Simpósio científico alerta para a crescente resistência de microorganismos a medicamentos

Os desdobramentos do uso veterinário de antimicrobianos sobre a saúde humana e a ação de órgãos governamentais brasileiros no combate à resistência de microorganismos – bactérias, vírus e fungos – a medicamentos foram os pontos centrais discutidos no primeiro dia do III Simpósio de Resistência aos Antimicrobianos - I Simpósio de Resistência a Drogas Quimioterápicas , realizado pelo Instituto Oswaldo Cruz (IOC) de 24 a 27 de outubro no Hotel Glória (Rio de Janeiro).

Gutemberg Brito

Durante os quatro dias de simpósio serão realizadas 9 conferências e 11 mesas-redondas

Na mesa de abertura, o vice-presidente de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico da Fiocruz, Reinaldo Guimarães, ressaltou a importância do evento pela atualidade do debate. “A resistência à terapia é algo que está na ordem do dia, por isso, este simpósio é de imensa relevância. A discussão do tema é importante principalmente para o futuro”, avaliou. Tania Araújo-Jorge, diretora do IOC, lembrou que os conhecimentos gerados nos quatro dias de atividades têm aplicação em curto prazo para a melhoria da saúde pública. “Esta iniciativa vai gerar resultados do ponto de vista social. A temática é oportuna, já que a resistência nos desafia cada vez mais. Esperamos ansiosos os frutos que surgirão deste encontro”, sintetizou.

Ação de órgãos governamentais foi alvo de debates

Representantes da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, do Programa Nacional de DST/AIDS e da Coordenação Geral de Laboratórios de Saúde Pública abriram as discussões expondo as principais ações destas entidades para o controle da resistência aos antimicrobianos. A especialista Cíntia Parenti, da Anvisa, apresentou a rede nacional de monitoramento e controle da resistência antimicrobiana na área hospitalar, implantada em 2004.  “Hoje, além das capacitações que realizamos, contamos com a participação de 107 hospitais públicos sentinelas e um banco de dados nacional”, afirmou.

Lucas Dantas, do Programa Nacional de Monitoramento da Prevalência e da Resistência Bacteriana em Frangos, reforçou o aspecto da resistência antimicrobiana neste tipo de carne, que apresenta o maior impacto na dieta dos brasileiros. Segundo ele, 55% da carne consumida no país é de frango. “São utilizados antimicrobianos na atividade avícola, como aditivo na ração das aves. Com o programa nacional de monitoramento, cerca de 80% da carne consumida no país está sujeita a inspeção”, resume o médico veterinário.

A Coordenação Geral de Laboratórios de Saúde Pública (CGLAB) mantém três subredes que monitoram a resistência antimicrobiana de enterobactérias, meningite e tuberculose com base nas atividades dos Laboratórios Centrais de Saúde Pública (LACENS) . “Nosso sistema disponibiliza uma rede geral de informações a todos os profissionais da saúde”, apresentou Maria Cândida de Souza, representante do CGLAB.

Lílian Inocêncio, do Programa Nacional de DST/AIDS, revelou dados atuais da epidemia no Brasil e destacou a importância de debater não só a prevenção e controle da AIDS, mas também de outras doenças sexualmente transmissíveis. “Nos últimos dois anos, incluímos no programa ações relacionadas à sífilis, por exemplo, implementamos diagnósticos da doença na gestação e criamos campanhas para a notificação de sífilis congênita”, afirmou.

Os desdobramentos do uso veterinário de antimicrobianos sobre a saúde humana

João Palermo-Neto, da Universidade de São Paulo, discutiu em conferência a avaliação de risco no desenvolvimento da resistência aos antimicrobianos em medicina veterinária. O especialista defendeu que o uso dessas drogas em animais pode não representar a única fonte de risco e que a proibição de seu uso nem sempre é a melhor solução. “Houve o banimento do uso de antimicrobianos para fins preventivos e aditivos em animais na Dinamarca. A Organização Mundial de Saúde avaliou as conseqüências dessa proibição e constatou que o uso para fins terapêuticos aumentou”, informou Palermo-Neto.

Formada pelos especialistas Antônia Maria de Oliveira Machado , da Universidade Federal de São Paulo, Julival Ribeiro, do Hospital de Base de Brasília, Otília da Rosa Santos, da Comissão de Infecção Hospitalar do Município do Rio de Janeiro (CIHM), e Marisa Zenaide Gomes, do Instituto Pesquisas Clínicas Evandro Chagas, a última mesa-redonda do dia abordou como tema central a infecção hospitalar. Aspectos como os exames de microbiologia, o monitoramento da resistência da infecção hospitalar, os desafios no seu tratamento e o impacto econômico da resistência antimicrobiana foram discutidos.

Para encerrar as atividades do primeiro dia de evento, a diretora da Agência de Saúde do Canadá, Lai King Ng compartilhou com os participantes os bons resultados da implantação de um programa integrado de monitoramento e controle da resistência antimicrobiana no Canadá. “Nosso objetivo é gerar conhecimento e desencadear ações para conter o avanço das bactérias resistentes em alimentos, no homem e no animal”, resumiu. Segundo a pesquisadora, foram necessários sete anos de trabalho para implantar o programa em fazendas e coletar os dados para análise em quatro laboratórios que fazem parte da força tarefa. “A Salmonela é monitorada de costa a costa em nosso país e as bactérias Campylobacter e enterococcus também fazem parte do programa. O monitoramento é feito em abatedouros, rações e alimentos comercializados”, sintetizou.


Renata Fontoura
25/10/2006

 

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