Publicação do Instituto Oswaldo Cruz/Fiocruz - 08/06/2006

 

Estudo procura substituir carrapaticidas químicos por plantas medicinais

Com o objetivo de desenvolver alternativas para o uso de produtos químicos no controle de carrapatos e outros artrópodes, o Instituto Oswaldo Cruz (IOC) iniciou um estudo que analisa o potencial do uso de plantas medicinais, já utilizadas empiricamente pela população para este fim, como carrapaticidas naturais.

A pesquisa poderá verificar a eficácia dos extratos de Acerola, Uva do Japão, Espirradeira, Louco e Aveloz no combate ao Amblyomma cajennense , nome científico do carrapato transmissor da febre maculosa, doença que no ano passado fez vítimas no Rio de Janeiro. “Os produtos utilizados para controlar a infestação de carrapatos, além de agressivos ao meio ambiente, são altamente tóxicos para os seres humanos”, afirma Julio Vianna Barbosa, chefe do Departamento de Biologia do IOC, que conduz os experimentos, e orientador da tese de doutorado da pesquisadora Zeneida Teixera Pinto, que tem o estudo como tema.

Gutemberg Brito
Carrapato fêmea já alimentada em fase de postura de ovos que pode durar até 15 dias

A primeira espécie de artrópode a ser pesquisada não foi escolhida casualmente. “Este carrapato abandona seu hospedeiro para fazer a postura de seus ovos no meio ambiente. Neste caso, o uso de produtos químicos obrigatoriamente abrange o animal e toda a área ou pasto em que ele está presente”, Julio avalia, ressaltando que é preciso aplicar os carrapaticidas tóxicos amplamente no espaço afetado e em grande quantidade. “A cada postura, a fêmea coloca de seis a oito mil ovos. Por isso, a tendência é que a quantidade do produto que precisa ser utilizado para ter eficácia aumente gradativamente, principalmente em épocas de chuvas.”

Para Zeneida, os resultados do trabalho terão conseqüências em diversos aspectos. “Se comprovarmos a eficácia dessas ervas para o combate do carrapato, podemos abrir um precedente para testar a eficácia em outros artrópodes. Algumas são usadas de forma empírica como larvicidas e até como antinflamatório pela população”. Outro aspecto importante ressaltado pela pesquisadora é a falta de segurança em relação aos componentes tóxicos dos produtos químicos. “Geralmente quem aplica os carrapaticidas não usa luvas ou botas e fica exposto sem nenhuma proteção.” A pesquisadora acrescenta que serão investigados a eficácia, a dosagem, e o princípio ativo de cada planta.

O estudo, realizado em parceria com Farmanguinhos – que cede os extratos para os testes biológicos -, não é o primeiro nesta linha a ser desenvolvido pelo Departamento. “O Departamento de Biologia do IOC foi o primeiro a lançar estas alternativas, como a Coroa de Cristo para controlar o caramujo hospedeiro da esquistossomose”, Julio comemora. “Dentro da missão institucional, visamos respeitar o compromisso ambiental e todos os processos existentes de controle que são conhecidos”, finaliza.

Por Renata Fontoura

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