Manifesto
das ONGs do Brasil - Bangkok 2004
Articulação
Nacional de Luta Contra a Aids
O drama
da Aids no Terceiro Mundo: Chega de discurso. É hora de agir!
A cada
minuto, das dez pessoas que se infectam pelo HIV no mundo, nove
morrerão sem tratamento. É esse destino trágico
anunciado para 32 milhões de pessoas que vivem com Aids nos
países em desenvolvimento. São mais de dez mil mortes
por dia, mesmo numa época em que a Aids se tornou doença
crônica para quem tem acesso aos coquetéis de medicamentos,
que permitem às pessoas viverem cada vez mais e melhor. A
epidemia ainda consome a vida de milhões de homens, mulheres
e crianças; devasta famílias, destrói comunidades
e compromete o futuro de nações. Precisamos mudar
o rumo desta história. Para isso:
CONCLAMAMOS
os governos, a opinião pública e as comunidades a
agirem imediatamente para a garantir o direito das pessoas portadoras
do HIV e Aids receberem o melhor tratamento existente, independente
do lugar onde vivem ou da sua condição social e econômica,
respeitando assim as determinações da Declaração
de Compromissos das Nações Unidas (UNGASS/AIDS).
REPUDIAMOS
a falta de acesso aos remédios anti-Aids e demais medicações
necessárias ao tratamento de co-infecções e
efeitos colaterais, fato decorrente dos elevados preços impostos
pela indústria farmacêutica multinacional, que sacrifica
milhões de vidas para preservar o lucro exorbitante.
EXIGIMOS
que os tratados de propriedade intelectual e os acordos comerciais
estejam a serviço da saúde e da vida, e não
subordinados a interesses econômicos.
DEFENDEMOS
a quebra imediata e definitiva do licenciamento compulsório
e a produção de medicamentos genéricos.
CONCLAMAMOS
os organismos internacionais e dos governos dos países, sobretudo
dos mais ricos, para que saiam do atual estado de inércia
e omissão e invistam concretamente na garantia da assistência
integral a todos os doentes de Aids do planeta, na prevenção
e na descoberta de uma vacina, respeitando o acordo que assinaram
na UNGASS/AIDS –2001.
REIVINDICAMOS
que países em desenvolvimento, a exemplo do Brasil, possam
livremente produzir, exportar e transferir tecnologias de medicamentos
genéricos para outros países pobres.
REFORÇAMOS
que o exemplo do Brasil, de acesso universal ao tratamento, pode
ser seguido por outros países. Nos orgulhamos dos avanços
que conquistamos, que foi fruto, principalmente de uma atuação
permanente da sociedade civil na proposição e controle
das nossas políticas de saúde.
LEMBRAMOS
que, apesar do reconhecimento mundial ao Programa Brasileiro, ainda
estamos longe do controle da epidemia. No Brasil diariamente 300
pessoas se infectam com o HIV, 60 doentes iniciam tratamento e 27
pessoas morrem de Aids. Temos mais de 600 mil brasileiros soropositivos/as.
A AIDS já matou 150.000 pessoas e atualmente 140.000 dependem
do coquetel para viver.
Num
país onde 44 milhões de brasileiros/as passam fome,
a AIDS continua crescendo, afetando principalmente o grande contingente
excluído e marginalizado da população: mulheres,
homossexuais, pobres e negros, com ênfase entre profissionais
do sexo, usuários/as de drogas e populações
encarceradas.
ALERTAMOS
às autoridades brasileiras para que redobrem o compromisso
e melhorem a qualidade dos serviços de saúde e de
educação; solucionem a falta constante de exames e
medicamentos para doenças oportunistas; implementem leis
de proteção aos direitos das pessoas soropositivas
e ampliem as insuficientes ações de prevenção,
principalmente dirigidas às populações em maior
situação de vulnerabilidade.
REAFIRMAMOS
que o melhor meio de prevenção é incentivar
o uso de preservativos, garantir o acesso permanente a uma informação
cidadã com linguagem e conceitos adequados, adotar políticas
de redução de danos para usuários/as de drogas
(incluindo troca de seringas); incluir os temas sexualidade e direitos
humanos nas políticas educacionais.
RENOVAMOS
nosso compromisso com o movimento coletivo, integrado a uma rede
mundial de solidariedade, em busca de um mundo justo, onde não
haja lugar para a dor, o sofrimento, a doença e a morte causadas
pela ganância. O lucro não pode superar a VIDA!
LUTAMOS
pelo direito básico de viver com qualidade e dignidade, pelo
direito à saúde, o sonho e a esperança.
Conferência
Internacional de AIDS- 2004
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