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Aedes e dengue: vetor e doença

Quando falamos em dengue, em geral a primeira imagem que nos ocorre é a do mosquito Aedes aegypti. Porém, é importante fazer a distinção. Para que a dengue ocorra, são necessários três componentes: o vírus que causa a doença (são quatro sorotipos), o mosquito, que transmite o vírus (chamado vetor da doença) e uma pessoa susceptível (que nunca teve contato com o sorotipo de vírus que está sendo transmitido pelo vetor).

Do ponto de vista do mosquito, é preciso esclarecer que o Aedes aegypti nem sempre é o “vilão”: nem todos os A. aegypti transmitem a doença, porque nem todos estão infectados com o vírus da dengue. Para que a transmissão da doença aconteça, é preciso que o vetor esteja infectado e infectivo – o que são coisas diferentes.

Monika Barth/IOC

Para que a transmissão da dengue aconteça, é preciso que o vetor esteja infectado e infectivo

 

O mosquito fêmea (sim, apenas as fêmeas picam, já que elas fazem isso para amadurecer seus ovos) se torna infectado quando suga o sangue de alguém doente, no curto período em que esta pessoa tem várias partículas do vírus circulando em seu sangue. Neste momento o mosquito terá o vírus em seu “estômago”, mas ainda não é capaz de transmiti-lo. Entre 10 e 12 dias depois, as partículas do vírus dengue se disseminam pelo organismo do A. aegypti, se multiplicam e invadem suas glândulas salivares: neste momento, o mosquito fêmea se torna infectivo e, somente a partir daí, poderá transmitir o vírus a outra pessoa.*

Ao mesmo tempo em que pica para sugar o sangue, o Aedes cospe saliva, que tem uma série de substâncias analgésicas e anticoagulantes, que o ajudam a não ser notado e a conseguir sugar o maior volume possível de sangue. Neste processo, as partículas de vírus são injetadas na corrente sanguínea da pessoa, junto com a saliva do mosquito.

Na prática, um percentual muito pequeno de A. aegypti está infectado com o vírus dengue. Em primeiro lugar porque nem todas as fêmeas picam uma pessoa com o vírus dengue. Em segundo lugar, porque nem todos os mosquitos que picam alguém com o vírus dengue conseguem sobreviver até o momento em que se tornam infectivos e podem, então, começar a transmitir a doença.

Quanto maior a longevidade média de uma população de mosquitos, maior a chance de que ela possua indivíduos que consigam se tornar infectivos. Ao mesmo tempo, quanto menor o esforço que as fêmeas fazem para colocar seus ovos, maior a garantia de longevidade da população. O esforço das fêmeas do mosquito acontece em dois momentos principais: para procurar uma fonte de sangue (necessário para amadurecer os ovos) e para depositar seus ovos (que precisam do ambiente aquático para eclodir e se desenvolver para os estágios de larva, pupa e, finalmente, mosquito).

Genilton Vieira/IOC

A fêmea do Aedes aegypti se torna infectiva entre 10 e 12 dias
depois de se alimentar com o sangue de uma pessoa infectada
pelo vírus da dengue

 

Assim, fica fácil entender que quanto maior a disponibilidade de locais para que as fêmeas depositem seus ovos, maior a chance de ter uma população longeva de mosquitos – e maior a chance de encontrar mosquitos infectivos, capazes de transmitir a dengue. Em outras palavras, agindo para eliminar os criadouros potenciais do mosquito, estamos dando a melhor contribuição possível para colaborar com a diminuição das epidemias de dengue.

* No mosquito, o período de tempo entre a alimentação com o sangue de alguém que possui o vírus dengue e a possibilidade de transmiti-lo, ou seja, entre o mosquito estar infectado e se tornar infectivo, é chamado de “período de incubação extrínseco” (PIE).

* Este texto foi redigido pela pesquisadora Denise Valle, do Laboratório de Fisiologia e Controle de Artrópodes Vetores do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz)

 

*Todos os conteúdos foram revisados por pesquisadores do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz)


 


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