Resistência do HIV a medicamentos é tema de simpósio sobre patogênese da AIDS

A resistência do vírus causador da AIDS aos medicamentos atualmente utilizados e a identificação de novos alvos terapêuticos foram tema do debate científico do quarto dia do Seminário Avançado sobre Patogênese em HIV/AIDS, realizado de 23 a 27 de outubro pelo Instituto Oswaldo Cruz (IOC) com apoio do Programa Nacional de DST/AIDS do Ministério da Saúde. Para discutir as novas perspectivas no tratamento da AIDS, Mario Stevenson apresentou um panorama da evolução da infecção, que incluiu esclarecimentos sobre o ciclo de vida do HIV- 1, a função de seus genes e sua interação com as células de defesa do organismo humano e os mecanismos de ação das drogas existentes.

Entre as classes de medicamentos anti-retrovirais utilizados atualmente, Stevenson destacou os inibidores de transcriptase reversa e de protease – enzimas envolvidas no processo de replicação do vírus e amadurecimento da partícula viral – e demonstrou o funcionamento da terapia anti-retroviral de alta potência (HAART, na sigla em inglês) que, ao minimizar os eventos de transcriptase reversa e comprometer a replicação viral, reduz a quantidade de vírus no organismo e conseqüentemente sua diversidade e capacidade de adaptação a mudanças fisiológicas do reservatório celular.

Em contrapartida, o pesquisador expôs os obstáculos ao pleno sucesso do tratamento, que permitem que o vírus resista à HAART e mantenha sua alta taxa de mutação e rápida capacidade de replicação – como a longevidade de células de defesa, que uma vez infectadas passam a funcionar como fábricas de vírus, e o acesso limitado das drogas a regiões intracelulares e compartimentos do organismo, como o sistema nervoso central. Stevenson ressaltou que, por ter um repertório genético limitado, composto por apenas nove genes, o HIV-1 apropria-se de funções das células que invade para replicar-se. Segundo o pesquisador, apesar de os medicamentos utilizados atualmente serem direcionados a proteínas virais, os sítios de interação entre o vírus e elementos celulares também devem ser explorados na investigação de novos alvos terapêuticos.

Entre os mecanismos de persistência do HIV-1, Stevenson chamou a atenção para a capacidade de replicação do vírus durante a administração de anti-retrovirais, comprovada pelo aumento imediato da carga viral de pacientes que interrompem o tratamento. A evidência demonstra a propriedade de latência do vírus, que mesmo em baixa concentração continua a replicar-se no organismo humano, por estabelecer múltiplos reservatórios celulares.

Para combater essa propriedade de latência do vírus, que permite que ele se multiplique silenciosamente durante o tratamento, Stevenson sugere a indução da morte de células infectadas, onde o vírus se replica, e a intensificação da terapia anti-retroviral. Para isso, porém, são necessário novos alvos terapêuticos.

Na sessão dedicada aos estudantes, foram apresentados os trabalhos Perfil de suscetibilidade/resistência das cepas de HIV-1 identificadas em mulheres que fizeram ou fazem terapia antiretroviral como medida profilática para a transmissão vertical do HIV-1 nos Estados do Pará, do Amapá e do Acre , dos institutos de Microbiologia, de Imunologia e de Virologia da Universidade Federal do Pará (UFPA; Generation of HIV-1 subtype C molecular clones from diverse geographic regions , do Departamento de Genética da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); Evolution of lentivirus restriction factors in New World Primates , realizado em parceria pelo Instituto de Biologia da UFRJ e pela Divisão de Genética do Instituto Nacional do Câncer; Structural precursor GagPol and the cellular protein AIP-1 , do Departamento de Genética da UFRJ; e HIV-1 incidence, prevalence, social-demographic profile, subtypes and antiretroviral drug resistance mutations among recent and long-term seroconverters in VCTs of Rio de Janeiro State, Brazil , realizado em parceria pelo Departamento de Imunologia do IOC, o Instituto Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz), o Instituto de Pesquisa Clínica Evandro Chagas (Ipec/Fiocruz) e o Hospital Geral de Nova Iguaçu.

 


Bel Levy
26/10/2006

 

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