LNLS
abre a cientistas novos equipamentos
Proteômica
será a área mais beneficiada com uso de espectrômetros,
informa Roberto Medeiros, do LNLS.
O Laboratório
Nacional de Luz Síncrotron (LNLS), operado pela Associação
Brasileira de Tecnologia de Luz Síncrotron (ABTLuS) mediante
Contrato de Gestão assinado com o MCT e o CNPq, está
ampliando a capacidade instalada para uso em pesquisa científica,
com a entrada em operação de dois espectrômetros
de massas, que contribuirão para desenvolver a área
de biologia molecular estrutural. Um dos espectrômetros é
o primeiro em sua categoria a entrar em operação no
Brasil.
A espectrometria
de massas é uma técnica utilizada em química
de proteínas. Ela serve para identificar, caracterizar modificações
e seqüenciar proteínas e peptídeos com importância
biológica ou biomédica (veja abaixo).
Os
equipamentos chegaram ao LNLS em 2003 e desde então foram
testados. Agora, serão abertos a usuários de outras
instituições. Além do acesso aos espectrômetros
de massas, os pesquisadores que tiverem propostas de pesquisa aprovadas,
terão também a possibilidade de participar de cursos,
oficinas e treinamentos destinados a contribuir para a ampliar a
competência brasileira na área de espectrometria de
massas aplicada à proteínas.
Os
recursos para os investimentos no Laboratório de Espectrometria
de Massa - que permitiram a aquisição dos espectrômetros,
equipamentos periféricos e softwares - vieram principalmente
da Fapesp. Há, também, a participação
do MCT, que provê recursos para a manutenção
e operação do laboratório.
A primeira
chamada para apresentação de propostas de pesquisas
destinadas à execução com uso dos espectrômetros
de massas está disponível na página eletrônica
do Laboratório (http://www.lnls.br). Os equipamentos se integram
à infra-estrutura que o LNLS coloca ao alcance de pesquisadores
brasileiros de outras instituições, cumprindo o papel
de laboratório nacional, indutor de pesquisa e desenvolvimento
tecnológico com nível mundial de competitividade.
Equipamentos
de última geração
Os
dois espectrômetros de massas que agora estão sendo
colocados pelo LNLS ao alcance da comunidade científica são
instrumentos com características diferentes, que se complementam.
'Considerando
as características das amostras a serem analisadas e os resultados
que se pretendem alcançar, recomenda-se um ou outro espectrômetro,
podendo haver situações em que as mesmas amostras
serão analisadas em ambos', explica o pesquisador Fábio
Cesar Gozzo, responsável por gerenciar este novo setor em
operação no LNLS.
No
espectrômetro com a técnica MALDI-TOF/TOF, um feixe
de laser incide sobre a amostra em estudo, inserida numa matriz
sólida. A ação do laser sobre esta matriz dá
origem a íons que serão atraídos em direção
a um detector. Estes íons voam em direção ao
detector, em tempos diferentes, que são inversamente proporcionais
à massa de cada íon. As medidas de massa obtidas destes
íons - em unidade chamada Dalton - oferece aos pesquisadores
informações preciosas sobre aspectos da química
das proteínas ou peptídeos que estão sendo
estudados. Este espectrômetro - único atualmente em
uso no Brasil - permite ainda fazer a dissociação
de moléculas, o que significa dar ao pesquisador níveis
mais aprofundados de informação sobre seqüenciamento
de peptídeos.
No
espectrômetro com a técnica Electrospray Q-TOF , a
amostra do material em estudo é introduzida na forma de solução
aquosa. Aplica-se uma alta voltagem à solução
gerando os íons e formando um spray eletrolítico,
chamado electrospray, de onde os íons voam em direção
ao detector. Este instrumento também possui a capacidade
de dissociação dos íons, fornecendo informações
sobre a seqüência da proteína.
O ciclo
para adquirir dados é bastante rápido e num único
dia de trabalho cada grupo de pesquisa poderá obter dezenas
de espectros para análise, etapa na qual são utilizados
softwares e computação de alto desempenho, que também
fazem parte do apoio à pesquisa fornecido pelo LNLS.
Outra
característica relevante dos espectrômetros é
quanto à sensibilidade de detecção dos íons.
Mesmo quantidades de amostras bastante exíguas de um determinado
material biológico pode servir para realizar as medições.
O que
se faz com os espectrômetros de massas?
Identificação
de proteínas
Os espectrômetros de massas permitem ao pesquisador saber
a seqüência de aminoácidos de um pedaço
de proteína, que será posteriormente submetida à
comparação com informações disponíveis
em bancos de dados. No caso de proteínas purificadas em laboratório,
obtém-se um dado padrão de peptídeos dos aminoácidos
e compara-se com informações disponíveis em
bancos de dados. Daí resulta a informação procurada,
de identificação da proteína.
Modificações
pós-traducionais
São feitas na proteína, para regular sua função
em um dado organismo. Com o uso dos espectrômetros de massas,
os cientistas comprovam e identificam qual foi a modificação
e onde ela ocorreu. Estes estudos são importantes para compreender
a situação biológica que regula o funcionamento
de determinada célula.
Seqüenciamento
de peptídeos
Peptídeos são parte de uma proteína e têm
poucos aminoácidos. Faz-se o seqüenciamento de peptídeos
presentes em organismos que não têm genes seqüenciados
(estudos genômicos), em busca de conhecimento sobre uma proteína
ainda desconhecida, sobre a qual não há informações
em banco de dados.
Laboratório
Completo
O Laboratório
Nacional de Luz Síncrotron (LNLS) busca ampliar continuamente
a capacidade de atender novas demandas da comunidade científica.
Os
dois espectrômetros de massas agora abertos ao uso de pesquisadores
somam-se a um conjunto de equipamentos que incluem a única
fonte de luz síncrotron do Hemisfério Sul - um potente
emissor de Raios X e Ultravioleta, utilizada em experimentos voltados
para compreender propriedades dos materiais no plano atômico
e molecular, diversos tipos de microscópios eletrônicos
e de varredura por sonda e equipamentos de ressonância magnética
nuclear.
Estudos
e pesquisas em biologia molecular estrutural têm sido fortemente
impulsionados no Brasil após a implantação
do Centro de Biologia Molecular Estrutural no LNLS a partir de 2000,
considerado por especialistas como o mais bem aparelhado da América
do Sul.
É
neste Centro que estão localizados os dois espectrômetros
de massas, com seus equipamentos periféricos e toda a base
computacional necessária para analisar os dados obtidos com
as técnicas utilizadas nestes equipamentos.
O LNLS
é responsável por gerenciar a Rede de Biologia Molecular
Estrutural do Estado de SP (SmolBNet), financiada pela Fapesp, na
qual estão integrados 16 grupos científicos do estado
de SP que se beneficiam do uso de equipamentos e insumos compartilhados,
troca permanente de informações, e treinamentos.
Juntamente
com o Centro Nacional de Ressonância Magnética Nuclear
da UFRJ, o LNLS coordena também a Rede Nacional de Biologia
Molecular Estrutural, financiada pelo CNPq, na qual estão
associados 10 grupos científicos de todo o Brasil, que participam
de uma rede similar.
Justifica-se
investir nesta área: o alvo central de todo o trabalho, em
suas múltiplas e variadas etapas que exigem técnicas,
métodos e equipamentos diferentes (como, por exemplo, os
espectrômetros de massas) são as proteínas,
compostos básicos das relações bioquímicas
dos seres vivos e fundamentais à manutenção
do metabolismo. As proteínas se formam no interior das células
a partir de diferentes combinações de um total de
20 aminoácidos, sempre os mesmos em qualquer organismo, seja
uma planta ou um mamífero.
Cada
uma das etapas do processo de 'fabricação' de proteínas
gerou áreas científicas com características
específicas: a Genômica se preocupa em decodificar
as informações genéticas contidas no DNA; a
Transcriptômica se volta para a transcrição
e transporte desses dados pelo RNA; a Proteômica é
a área que faz mapeamentos das proteínas existentes
em cada organismo; a Biologia Estrutural ou Genômica Estrutural
fica com a tarefa de decifrar as estruturas de proteínas.
Pesquisadores
que utilizam a infra-estrutura disponível no LNLS submetem
propostas de pesquisa, em rotina e procedimentos disponíveis
na página eletrônica (http://www.lnls.br).
Comitês
e assessores externos avaliam sobre a relevância científica
da proposta e, em caso afirmativo, os cientistas se deslocam até
o campus do LNLS, em Campinas, SP, onde passam a temporada necessária
para realizar os experimentos e obter dados para analisar em suas
instituições de origem. É esta a função
de um laboratório nacional.
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