Maior
floresta urbana do mundo pede socorro
Futuro de mata carioca será trágico se o ritmo de desmatamento
persistir, prevê modelo

Cobertura do Maciço da Tijuca em 1972 e 1996 e projeções
para 2032
e 2092. Em verde escuro, as áreas de floresta; em vermelho, a área
urbana.
O Maciço da Tijuca, conhecido por abrigar a maior área de
floresta urbana no mundo, na cidade do Rio de Janeiro, tem perdido ao
longo dos anos boa parte de sua área verde, por conta do desmatamento
e da ocupação humana. E se o atual ritmo continuar, a previsão
é de que, no ano de 2092, a proporção de florestas
em relação à área total do maciço será
de 22,72%, num cenário otimista, e de 6,85% no pior dos casos (em
1996, esse índice era de 35,81%).
Essa é uma das conclusões da tese de doutorado do engenheiro
cartógrafo Jesus Fernando Mansilla Bacca, defendida no Instituto
de Geografia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Com base
em mapas de uso e cobertura de solo da Floresta Nacional da Tijuca dos
anos de 1972, 1984 e 1996, Jesus elaborou um programa de computador que
faz projeções de como estará a ocupação
do maciço de 12 em 12 anos.
Imagens de satélite e fotografias do maciço coletadas pela
orientadora de Jesus, Ana Luíza Coelho Neto, permitiram mapear
a evolução do desmatamento da Floresta da Tijuca. O maciço
foi dividido em áreas definidas em função da sua
ocupação. Jesus, que é pesquisador da Empresa Brasileira
de Agropecuária (Embrapa Solos), adotou as seis classes de uso
e cobertura de solos: áreas de floresta clímax, áreas
de floresta secundária, pedreiras e rochas, gramíneas, áreas
urbanas e solo exposto. Em seguida, o pesquisador registrou em seu programa
as variações que ocorreram no maciço (veja abaixo).
A partir dessa variação registrada a cada 12 anos, Jesus
elaborou um modelo computacional que projeta a probabilidade de cada trecho
de 2500 m2 do Maciço da Tijuca permanecer na mesma classe ou mudar
de categoria. Ao calcular essa probabilidade para o conjunto dos fragmentos
do maciço, foi possível construir cenários de como
ele estará como um todo nos anos subseqüentes -- 2008, 2020,
até 2092.
A previsão é alarmante. No cenário mais otimista,
as áreas urbanas, que em 1972 ocupavam 13,78% da área estudada,
em 2020 se estenderão por 30,17%, e em 2092, 47,34%. Já
as áreas de floresta, que em 1972 representavam 51,18% do total,
em 2092 serão somente 22,72%. No cenário mais pessimista
a área urbana crescerá até 61,31% e a floresta se
reduzirá a apenas 6,85%.
O desmatamento terá impacto negativo sobre o meio ambiente, como
o aumento de deslizamentos, pois são as raízes das árvores
que dão sustentação ao solo. "Sem a Floresta
da Tijuca, o maciço deixará de conter a erosão do
solo e conservar a biodiversidade", afirma o pesquisador. Sem falar
no lazer que ele proporciona e na exuberância que confere à
paisagem do Rio, que tanto encantou Jesus quando ele veio de seu país
natal, o Peru.
Mas ainda há esperanças de que a Floresta da Tijuca não
morra. "Fiz apenas uma simulação", pondera Jesus.
"O que ela quer dizer é que, se a política ambiental
de preservação do maciço se mantiver e se a sociedade
civil não tomar uma posição participativa na sua
preservação, a degradação continuará
até que ele desapareça."
Denis Weisz Kuck
Ciência Hoje on-line
26/06/03
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