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Sérgio CoutinhoSérigo Coutinho

Sérgio Gomes Coutinho foi o primeiro diretor eleito da história do IOC, escolhido em 1989 com cerca de 90% dos votos. No Instituto desde 1977, foi responsável por introduzir no IOC as pesquisas em imunologia celular. Como gestor, seus esforços foram fundamentais para a aquisição do primeiro citômetro de fluxo da América Latina, que atendia a grupos de pesquisa de todo o país. Pode-se dizer que sua gestão começou de forma dolorosa – afinal, em seu discurso de posse teve que sorrir confiante mesmo sofrendo com forte dor renal –, mas o Instituto experimentou um período de crescimento constante durante o período.

“ Ingressei na Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP) em 1967, como professor assistente, no recém-criado Departamento de Ciências Biológicas, proveniente da Faculdade de Medicina da UFRJ, onde era Professor Assistente de Doenças Infecciosas e Parasitárias. Em 1970, quando foi criada a Fiocruz, já era Professor Titular. Sete anos depois, devido a uma política da Presidência da Fundação de concentrar no IOC todos os cientistas que faziam pesquisas estratégicas na área biomédica, o grupo liderado por mim na ENSP veio para o IOC, passando a fazer parte do Departamento de Protozoologia do Instituto.

Naquela época, o grupo contava com poucos pesquisadores, que continuaram os estudos que vínhamos realizando sobre toxoplasmose e leishmanioses humanas. Em 1980, após um período no exterior, introduzi linhas de pesquisas em imunologia celular no IOC, algo novo na Instituição.

Conseguimos as primeiras culturas de linfócitos-T humanos no Instituto, assim como a produção in vitro de seus fatores de crescimento (hoje chamados de “interleucina II”), que permitiam culturas desses linfócitos por maior tempo. Utilizando tais metodologias, nosso grupo contribuiu com novos conhecimentos sobre a imunidade mediada por linfócitos-T na leishmaniose tegumentar humana e sobre sua influência na cura ou agravamento da doença. Colaboramos, também, com o pesquisador Bernardo Galvão, então do Departamento de Imunologia do IOC, ao cedermos a ele os fatores de crescimento de linfócitos-T que produzíamos, possibilitando as culturas de linfócitos humanos que permitiram o isolamento do HIV pela primeira vez no Brasil por Galvão e seus colaboradores no IOC.

Entretanto, para que os trabalhos utilizando células individualizadas pudessem ser incrementados, era necessária a utilização de um citômetro de fluxo, equipamento dispendioso, sofisticado, que só existia nas instituições científicas do chamado primeiro mundo. Conversei várias vezes com os dirigentes na época, Carlos Morel, no IOC, e Sergio Arouca, na Presidência da Fiocruz, sobre a importância de adquirir o equipamento, visando um salto de qualidade nas pesquisas.

Finalmente, no final de 1988, após uma difícil operação financeira, o tão esperado citômetro de fluxo, o primeiro na América Latina, foi instalado em nossa área no Departamento de Protozoologia, com o compromisso de servir a todas as Instituições do Brasil que dele necessitassem para suas investigações. E assim foi feito. O salto de qualidade nas pesquisas que esperávamos foi uma realidade e o IOC mais uma vez demonstrou o seu pioneirismo. Felizmente, hoje tal equipamento tornou-se muito mais acessível, havendo, só na Fiocruz, vários deles.

No final dos anos 80, foi instituído o processo democrático na Fiocruz. O IOC mais uma vez partiu na frente e foi a primeira unidade a organizar seu processo eleitoral, para escolha da nova diretoria. No início de 1989, após conversas entre vários amigos no Instituto, foi apresentada uma chapa para concorrer à direção, encabeçada por mim, tendo como vice-diretores Hermann Schatzmayr, Henrique Krieger e Maria de Nazareth Meirelles. Uma outra chapa estava sendo formada, mas acabaram decidindo não concorrer e prestaram solidariedade à nossa candidatura. Desta forma, nossa chapa, com quase unanimidade dos votos diretos dos eleitores, foi a primeira a ser eleita no IOC.

A solenidade de posse foi sofrida para mim. Um cálculo renal produzia muita dor enquanto eu discursava, tentando manter na face uma expressão otimista, condizente com o teor da minha fala. Acho que consegui. Mas não sabia que o sofrimento ainda não tinha terminado. No final da solenidade vieram as congratulações; recebi muitos abraços, vários deles com tapinhas nas costas, justo em cima do meu rim esquerdo. Por sorte, os sofrimentos terminaram por ali, o cálculo renal foi retirado e nossa gestão na direção do IOC foi tranquila e prazerosa. A produção científica do Instituto foi sempre crescente qualitativamente e quantitativamente, reflexo da competência de nossos cientistas e do ambiente favorável existente.

Criamos uma estrutura de laboratórios dentro dos Departamentos, facilitando que as lideranças emergentes pudessem melhor expressar-se. As normas então elaboradas (sugeridas por comissão organizada para este fim), sobre os critérios para criação de um laboratório, sua chefia e avaliação temporal, estão vigentes até hoje, com poucas modificações.

Gosto de lembrar quando foi dado o nome de Pavilhão Leonidas Deane ao antigo pavilhão 26, fazendo-se uma justa homenagem ao grande cientista brasileiro. Na cerimônia, com anfiteatro do Pavilhão lotado, o Dr. Deane foi o último a discursar. Com a simplicidade das grandes personalidades, ele, referindo-se a sua profícua atividade científica, terminou dizendo: “...e ainda recebo honorários para fazer aquilo que sempre gostei.”


 

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