Pesquisador do IOC é candidato em segundo turno inédito na SBPC

A história da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) é uma das mais ricas dentro do cenário do desenvolvimento científico e tecnológico brasileiro. Fundada em maio de 1948 por um grupo de cientistas e amigos da ciência, contou na sua ata de fundação com 265 sócios. Hoje são mais de quatro mil.  Já em de outubro de 1949 realizou sua primeira reunião anual, em Campinas. No próximo dia 8, terá início a 59ª Reunião Anual, em Belém (PA). Nesta oportunidade, será dada posse à nova diretoria e ao novo presidente do SBPC, durante a Assembléia Geral, dia 12. Nas eleições deste ano, uma situação inédita na história da instituição ocorreu: um empate para a Presidência. Os dois candidatos, Marco Antonio Raupp e Renato Sérgio Balão Cordeiro, tiveram o mesmo número de votos: 579. Como o regulamento eleitoral não previa o caso de empate e os critérios de desempate, novo pleito foi convocado. O resultado será divulgado no dia 5 de julho.

Renato Cordeiro, pesquisador do Laboratório de Inflamação do Instituto Oswaldo Cruz (IOC), concentra em cinco prioridades a sua proposta para a Presidência da Sociedade. “A nossa proposta de trabalho articula-se a partir de cinco eixos centrais, que servirão de embasamento para uma série de ações de planejamento estratégico com vistas a dar uma nova cara a SBPC, ao mesmo tempo em que preserve tudo o que de mais positivo já foi construído pela entidade”, afirma o pesquisador, que é membro titular da Academia Brasileira de Ciências, foi Vice-Presidente de Pesquisa e Ensino da Fiocruz entre 1997 e 2000 e diretor do IOC de 2001 a maio de 2005.

Fortalecimento institucional e articulação com a sociedade; melhor estruturação da entidade; maior sintonia com o Brasil; desatar “nós críticos” das carreiras e da área de ciência; e maior aproximação com a inovação resumem os cinco eixos de trabalho. No primeiro tópico, Cordeiro ressalta que um dos pontos relevantes e prioritários é o estabelecimento de uma maior integração da SBPC com as sociedades científicas, com a Academia Brasileira de Ciências e com todos os segmentos do complexo de ciência e tecnologia nacional, com vistas a uma maior participação da comunidade cientifica nas reuniões anuais da SBPC.

“Ampliaremos a articulação da SBPC com segmentos estratégicos da sociedade: parlamento, entidades da sociedade civil organizada, tanto no plano nacional quanto no internacional, imprensa e ainda junto a diferentes atores que reconheçam e coloquem o desenvolvimento da ciência e o trabalho dos cientistas em primeiro plano. Neste contexto, uma representação sólida, com prestígio e pró-ativa da SBPC junto ao Congresso Nacional e ministérios em Brasília será uma de nossas primeiras atitudes na Presidência”, considera.

Em relação à prioridade para melhorar a estruturação da entidade, Cordeiro entende que o papel do Conselho e a capilaridade das secretarias regionais da SBPC, “células-mater” da entidade, como diz, são fundamentais para a realização da missão proposta, bem como estratégicos para a discussão dos grandes temas nacionais de interesse da ciência e tecnologia e para a “nucleação de novos segmentos da Sociedade nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, e em áreas emergentes em vários estados da federação”.

O pesquisador do IOC também considera prioritário consolidar na agenda da SBPC temas nacionais como os problemas de saneamento nas cidades e no litoral brasileiro, os desafios do campo da saúde e o ensino público em geral. “Há urgência de um projeto estratégico para erradicar o analfabetismo absoluto e funcional no país e um enérgico apoio à construção da autonomia universitária e elaboração de políticas estáveis de financiamento público das universidades federais, indo ao encontro dos anseios da sociedade brasileira que clama por universidades públicas de qualidade, laicas e socialmente referenciadas”, destaca Cordeiro.

Desatar “nós críticos” das carreiras e da área de ciência é considerado outra importante prioridade. “A nova agenda da SBPC também deve contemplar a implementação de iniciativas para superar assimetrias regionais em educação, ciência e tecnologia, a questão da infra-estrutura e a carreira docente nas Instituições Federais de Ensino Superior (IFES) e nas instituições de ciência e tecnologia, a formação de recursos humanos em nível técnico e de pós-graduação, a regulamentação das profissões científicas, a contribuição dos cientistas para a sociedade, entre outros exemplos”, Cordeiro exemplifica.

No aspecto da maior aproximação em relação à inovação, Cordeiro entende ser necessário um amplo envolvimento da SBPC no debate do desenvolvimento tecnológico e inovação (DT&I) no Brasil, preservando os valores fundamentais da pesquisa e do ensino. “A conexão entre DT&I e o sistema produtivo acadêmico ainda se apresenta como uma das mais severas fragilidades do Sistema Brasileiro de Inovação”, afirma Cordeiro. Superar essa condição e facilitar o envolvimento dos setores acadêmico, governamental e privado, continua, são matérias para reflexão e ação da SBPC. “Será prioritária a abertura de um processo abrangente para mobilizar a inteligência brasileira e para discutir e contribuir com um novo padrão de desenvolvimento centrado na inovação e na equidade”, conclui.

O site das eleições 2007 para a Presidência é o https://servicos.sbpcnet.org.br/sbpc/eleicao/2007/presidente/

Gustavo Barreto
04/07/07