A caminho da clonagem "eticamente" correta

por: Tania Mara Alves Pereira Mendes
(Aluna do Curso de Especialização em Jornalismo Científico Labjor/UNICAMP)

Quase todos os meses, há novidades sobre como a tecnologia da clonagem está se aprimorando e, assim, provocando mudanças na vida das pessoas. Essa tecnologia permeia todos os meios, indo da agricultura à medicina.

O grande questionamento ainda é a clonagem humana. Perguntas como: “Quem está trabalhando em clonagem humana? Como seria ter um clone? A clonagem seria o fim da humanidade e o início de uma nova raça?”, passam pela mente de muitos.

A clonagem humana sempre esteve envolta pelo problema bioético. Muito se tem discutido sobre o assunto. Os pesquisadores, a igreja e a sociedade, de um modo geral, ainda não entraram em um consenso.

A clonagem de órgãos tem sido estudada e desenvolvida nos grandes centros de pesquisa, mas quando se trata de clonar um ser humano, o problema ganha outras dimensões.

A teoria dos princípios da bioética, que preconiza que se uma ação tem boas conseqüências e está dentro de regras estabelecidas é eticamente recomendável, é considerada por muitos bioeticistas muito simplista, uma vez que nem sempre permite respostas satisfatórias aos problemas bioéticos que se apresentam. Por isso, foram criados, ao redor do mundo, centros para estudos bioéticos, onde a questão sobre a clonagem humana tem sido amplamente discutida. As discussões em torno do tema também têm levado a novas pesquisas que contornem o problema bioético.

O recente estabelecimento de linhagens de células-tronco humanas de materiais como embriões fertilizados, células germinativas primordiais, sangue de cordão umbilical e células somáticas adultas e a bem-sucedida derivação in vitro de múltiplos tipos celulares a partir de células tronco embrionárias humanas e de ratos, despertaram considerável entusiasmo sobre o uso potencial de células-tronco pluripotentes como fonte de células diferenciadas para reparar tecidos degenerados ou danificados em humanos. Todavia, a diversidade dos antígenos do complexo de histocompatibilidade principal (MHC) na população geral e o conseqüente risco de rejeição imunológica complica o uso alogênico de células-tronco.


A novidade na pesquisa desenvolvida nos laboratórios da Stemron Corporation, Atlanta, EUA, segundo a revista New Scientist, de 28/04/03, está na obtenção de células-tronco de blastocistos a partir de óvulos que não foram fecundados por um espermatozóide. Isso foi conseguido através do estímulo químico dos oócitos que começaram o processo de multiplicação celular como se tivessem sido fecundados por um espermatozóide, até o ponto de formarem uma massa de células rica em células-tronco. Esse processo na realidade não é novo. Ele é chamado de partenogênese e é o modo de reprodução de alguns seres vivos inferiores. As células-tronco obtidas foram então cultivadas e conseguiu-se que elas se diferenciassem em vários tipos de tecidos. Nos experimentos feitos com óvulos de camundongos conseguiu-se a diferenciação em tecidos específicos (nervoso, hematopoiético, etc). No experimento com óvulos humanos, a pesquisa não conseguiu ir tão longe, mas obteve células-tronco que sobreviveram aos estágios iniciais de cultura.

As células-tronco obtidas por esse método, por terem conteúdo genético homozigótico podem evitar o problema da rejeição imunológica. Além disso, por não serem oriundas de tecidos embrionários ou fetais, não teriam as restrições éticas tradicionalmente levantadas.

As células-tronco são células existentes em nosso organismo. Elas também são chamadas de indiferenciadas porque têm a capacidade de se transformar em qualquer tipo de célula do nosso organismo. As células-tronco são encontradas no adulto, mas são mais abundantes nos tecidos embrionários, fetais e no sangue de cordão umbilical.

Devido à sua capacidade de se transformar em qualquer tipo de célula, o potencial terapêutico dessas células é imenso, pois podem ser usadas para tratar tecidos degenerados ou danificados.

Atualmente, já existem inúmeros bancos de sangue de cordão, públicos e privados, espalhados ao redor do mundo, inclusive no Brasil, que colhem o sangue do cordão umbilical no momento do parto, separam as células-tronco e as congelam para uso futuro do próprio indivíduo doador (autotransplante).

O uso de células-tronco para alotransplante (a pessoa recebe células de outro indivíduo) esbarra em dois problemas principais: a rejeição imunológica e as questões éticas advindas do uso de tecidos embrionários e fetais. Entretanto, com esse novo “método de fecundação” os problemas éticos poderiam desaparecer, uma vez que não houve a presença do espermatozóide na fecundação do óvulo, o que – para muitos – caracteriza uma vida; assim não haveria o prejuízo de uma vida humana.

Baseado em:Stem Cells - Original Article - Multilineage Potential of Homozygous Stem Cells Derived from Metaphase II Ooocytes


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