Samba
no pé, ciência na cabeça!
Alessandro Guimarães Pereira é analista em C&T
do CNPq.
A proposta
da Escola de Samba Unidos da Tijuca, de levar a ciência para
a Marques de Sapucaí, foi mesmo um tiro certeiro. O carnavalesco
Paulo Barros conseguiu esmiuçar um tema espinhoso, impopular
na vida cotidiana, quiçá numa passarela de samba.
E a
ousadia do carnavalesco deu certo, pois a escola foi vice-campeã
e arrancou, sem dúvida alguma, os melhores comentários
acerca do quesito 'inovação'.
Dentre
todas as alegorias, como a máquina do tempo, os frankensteins
e a bateria com seus cérebros de Einstein, o que mais me
impressionou foi a pirâmide humana que simbolizava a cadeia
de DNA.
Foi
um carro alegórico que, na fase de sua execução,
gerou questionamentos sobre o sucesso na passarela. O sucesso foi
dinâmico, e dependeu da coreografia daqueles homens azuis
que eram os adereços do carro.
A grande
inovação da Unidos da Tijuca foi a de mostrar que
um tema importante socialmente, mas pouco divulgado pode arrancar
aplausos e mais: se for bem trabalhado, pode ser facilmente assimilado
pelo público.
Para
tanto, deve ser bem projetado. O tema 'O Sonho da Criação,
A Criação do Sonho. A Arte da Ciência no Tempo
do Impossível', não poderia ser mais oportuno.
Ao
meu ver, tinha que ser a ciência o tema da escola, posto que
os resultados alcançados pela escola foram, como na ciência,
fruto da ousadia, da criatividade, da disciplina e até da
sorte.
Tudo
isso somado ao trabalho de equipe entre o carnavalesco, os integrantes
da Escola e membros da comunidade científica. Ressalta-se
que o evento teve o apoio da Casa da Ciência, da UFRJ, que
forneceu idéias para o samba enredo e para o projeto das
fantasias e carros alegóricos.
Foi
poético ver tudo aquilo, meio mito, meio científico,
meio estranho... E só sendo estranho para gerar um novo patamar
de conhecimento. O estranhamento é cúmplice de que
algo mudou. Afinal, aquelas baianas, tecnobaianas, baianas-autômatos,
que tentavam imitar, imitar as... baianas!
Baianas
com aquelas saias que lembram um torno mecânico. Não
eram baianas mecânicas, pois o rosto delas, o sorriso de carnaval
trazia toda fantasia à realidade e vice-versa. Quer saber,
eram mesmo baianas!...
Foi
a ação deliberada e calculada que mobilizou toda aquela
festa. Aquilo foi coisa de cientista, que projeta, é criativo,
disciplinado e de certa forma conta com a sorte ou o acaso.
Olha,
quando o mundo associar novamente o Brasil ao carnaval, eu entenderei
como elogio à nossa eficiência. Imaginem, fazer tudo
aquilo que se faz na Sapucaí exige um talento organizacional,
um know how que poucos possuem. E botar um prêmio Nobel da
Química pra sambar! Isso é coisa de profissional.
Ao
popularizar a ciência, a Unidos da Tijuca mostrou que nosso
destino é a antropofagia, seja nas artes, seja na ciência.
Eu acho que é desta antropofagia que devemos tirar o melhor
produto: a geração de conhecimento. Assim somos originais.
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