Pesquisador ressalta desafios colocados pela resistência bacteriana a antibióticos

Partidário de uma maior parcimônia no uso de antibióticos, o pesquisador Aníbal Sosa, da organização não-governamental Aliança para o Uso Prudente de Antibióticos (APUA, na sigla em inglês), argumenta que esta é a única estratégia para enfrentar a crescente resistência bacteriana aos antibióticos. Caso contrário, ele alerta, o uso indiscriminado por parte de médicos e pacientes condenará as novas drogas a serem também suplantadas pela resistência de bactérias, num ciclo contínuo. Sosa apresentará a conferência New Antibiotics and the Emergence of Antibiotic Resistant Bacteria no próximo dia 27 de outubro (sexta-feira), durante o III Simpósio de Resistência aos Antimicrobianos – I Simpósio de Resistência a Drogas Quimioterápicas, organizado pelo Instituto Oswaldo Cruz (IOC)/Fiocruz, que reúne especialistas nacionais e estrangeiros no Hotel Glória (Rio de Janeiro). Em entrevista, ele antecipa alguns dos pontos que serão abordados:

Quais os principais obstáculos no enfrentamento à resistência a antibióticos ?

Entre os principais fatores, podemos citar a indicação injustificada de antibióticos por médicos no tratamento de infecções respiratórias agudas causadas por vírus sincicial respiratório; o número limitado de novos antibióticos para tratar infecções bacterianas graves, particularmente no ambiente hospitalar; o comércio ilegal de antibióticos e a falsificação de medicamentos. A auto-medicação, muito comum em países da América Latina, assim como o uso indiscriminado por médicos, dentistas e veterinários, também são importantes fatores.

Neste contexto, qual a relevância de desenvolver novas drogas?

A indústria farmacêutica levou 30 anos para produzir quatro novas classes de antibióticos para a resistência de bactérias gram-positivas a infecções. Se o uso dessas drogas não for controlado, as bactérias criarão resistência a elas também.

Quais as conseqüências da resistência bacteriana a antibióticos para a vida cotidiana da população?

As conseqüências são numerosas: tratamentos poderão se tornar ineficazes e aumentará a morbidade e mortalidade de certas doenças; o custo de tratamentos será elevado e o custo do sofrimento humano também crescerá.

É possível desenvolver uma droga que não desencadeie a resistência bacteriana?

Por enquanto isso não é possível, já que as bactérias desenvolvem mecanismos de resistência para superar a ação de antibióticos.

Você poderia antecipar algumas informações sobre sua apresentação no Simpósio?

Discutirei temas como a maior disponibilidade de novos antibióticos em países industrializados e o fato de que a maioria dos países está esgotando suas opções na escolha de antibióticos para tratar infecções resistentes. Outro ponto a ser abordado é que os dados de vigilância não estão disponíveis para que os gestores possam gerar estratégias de intervenção específica.


Raquel Aguiar
25/10/2006

 

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