Publicação do Instituto Oswaldo Cruz/Fiocruz - 09/02/2006

 

Qualidade da água na Bacia do Paraná começa a ser monitorada

A experiência bem sucedida do Instituto Oswaldo Cruz (IOC) para monitorar a qualidade da água em rios do estado do Rio de Janeiro vai render frutos também no Paraná. O projeto, que conta com a participação voluntária de moradores locais, será instalado em três microbacias em uma parceria com a Itaipu Binacional.

O programa tem como diferencial combinar técnicas de análise tradicionais ao chamado biomonitoramento, que consiste na observação de indicadores naturais para aferir as condições de qualidade da água. A esta abordagem científica inovadora está aliado um esforço de cidadania, através da participação de voluntários que são capacitados para realizar a rotina de monitoramento. O biólogo Daniel Buss, pesquisador do Laboratório de Avaliação e Promoção da Saúde Ambiental do IOC e coordenador do projeto, conta que a primeira experiência foi implantada em 2001 no município de Guapimirim, no estado do Rio de Janeiro. Desde então, o projeto foi desenvolvido em Nova Friburgo, Paracambi, Mendes e Paulo de Frontin, no estado do Rio de Janeiro, e no município de Santa Maria de Jetibá, no Espírito Santo, chegando agora à bacia do rio Paraná.

O biomonitoramento é realizado por voluntários a partir da análise de fauna
coletada, durante realização do projeto em Santa Maria do Jetibá (ES)
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O pesquisador explica que o monitoramento é realizado por um método integrado, que inclui contempla três dimensões. “São realizadas análises físico-químicas e bacteriológicas”, o pesquisador apresenta. “Esta é a forma mais tradicional de coleta de dados, que resulta em padrões uniformizados internacionalmente. Este tipo de análise funciona como uma fotografia do rio em um determinado momento, mas não reflete sua renovação constante.” Outra forma de avaliação tem base em parâmetros ecológicos, como a observação do volume de vegetação. “A terceira dimensão é o biomonitoramento”, o biólogo sintetiza. “Através da observação da fauna, que está presente no rio 24 horas por dia, temos a vantagem de alcançar um tipo de análise mais sensível para refletir possíveis impactos ambientais ocorridos antes das medições.”

O biomonitoramento pode ser realizado desde a escala celular até a escala ecossistêmica. Para o projeto, foi escolhido o biomonitoramento com base no grupo de macroinvertebrados bentônicos, que inclui insetos, moluscos e crustáceos. Por habitarem o leito dos rios, eles possuem menor mobilidade do que a fauna de peixes, por exemplo, sendo por isso indicadores mais fiéis da qualidade da água em uma determinada localidade. Além disso, o custo de coleta é mais acessível.

A técnica de biomonitoramento empregada teve base em um levantamento inicial minucioso da fauna que habita os rios de água doce. Este protocolo foi criado com base em análises realizadas em Guapimirim. Como cerca de 45% do território do município é constituído por áreas de preservação ambiental, os dados ali coletados puderam ser utilizados como referência para uma situação de alta qualidade da água. “Além disso”, o biólogo completa, “aquela é uma região que apresenta ampla diversidade, já que alimenta uma série de manguezais. A partir desta listagem de bioindicadores podemos fazer adaptações para atender as especificidades de diferentes locais.”

Voluntários do projeto em Paracambi
realizam análises físicoquímicas da água.

Para a aplicação do projeto na bacia do rio Paraná foi necessário observar a composição da fauna local e, a partir destes dados, definir os critérios científicos de biomonitoramento aplicáveis à região. Esta etapa está em fase de conclusão e, em seguida, a equipe de voluntários será capacitada em um curso teórico e prático com carga de 60 horas. Durante o trabalho de monitoramento, os voluntários serão separados em grupos de quatro pessoas, que seguirão um cronograma de coletas em locais determinados e de análise de dados, que são consolidados em uma base única. Um aspecto interessante do trabalho voluntário, segundo o biólogo, é aproveitar os conhecimentos intuitivos dos moradores locais sobre a natureza que o circunda.

A Itaipu Binacional está confiante quanto aos resultados do projeto. “A nossa grande meta é ampliar o projeto para as outras 26 microbacias que compõem a bacia do rio Paraná”, antecipa a bióloga Simone Benassi, coordenadora do projeto junto à Itaipu Binacional. “A expectativa é de que no futuro possamos utilizar os dados e levantamentos feitos pelo voluntariado como diagnóstico para propor melhorias, a fim de criar ações que possam melhorar a qualidade de vida da região e a qualidade da água que chega ao reservatório de Itaipu.” A princípio, o projeto será instalado nas microbacias de Xaxim, Sabiá e Ajuricaba.

Por Raquel Aguiar