileira e simboliza a preocupação da Fundação na busca pela cooperação com outras instituições de pesquisa.

Bel Levy e Renata Fontoura
23/11/06