Problema é vender tecnologia, diz Goldenberg

Hipótese de acordo de venda de urânio bruto foi bem recebida pelos especialistas

A possibilidade de um acordo de comercialização de urânio bruto entre Brasil e China, anunciada ontem, foi recebida pelos especialistas da área de energia de forma positiva, mas com algumas restrições.

Na avaliação do secretário de Meio Ambiente do Estado de SP, o físico José Goldemberg, o problema não está na venda do minério bruto, mas na comercialização de centrífugas de processamento de urânio desenvolvidas com tecnologia nacional. 'Isso poderá causar problemas internacionais para o país, colocando-o sob pressão dos EUA e da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA).'

Goldemberg lembrou que o Brasil é signatário de vários acordos internacionais que garantem o uso pacífico da energia nuclear. Ele ressaltou, no entanto, que é necessário esperar a concretização das negociações para uma avaliação final do possível acordo. Quanto à venda de urânio bruto, o secretário acredita que não há problema. 'O Brasil tem grandes reservas de urânio natural e vender o produto bruto é o mesmo que exportar uma commodity', exemplificou.

Para o ex-ministro das Minas e Energia e senador Rodolpho Tourinho (PFL-BA), o país tem todas as condições para fornecer o minério e a tecnologia para o enriquecimento do produto. Segundo ele, se fosse ministro, tomaria a mesma decisão de assinar um acordo com a China.

Na opinião do físico Ildo Sauer, diretor de Gás e Energia da Petrobrás, um eventual acordo pode servir para 'desnuclearizar' o mundo. 'Ambos os países são consideradas potências e podem fazer pressão para que o tratado de não-proliferação de armas nucleares não seja apenas um instrumento de barganha dos que têm bomba contra os que não têm', afirmou. Sauer, que já trabalhou no desenvolvimento do reator para o submarino nuclear brasileiro, acredita que o acordo é uma ótima chance para os países desenvolverem os interesses em comum nesta área.

Para o físico Luiz Pinguelli Rosa, professor da UFRJ e ex-presidente da Eletrobrás, porém, o acordo não tem grande valor comercial para o país, se se tratar apenas de urânio bruto. 'É um minério barato sem muita demanda, já que as usinas consomem pouco. É um mercado pouco significante e com pouca tecnologia', afirmou.
(26/5)