Como
barrar a fuga de cérebros
Agência
FAPESP - Brasil, China e Índia são
exemplos positivos para o resto do mundo em desenvolvimento. Esse
trio, na opinião de Nancy Saravia, diretora científica
do Centro Internacional de Treinamento e Investigações
Médicas da Colômbia, e de Juan Francisco Miranda, diretor
executivo da instituição, está conseguindo
algum êxito para impedir a chamada fuga de cérebros
para o exterior.
O exemplo brasileiro, segundo a dupla colombiana, que acaba de publicar
o artigo Plumbing the brain drain no boletim mensal da Organização
Mundial de Saúde (OMS), é positivo porque, pelo menos
no item educação, o país tem obtido sucesso.
Os números apresentados no texto mostram uma evolução
no número de doutorados feitos por brasileiros no próprio
país.
Se em 1985, por exemplo, 40% dos títulos outorgados a alunos
brasileiros eram provenientes de universidades estrangeiras, hoje
essa taxa está em 10%. “Apesar de o fluxo migratório
de cientistas ter aumentado 5,3% entre 1993 e 1999, essa saída
é compensada pela migração de outros pesquisadores,
principalmente de pessoas da própria América Latina”,
escrevem os pesquisadores. Para eles, portanto, o investimento em
educação é uma das medidas eficazes para se
barrar a preocupante fuga de cérebros.
O exemplo da China, que investiu US$ 2,5 bilhões em pesquisa
básica apenas em 2002, é outro considerado positivo
pelos pesquisadores colombianos. Uma das conseqüências
práticas dessa ênfase no setor, surgida no final da
década de 1990, é a China ser o único país
em desenvolvimento a participar de forma direta do Projeto Genoma
Humano.
Mas o desafio chinês é ainda mais complexo. De acordo
com o artigo, há 33 mil chineses estudando, em nível
de graduação, nos Estados Unidos. A situação
é problemática quando se verifica que, dentro desse
universo, apenas 10% admite pretender voltar ao país de origem.
Também nesse caso, o investimento em educação
é considerado essencial pelos autores.
Da Índia vem outro caminho sólido, segundo a ótica
da dupla colombiana, para a fixação de mentes brilhantes.
Investir em infra-estrutura de pesquisa e oferecer condições
irrestritas de trabalho têm produzido um fluxo contrário
à emigração de cientistas indianos. Apenas
em 2000, voltaram para a Índia 1,5 mil cientistas considerados
de alto nível.
Se educação, infra-estrutura e centros tecnológicos
formam um tripé ideal para trazer cientistas de volta aos
países em desenvolvimento – e isso parece ser um consenso
entre quem estuda esse problema – a forma de obter recursos
para isso é que torna o problema quase intransponível.
Para Nancy e Miranda, deveriam ser pensados mecanismos de compensação
financeira internacionais para a fuga de cérebros. Eles defendem
tanto a criação de espécies de taxas para os
próprios pesquisadores, como ainda para as empresas que contratam
esses estrangeiros. O princípio seria o mesmo que rege o
mercado de comércio de créditos de carbono, pelo qual
os países desenvolvidos, por serem mais poluidores, compram
emissões carbonáticas dos demais, para que esses possam,
com os recursos, desenvolver ações que colaborem com
o meio ambiente.
O artigo pode ser lido gratuitamente na biblioteca on-line SciELO
(FAPESP/Bireme). Para acessar o texto, clique
aqui.
23/09/2004
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