Técnica brasileira para diagnóstico da doença de Chagas integra esforço internacional para desenvolvimento de medicamentos

Pioneiro na utilização da técnica PCR, ferramenta molecular de análise de DNA amplamente utilizada para o diagnóstico preciso de doenças infecciosas através da identificação e quantificação de parasitos, o Instituto Oswaldo Cruz (IOC) vai colaborar nos próximos dias junto à Organização Mundial da Saúde (OMS) para difundir a utilização da técnica no diagnóstico da doença de Chagas. De 23 a 25 de abril, a bióloga Constança Britto, chefe do Laboratório de Biologia Molecular e Doenças Endêmicas do IOC, participa da Reunião de Consulta Técnica sobre Aspectos Operacionais e Estratégicos para o Desenvolvimento Clínico de Drogas Tripanocidas para a Doença de Chagas, realizada em Buenos Aires pela OMS. A especialista apresentará a utilização da técnica não apenas para o diagnóstico da doença de Chagas, mas também para a avaliação da segurança e eficácia de drogas candidatas ao tratamento da infecção. 

Especialista no uso de PCR, Constança desenvolveu na década de 1990, durante seu doutorado, um estudo inédito sobre a utilização da técnica como método diagnóstico da doença de Chagas crônica. A partir daí, tornou-se autoridade no assunto e presta consultoria a diferentes grupos de pesquisa – nacionais e estrangeiros – que utilizam a PCR em seus projetos. “A PCR é uma técnica bastante sensível, excelente para a identificação da presença de escassos parasitos, através da detecção de seu material genético, e para a quantificação da carga parasitária de um paciente. Por ainda ser considerado um ensaio de recente aplicação na doença de Chagas, a técnica ainda não possui um protocolo definido, padronizado, o que resulta na aplicação de diferentes metodologias por vários grupos e conseqüentemente em resultados diversos”, a pesquisadora explica. “Por isso, o objetivo dessa reunião é estabelecer um consenso para a estratégia de desenvolvimento clínico e aperfeiçoar as ferramentas disponíveis para garantir a eficácia e a segurança de potenciais drogas candidatas ao tratamento da doença de Chagas. Meu papel é apresentar as possíveis contribuições e limitações da PCR para o projeto”, apresenta. 

O convite para a reunião da OMS surgiu a partir da participação de Constança no projeto The Benefit Trial (sigla em inglês para Avaliação da Interrupção de Tripanossomíase por Benznidazole), uma aliança inaugurada em 2005 para a avaliação a longo prazo do uso de benzonidazol, droga clássica para o tratamento da doença de Chagas, em pacientes chagásicos cardíacos crônicos. “Sabemos que a administração de benzonidazol não significa a cura completa do paciente crônico, mas a droga de fato reduz a carga parasitária e parece retardar a evolução da doença – daí o interesse de avaliar a efetividade do tratamento, a partir da comparação da evolução da parasitemia nas amostras de sangue de pacientes que serão analisadas por PCR no período pré-tratamento e em diferentes momentos da quimioterapia. Além de avaliar a efetividade da droga, através da comparação da carga parasitária registrada antes e depois do tratamento, o estudo pretende relacionar o índice parasitológico do paciente à patogênese da doença, mostrando como a quantidade de parasitos pode influenciar na evolução do quadro clínico”, Constança descreve. 

Com objetivo semelhante, a reunião da OMS pretende padronizar a metodologia da técnica PCR para utilizá-la como ferramenta para avaliação do efeito de substâncias candidatas ao desenvolvimento clínico de uma droga para o tratamento da doença de Chagas. Como resultado, o encontro produzirá um manual técnico com a descrição da estratégia de desenvolvimento clínico, o critério de seleção de pacientes e a definição da segurança e da eficácia do tratamento, realizada através das análises por PCR e testes sorológicos.  

“É muito gratificante ter o resultado de um trabalho desenvolvido há mais de dez anos reconhecido ainda hoje e ter a certeza de que a minha tese de doutorado não está arquivada em um armário, como acontece com muitos trabalhos, mas que contribui de fato para o desenvolvimento da ciência”, Constança comemora.

Bel Levy
20/04/07